Uso de bagaço de cana-de-açúcar para bovinos de corte

Postado em: 28/11/2019 | 5 min de leitura Escrito por:
O bagaço da cana-de-açúcar é o principal subproduto da indústria da cana-de-açúcar. Com um rendimento de 30%/ tonelada de cana-de-açucar o bagaço é produzido a partir da industria de açúcar e etanol. 

Além do aspecto custo, a utilização deste subproduto para a alimentação de ruminantes atende às atuais demandas de mercado à medida em que proporciona adequado destino aos materiais remanescentes da indústria, deixando de serem poluentes ao meio ambiente. Por outro lado, sua utilização permite a intensificação do sistema de produção de ruminantes, aumentando a produtividade e diminuindo a pressão para aumento de áreas de pastagens. No entanto, o bagaço da cana-de-açúcar é considerado como de baixo valor nutritivo, o que limita sua utilização na alimentação animal.

O bagaço in natura é obtido após a moagem da cana-de-açúcar e extração dos açúcares (principalmente sacarose), tendo como resultado um resíduo rico em parede celular com reduzida digestibilidade, proteína bruta, carboidratos de reserva e energia (tabela I). A partir desta tabela verifica-se que o bagaço in natura não apresenta potencial nutritivo para ser utilizado em grandes proporções na dieta de ruminantes quando se visa desempenho animal de moderado a alto.

O baixo valor nutritivo do bagaço de cana-de-açúcar pode ser atribuído à composição químico-bromatológica da cana-de-açúcar, diferenças nutricionais entre as variedades de cana-de-açúcar, condições climáticas, manejo e condições de cultivo, idade e número de cortes da cana-de-açúcar, e com as etapas que envolvem o processamento da cana-de-açúcar junto à indústria.

A extração dos açúcares é realizada por meio de moendas ou difusores. No método de moendas, a extração é realizada pela passagem da cana-de-açúcar entre dois rolos, resultando em uma porção de volume de caldo e outra de bagaço. Já no método de difusão, aproveitam-se etapas do método convencional, sendo a extração da sacarose realizada por um processo de lavagem repetitiva utilizando água.
A utilização de moendas proporciona extração de 90% a 93% do total de açúcares, enquanto a utilização de difusores extrai entre 96% a 98% do total de sacarose. Como resultado destes processos, o bagaço produzido é de reduzida densidade (tabela I), o que pode determinar restrições de ordem logística (transporte) e de custo, sendo sua utilização na alimentação animal facilitada em regiões próximas às indústrias sucroalcooleiras.



A utilização do bagaço in natura na dieta de bovinos foi testada em diversos estudos, incluindo um de 2008, que avaliou dietas com bagaço tratado por pressão e vapor associado ao bagaço in natura (5% da matéria seca da dieta) obtido pelo método convencional e, três níveis de bagaço in natura (5, 10 e 15% da matéria seca da dieta) obtido pelo método de difusão.

Estes pesquisadores verificaram que o bagaço in natura obtido pelo método convencional proporcionou às dietas menor teor de fibra em detergente neutro e maior teor de proteína bruta, resultando em maior consumo de nutrientes em relação às dietas contendo bagaço in natura obtido pelo método de difusão. Apesar disso, não foi verificada diferença para a digestibilidade aparente das dietas e desempenho produtivo dos animais alimentados com o bagaço in natura obtido pelos dois processos de extração de açúcar da cana-de-açúcar.

Vale lembrar que o bagaço de cana-de-açúcar pode ser definido como fonte de fibra íntegra, já que, de forma geral, é composto basicamente por componentes da parede celular. O bagaço de cana de açúcar apresenta em torno de 32-44% de celulose, 27- 32% de hemicelulose e 19-24% de lignina. Na prática, esta característica se torna importante para formulação de dietas com elevadas proporções de concentrado.

O grande mérito da utilização do bagaço in natura da cana-de-açúcar neste tipo de dieta é incentivar a atividade de ruminação e, por consequência, manter condições favoráveis do ambiente ruminal para digestão dos alimentos.

Levando em consideração as características nutricionais do bagaço in natura, deve-se ficar claro que sua utilização não deve ser encarada como opção para substituição integral de volumosos tradicionais como a silagem de milho ou sorgo. A inclusão desse subproduto em dietas para ruminantes deve ser encarada como alternativa para redução de custos, através da substituição parcial destes volumosos em dietas com baixas proporções de concentrado e/ou como fonte de fibra de baixo custo em dietas com elevados teores de grãos para o período de terminação.

Na tabela II são apresentados os resultados obtidos em uma pesquisa que verificou que este subproduto pode contribuir com elevado desempenho de tourinhos quando utilizado em pequenas quantidades na dieta. A inviabilidade do uso do bagaço in natura da cana-de-açúcar em elevadas proporções em dietas para ruminantes ocorre em razão de seu alto teor em fibra, baixo teor de proteína (inferior a 2% na matéria seca) e alto teor de lignina, que determinam baixa digestibilidade (25 a 35%), associados a outros fatores não menos importantes como a baixa densidade e os baixos teores de minerais, que levam a redução do consumo e desempenho animal.



No que se refere ao nível de inclusão do bagaço in natura na dieta de bovinos, pesquisadores verificaram que o aumento do nível (15, 21 e 27% da matéria seca) de bagaço in natura na dieta novilhos reduziu o consumo de matéria seca, mas não alterou o desempenho animal. Uma meta-análise verificou que a estimativa máxima do consumo de matéria seca ocorreu para dietas com 19% de bagaço (base na matéria seca), enquanto o desempenho animal máximo ocorreu em dietas com 17% de bagaço (base na matéria seca). Segundo estes pesquisadores, em dietas com baixos níveis de bagaço in natura, ou seja, altos níveis de concentrado, o excesso de energia limita o consumo de alimento e o desempenho animal.

A partir dos resultados apresentados é possível inferir que o bagaço da cana-de-açúcar se apresenta como excelente fonte de fibra para dietas com elevada proporção de concentrado, podendo compor entre 10 e 20% da matéria seca das dietas sem grandes prejuízos sobre o desempenho animal.

A utilização deste co-produto deve estar associada à quantidade de concentrado que possibilite a complementação dos nutrientes da dieta, de forma a atender as exigências nutricionais dos animais. Tal consideração evidencia a necessidade de se conhecer a composição química destes subprodutos, assim como, da adequada formulação das dietas.

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Fonte consultada:

Tratamento do bagaço de cana-de-açúcar para alimentação de ruminantes, Missio, R.L., em Arch. Zootec. 65 (250): 267-278. 2016. (encurtador.com.br/awUW6) 


 

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