Como o comportamento do animal pode ser um indicativo de carne de melhor qualidade?

Postado em: 26/12/2019 | 4 min de leitura Escrito por:
Os bovinos são indivíduos que interagem com o meio onde vivem. Isso reflete em seu temperamento e em seu comportamento. O animal, durante o manejo, pode sentir medo, ansiedade, ficar apreensivo, o que são características de indivíduos que se relacionam com o meio.

Dessa forma, o acompanhamento do comportamento animal é uma questão muito importante para lidar com os fatores estressantes que possam estar afetando esses animais. Isso porque, o manejo incorreto pode causar grandes danos à qualidade da carne.

O glicogênio muscular é o substrato principal responsável pela formação de ácido lático na fase pós abate. Presente em níveis adequados, é o indutor da queda de pH muscular e do desenvolvimento das características físicas e químicas responsáveis pela qualidade da carne, seguindo os padrões normais. Embora o nível de glicogênio varie de acordo com o músculo, a espécie, e o nível nutricional do animal, a maior ou menor quantidade do mesmo é devida principalmente ao nível de estresse pré-abate a que o animal foi submetido.

Dessa forma, o temperamento animal é avaliado durante o manejo de estresse na fazenda e pode ser utilizado como indicador para desempenho zootécnico e qualidade da carne, pois representa quanto o animal está suscetível ao estresse.

Infelizmente, essa medida é subestimada na pecuária. Contudo, os produtores que já observam e consideram o temperamento animal têm obtido vantagem no sistema de produção, pois já observaram que existe uma convergência entre bem-estar animal, produtividade e retorno econômico.

Um dos momentos de maior estresse na fazenda é no manejo, quando há interação do homem com o animal. Nesse momento, o comportamento do animal é totalmente previsível, mas como poucos conhecem a biologia do animal, o manejo, muitas vezes, torna-se difícil para o tratador e estressante para o animal.

Movendo o animal

Ao mover o animal, deve-se explorar sua zona de fuga e utilizar os movimentos adequados. Observe a figura abaixo:



A zona de fuga é a distância mínima do humano que o animal julga como segura. Já o ponto de equilíbrio é uma linha imaginária que se deve ser utilizada como referência para conduzir esse animal.

Nessa figura, observa-se que pode-se abordar o animal pela parte frontal do ponto de equilíbrio, quando o animal se moverá para trás. Se o abordarmos por trás, por sua vez, ele se moverá para frente. É importante ressaltar que, em ambos os casos, a pessoa deve estar visível ao animal, o que fará com que o animal procure o manejador e se distraia, não fazendo o movimento desejado.

Isso é feito, muitas vezes, de forma errada, justamente pelo desconhecimento do comportamento animal, gerando estresse desnecessário.



Nesta outra figura, vemos o posicionamento do manejador para que o bovino se desloque de forma desejada no brete. O manejador deve entrar na zona de fuga e ficar no início do brete, à frente do primeiro animal. Então, ele pode se movimentar passando da posição 1 para a 2, passando do ponto de equilíbrio de cada animal para estimular que avancem. Quando chegar ao fim do brete, o manejador deve sair da zona de fuga (posição 3) e retornar à posição inicial.

Ao adotar essas técnicas, é possível manejar o animal sem o uso de ferrões, gritos e agressões que aumentam o estresse do animal e, consequentemente, mobilizam suas reservas de glicogênio que são tão valiosas durante a conversão do músculo em carne.

Medindo o temperamento animal

Uma das formas de medir o temperamento animal é avaliar a velocidade de fuga, ou seja, medir a velocidade com que o animal deixa o brete ou a balança após o manejo, utilizando sensor de movimento. Nessa técnica, os animais com maior velocidade apresentam o maior nível de estresse.

Outra técnica para medir o temperamento do animal é o escore de tronco, também utilizado como indicador para estresse animal. Nesta técnica, os animais que apresentam comportamento mais aversivo ao manejo, com maior movimentação, vocalização, luta e agressividade recebem as maiores notas e, portanto, maiores níveis de estresse são detectados nessas situações.

Outra técnica também muito útil para medir o temperamento do animal é explorar sua distância de fuga. Os animais possuem distância de fuga diferentes, com alguns permitindo uma maior aproximação dos humanos do que outros. Isso pode ser medido e retrata bem o temperamento do animal. Os animais que permitem maior aproximação são menos reativos e recebem menores notas.



Recomendações práticas

- Seleção para comportamento e desempenho: deve-se descartar os animais mais reativo, mantendo aqueles com melhor temperamento, o que garantirá a manutenção de animais com melhores índices produtivos e maior potencial para qualidade da carne;

- Familiarizar o animal com manejo e contato humano, fazendo com que a interação entre animal e humano seja mais frequente e positiva;

- Sempre fazer manejo silencioso e eficiente, evitando excesso de pessoas, cães, assobios e outros fatores estressantes ao animal.

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Fonte consultada:

Efeitos do estresse pré abate na qualidade da carne (https://www.beefpoint.com.br/efeitos-do-estresse-pre-abate-na-qualidade-da-carne-4958/)

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