Retenção de placenta em vacas: o que é e como proceder
Postado em: 23/10/2019 | 6 min de leitura
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A retenção de placenta é uma falha na eliminação das membranas fetais após a expulsão do feto, em decorrência da inabilidade de separação da conexão materno-fetal. A condição ocorre quando as membranas fetais não são expelidas durante as primeiras 12 horas após o parto.
Os estágios fisiológicos normais do nascimento durante o parto incluem a dilatação do canal da parturiente, a saída do feto e a expulsão das membranas fetais.
Em condições normais, as membranas fetais são geralmente expelidas dentro de duas a oito horas após o parto. Qualquer retenção de membranas fetais além de 12 horas após o parto pode ser considerada patológica.
Quando o quadro se instala, a placenta permanece retida em torno de sete dias.
Como ocorre a retenção da placenta
Os estágios fisiológicos normais do nascimento durante o parto incluem a dilatação do canal da parturiente, a saída do feto e a expulsão das membranas fetais.
Em condições normais, as membranas fetais são geralmente expelidas dentro de duas a oito horas após o parto. Qualquer retenção de membranas fetais além de 12 horas após o parto pode ser considerada patológica.
Quando o quadro se instala, a placenta permanece retida em torno de sete dias.
Como ocorre a retenção da placenta
É importante entender como é a placenta bovina e como ela é normalmente expelida para compreender a principal causa da retenção.
A placenta bovina possui tanto o endométrio uterino preservado como a parte fetal também íntegra. A ligação entre esses dois tecidos é bastante forte. Essa ligação ocorre na região da carúncula, que é a parte materna que sofre uma modificação no endométrio, e dos cotilédones, que são regiões específicas da placenta, que formarão interdigitações, como você pode ver na figura abaixo:
A estrutura formada pela junção entre a parte materna e a parte fetal forma o placentoma. Na fase final da gestação, ocorre a maturação da placenta, que é importante para sua expulsão após o parto.
Durante a fase final da gestação, ocorre um aumento do cortisol fetal, devido à maturação do feto. Esse cortisol faz com que um tipo específico de células presentes na parte fetal da placenta migre para a parte materna da placenta. Essas células são chamadas de células binucleadas. Essas células secretam prostaglandina, que fazem a regressão do corpo lúteo.
Assim, na fase final da gestação, quando a progesterona está alta, a presença da prostaglandina levará à regressão do corpo lúteo que, por sua vez, leva à redução da concentração plasmática de progesterona. Com isso, começa a se elevar a concentração de estrógeno. Isso desencadeia o início das contrações uterinas.
À medida que cai a concentração plasmática de progesterona e aumenta a de estrógeno, começa a ocorrer a expressão de antígenos MHC classe I nas criptas placentárias pelas células binucleadas.
Com a expressão desses antígenos, o sistema imunológico da mãe entende que o tecido da placenta é um corpo estranho, dando início a um processo de rejeição.
Assim, é essencial que o sistema imunológico da vaca esteja funcionando perfeitamente para que a placenta seja expulsa de forma correta.
Principais causas
Para que o sistema imune funcione adequadamente, é necessário que a vaca tenha cortisol em um nível fisiológico. Assim, qualquer alteração no nível de cortisol, ou seja, qualquer fator estressante que aumente o nível de cortisol reduzirá a capacidade de resposta imune dessa vaca.
Os principais causadores da retenção de placenta, são os fatores estressantes como: deficiência nutricional, falha de manejo, distúrbios endócrinos, duração anormal de gestação, deficiências imunológicas e fatores ambientais estressantes.
É por isso que o estresse é o grande causador de retenção de placenta.
No entanto, a causa exata da retenção de placenta não é totalmente compreendida, sendo a hipótese acima uma das mais aceitas.
Tratamento
Um dos maiores erros é não tratar a causa da retenção de placenta. Assim, caso haja uma vaca com retenção de placenta no rebanho, é essencial que se detecte a causa para que se evite que o mesmo ocorra com os outros animais.
Quando a vaca já está com retenção de placenta, uma das recomendações é cortar os restos placentários e fazer uma higienização local. Além disso, deve-se tentar combater uma proliferação bacteriana, sendo indicado uma antibioticoterapia sistêmica.
Deve-se também fazer o controle dos parâmetros fisiológicos, através do uso de soro glicosado, cálcio e, se for o caso, uso de medicamentos para febre e dor, para proporcionar maior conforto ao animal.
Atente-se ao fato de que não existe uma forma efetiva de acelerar o processo de expulsão da placenta. As tentativas feitas nesse sentido até agora não foram bem sucedidas. Assim, a opção é tratar a vaca, conforme descrito acima. Para a placenta ser expulsa, a única forma é ela terminar o processo de necrose e degeneração para de depois ocorra a expulsão.
Os estudos mostram que o tratamento da retenção de placenta em si, seja sistêmico, seja intrauterino ou remoção de placenta não traz resultados satisfatórios. Assim, deve-se sempre tratar a vaca para que ela tenha melhor capacidade de controlar esse processo.
Ocitocina e prostaglandina
A ocitocina e a prostaglandina são hormônios que desempenham um papel na contração uterina e podem ser eficazes no tratamento do retenção de placenta devido à atonia uterina. No entanto, pensa-se que a atonia uterina é responsável por uma percentagem muito pequena de casos de retenção de placenta e muitos estudos não apoiaram a sua utilização como tratamento geral.
A ocitocina tem sido citada há muito tempo como eficaz para expulsar a placenta após o parto. Há outras vantagens no uso da ocitocina após o parto, mas seu uso não reduz a incidência de retenção de placenta.
A ocitocina já é secretada por vacas normais no parto e ajuda as contrações uterinas e a expulsão da placenta que está totalmente separada. A contração do útero ajuda a controlar o sangramento dos vários locais que podem ter sido traumatizados durante o parto. Porém, se a placenta não estiver devidamente descolada, a ocitocina não irá acelerar a sua saída.
Remoção manual da placenta pode ser feita?
Nunca se deve remover manualmente a placenta. A remoção manual pode resultar em infecções uterinas mais frequentes e graves, quando comparado com o tratamento mais conservador.
Estudos constataram que a remoção manual prolongou o intervalo entre partos. Além disso, bactérias patogênicas intra-uterinas foram encontradas em 3 semanas em 100% das vacas com a placenta removida manualmente em comparação com 37% das vacas não tratadas no pós-parto.
Embora as evidências científicas não apoiem a remoção manual como um tratamento eficaz para a retenção de placenta, ela ainda é comumente praticada.
Manejo recomendado
Em fazendas que tem um bom monitoramento de pós-parto, o recomendado é fazer um tratamento seletivo de vacas que apresentam sinais como febre e perda de apetite. Assim, somente seriam tratadas as vacas com retenção de placenta que apresentam esse quadro.
Porém, não são todas as fazendas que conseguem fazer esse tratamento seletivo. Nesses casos, se detectada a retenção de placenta, a recomendação é fazer a antibioticoterapia sistêmica.
Controle
A melhor forma de controle é a prevenção. Isso pode ser feito através da implantação de programas nutricionais e de saúde, além do manejo das vacas em transição, buscando melhorar a competência imunológica da vaca e evitar o estresse.
Além disso, as medidas de higiene e as técnicas durante a assistência ao parto precisam ser feitas de forma correta, para que não ocorra uma maior contaminação.
O local onde o parto vai ocorrer também precisa ser cuidado. É necessário que tenha boas condições de higiene, áreas secas com boa cobertura vegetal, boa drenagem, sombra de qualidade. Isso porque muitos estudos mostram um relação entre a falta de uma boa condição ambiente o pré-parto com os distúrbios no pós-parto.
Consequências da retenção de placenta
A retenção de placenta compromete o desempenho reprodutivo das vacas leiteiras, uma vez que, atrasa tanto o processo de involução uterina quanto o reinício da atividade ovariana no pós-parto. Pode aumentar a ocorrência das infecções uterinas, sendo esta a razão principal da baixa fertilidade de vacas leiteiras acometidas por esta patologia.
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