Estação de monta em gado de corte, a hora é agora!
Postado em: 06/12/2019 | 11 min de leitura
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Dentre as tradicionais fases do sistema de produção de gado de corte, cria, recria e engorda, a cria é a que demanda mais cuidado. Atenção especial é requerida nesta fase tanto para o manejo reprodutivo, em si, quanto para os cuidados durante a parição e aleitamento. É justamente durante a fase de cria que ocorre a maior proporção de perdas por falhas na reprodução e/ou, posteriormente, por problemas de mortalidade dos bezerros nascidos.
Assim sendo, fertilidade e viabilidade dos produtos são as características mais importantes a serem trabalhadas em qualquer rebanho. Elevadas taxas de fertilidade e progênies saudáveis são condições essenciais que determinam a eficiência econômica do sistema de produção proporcionando, cada vez mais, garantia de retorno dos investimentos em genética superior.
A reprodução, no entanto, é uma função biológica nobre e exigente em energia, cujo sucesso requer dos touros e, especialmente, das matrizes, condições corporais adequadas, resultantes de boa nutrição e saúde. Os bovinos são poliéstricos anuais, ou seja, manifestam cio ao longo de todo o ano. No entanto, podem entrar em fase de anestro (ausência de cio), ao perderem peso e condição corporal, em virtude de escassez de alimento. Assim sendo, a época mais indicada para a reprodução, seja por meio de monta natural ou por inseminação artificial, coincide com o período de primavera e verão, quando se observa boa disponibilidade de forragem em quantidade e qualidade.
A estação de monta, neste contexto, é uma técnica de manejo que, embora muito simples, pode proporcionar elevadas taxas de fertilidade das matrizes e de viabilidade das progênies, desde que estabelecida de forma estratégica. O primeiro impacto desta prática é proporcionar ao criador o conhecimento da real situação reprodutiva, essencial para o planejamento da substituição e descarte de matrizes que, nas mesmas condições das demais, não emprenharam durante a estação de reprodução.
O objetivo principal da estação de monta é aumentar a eficiência reprodutiva. O segredo desta condição está na palavra sincronismo. O que a estação de monta pretende é sincronizar o período de maior requerimento nutricional das vacas, que é o período de lactação, com a época do ano de maior disponibilidade de forragens, ou seja, a época das chuvas. Com isto pode-se conseguir melhores índices reprodutivos, pois é na fase de lactação que deve haver fornecimento de nutrientes de forma suficiente para outra atividade, a reprodutiva
Como rotina básica de manejo, tendo em vista o aumento da produtividade do rebanho, esta técnica pode proporcionar aumento da margem bruta de até 31% de modo que no contexto dos sistemas de cria dificilmente se terá disponível uma tecnologia que, sem a necessidade de qualquer investimento para a sua aplicação, seja capaz de promover tal impacto.
Como começar
O passo inicial para a definição de uma estação de monta envolve a análise dos fatores de clima da região, procurando-se conciliar épocas do ano que possam proporcionar os maiores índices de prenhez das matrizes e as melhores condições para a criação das progênies.
Tendo em vista as diferenças entre regiões quanto ao início da estação chuvosa recomenda-se que a estação de monta seja estabelecida logo após um acúmulo de precipitação pluviométrica de oitenta a cem milímetros, no início da estação chuvosa, o que permite uma expressiva recuperação das pastagens após o período seco. Caso, no entanto, as matrizes estejam em boas condições corporais, este cuidado pode ser dispensado.
A duração da estação de monta é outro aspecto que deve ser analisado cuidadosamente, em função das características ambientais, da natureza da exploração pecuária e da escala do empreendimento, considerando-se o total de matrizes e as dimensões das áreas de pastagens da propriedade. A duração recomendada é de três meses, podendo ser estendida, dependendo das condições de cada fazenda.
Salienta-se, no entanto, que quanto mais próximo dos 90 dias de duração, maiores serão os benefícios da estação de monta decorrentes da maior concentração de nascimentos. Para isto, faz-se necessária uma gestão cuidadosa da propriedade, a fim de se proporcionar às matrizes as condições nutricionais adequadas.
Vantagens
- Aumento da taxa de prenhez: ao se estabelecer um período restrito adequado para a reprodução, aumenta-se a taxa de prenhez, pelo trabalho com matrizes de melhores condições corporais, proporcionando-se também descanso aos reprodutores;
- Melhora do manejo do rebanho: com a concentração de nascimentos, todo o manejo do rebanho, em geral, é facilitado, desde os cuidados com os bezerros ao nascimento, passando pelas práticas de vacinações, aplicação de vermífugo, desmama, marcação, recria, castração, engorda e planejamento da comercialização, com a formação de lotes mais homogêneos;
- Formação de grupos mais uniformes: em plantéis de seleção, a estação de monta, além destes benefícios, proporciona a formação de grupos contemporâneos mais robustos e submetidos à criação em condições mais uniformes, fatores que contribuem significativamente para a precisão das estimativas dos valores genéticos dos animais;
- Permite maior conhecimento sobre matrizes e reprodutores: com a implantação das rotinas de avaliação pré e pós-estação de monta, o criador passa a conhecer melhor as matrizes e os reprodutores. Desta forma, podem ser tomadas decisões mais objetivas quanto à manutenção ou descarte destes animais;;
- Elimina necessidade de reserva de forragem: quando a estação de monta coincide com o período de boa oferta de pastagem, não há necessidade de reserva de forragem ou trato especial para as vacas, como ocorre para o caso de estações em períodos alternativos;
- A maior parte dos nascimentos ocorre no período seco (julho a dezembro), favorecendo a
criação de bezerros saudáveis;
- A lactação ocorre em boas condições de pastagens, proporcionando às matrizes condição
corporal e nutricional adequada para a produção de leite e, consequentemente, desmama dos bezerros com elevados pesos corporais;
- A retomada do ciclo reprodutivo no pós-parto é favorecida pela boa condição corporal e nutricional das matrizes;
- A desmama dos produtos é feita no início da seca, poupando-se as vacas da amamentação durante esta estação crítica;
- Aumento da pressão de seleção sobre as fêmeas. Aquelas com problemas de precocidade e fertilidade têm menores chances de se manter no plantel. Os animais que não ficam gestantes no prazo definido devem ser eliminados.
- O descarte programado de fêmeas após a desmama, para abril a junho, proporciona alívio da pressão de pastejo durante a época seca.
Cuidados necessários
Para se conseguir um bom desempenho ao se programar e manter a estação de monta deve-se cuidar dos principais eventos:
1- Atender aos requerimentos nutricionais das vacas. Principalmente os animais com bezerros ao pé. Durante o período de lactação o animal ingere cerca de 70% dos nutrientes consumidos durante o ano. Isso é importante para que consiga desmamar um bezerro de qualidade e principalmente ficar gestante novamente dentro dos limites estabelecidos (estação) para parir em períodos adequados no próximo ano a nutrição, que é o aspecto mais importante. As vacas devem parir em boa condição corporal para que manifestem cio rápido após o parto.
2- Garantir boa fertilidade. Isto está relacionado também aos touros e/ou sêmen. Pode-se colocar toda a estação a perder quando não se faz exame andrológico prévio dos touros ou análise do sêmen a ser utilizado. A qualidade da nutrição pós-parto está diretamente relacionada à fertilidade das fêmeas. Além de maior demanda nutricional devido à lactação existe a demanda para os eventos reprodutivos. Em fêmeas com sangue de raças taurinas deve-se considerar os efeitos do ambiente. Nestas raças a possibilidade de estresse térmico neste período é possível, e pode influenciar negativamente a taxa de gestação.
3- Permitir a produção de bezerros de qualidade. Em períodos de muita chuva cuidados adicionais devem ser tomados com os bezerros, principalmente relacionados à ingestão de quantidades adequadas de colostro. Não é incomum o aparecimento de diarreia e outros problemas sanitários em bezerros que nascem em períodos de muita precipitação pluviométrica. Além disto, a boa nutrição das matrizes deve permitir a produção adequada de leite. Quando os animais iniciarem a ingestão de forragens, o pasto deve fornecer alimento em quantidade e qualidade. A adoção de técnica de “creep feeding” pode auxiliar e muito no desenvolvimento dos bezerros e no aspecto reprodutivo das vacas.
4- Adequação do período do ano e duração. A programação deve ser feita para que as parições ocorram a partir do início do aumento da disponibilidade de forragens na região em questão. Em boa parte do território nacional isto coincide com o início do período chuvoso. A duração da estação deve ser suficiente para que pelo menos 90% das vacas sejam servidas por um touro ou sêmen, ou seja, tenham tempo de manifestar pelo menos um cio após o parto.
5- Cobrir o maior número de vacas no início da estação. Isto é importante, pois estas vacas vão parir no início da estação de parição e terão consequentemente mais tempo para ficarem gestantes na estação de cobertura seguinte. Quanto mais tarde uma vaca fica gestante, mais ao final da estação de parição ela vai parir e menos tempo terá para ficar gestante, tendo maior risco de ser eliminada.
Transição entre regimes de estação de monta
A transição entre um regime de monta natural durante todo o ano, para uma estação de monta definida deve ser feita de forma progressiva, não drástica, para evitar perdas de produtividade.
A mudança passa, necessariamente, pelo conhecimento prévio da condição reprodutiva das matrizes, podendo ser feita pela aplicação de duas estratégias, como descritas a seguir.
1. Em um trabalho que deverá ser feito no mês de setembro, o rebanho de matrizes deverá ser apartado em dois lotes, envolvendo, respectivamente, vacas paridas no ano anterior entre julho e dezembro (Lote A) e de janeiro a junho (Lote B). Enquanto, no lote A, os touros devem ser mantidos com as matrizes durante a época preconizada - outubro a março, no lote B eles permanecem no rebanho durante o ano todo.
A partir do ano seguinte, matrizes vazias e aquelas paridas de julho a dezembro, no lote B, devem ser transferidas para o lote A. As reposições com novilhas devem ser feitas apenas no lote A, concentrando-se os descartes de vacas no lote B. Assim sendo, em três anos ou pouco mais, o rebanho B estará totalmente incorporado ao A, ou seja, na estação de monta desejável, de outubro a março.
2. Na segunda estratégia, partindo-se de um rebanho que realiza monta o ano todo, deve-se realizar a retirada dos touros no final do mês de maio, retornando-os ao rebanho de cria no início do mês de setembro. Assim, neste primeiro ano, as vacas ficarão três meses sem touros (junho, julho e agosto), com uma estação de monta de nove meses (setembro a maio). A partir do segundo ano, deve-se encurtar a estação em um mês em cada ponta, ou seja, excluindo-se os meses de maio e setembro.
Desta forma, no segundo ano, os touros ficariam desde o início de outubro até o final de abril, numa estação de sete meses. A partir do terceiro ano, eliminando-se o mês de abril, a propriedade estará com uma estação de monta de seis meses. A partir deste ponto deve ser feito um trabalho gradativo de diminuição desse período, até ser atingida a duração ideal de 90 dias.
As novilhas merecem atenção especial nesta programação. Não enquanto novilhas, mas quando se tornam primíparas. Como as primíparas geralmente necessitam de um tempo maior para retornarem à atividade reprodutiva pós-parto, geralmente a estação de cobertura destas é antecipada em um mês. Assim vão parir em média um mês antes das vacas, tendo este tempo a mais para ficarem gestantes.
Um problema descrito para esta programação das novilhas é que ao antecipar a cobertura, algumas podem parir muito cedo, ainda num período com baixa disponibilidade de forragens, prejudicando ainda mais seu desempenho. Duas são as alternativas para se evitar este problema. Iniciar a estação das novilhas junto com as vacas e terminar um mês antes, ou fazer uma estação da mesma duração, antecipada em um mês e programar uma possível suplementação para os animais que porventura parirem em períodos onde a pastagem ainda não está adequada.
Posteriormente, em qualquer das estratégias aplicadas, para redução da estação de monta, recomenda-se eliminar os meses no sentido do final (março) para o início, de forma a diminuir a frequência de partos durante a época chuvosa com o cuidado de se aplicar o corte, gradativamente, de 15 dias por ano. Encurtar a estação de monta em mais de 15 dias no mesmo ano pode comprometer o índice de prenhez, não sendo esta uma prática recomendável.
Considerações finais
Por fim, deve-se sempre ter em mente que não há uma solução que funcione para todas as fazendas. Existe uma gama de condições de criação no Brasil que definitivamente não permite o uso de fórmulas pré-fabricadas. O bom senso e conhecimento técnico são os principais ingredientes para se construir uma receita de sucesso. Todo procedimento, antes de implantado, deve passar por um estudo detalhado da relação custo-benefício, considerando todos os aspectos possíveis e as condições da propriedade onde será utilizado.
Se você quiser saber mais sobre manejo reprodutivo na pecuária de corte, acesse o conteúdo completo do curso Manejo reprodutivo de vacas de corte: uso da IATF para maximizar a produção de bezerros.
Neste curso, a Dra. Roberta Ferreira Saran, pesquisadora e consultora em reprodução animal, ensina como melhorar a quantidade e qualidade de bezerros produzidos através da utilização de técnicas reprodutivas avançadas, mostrando também o impacto financeiro da reprodução na cadeia produtiva da carne, bem como a viabilidade econômica do emprego dessas biotécnicas.
Assim sendo, fertilidade e viabilidade dos produtos são as características mais importantes a serem trabalhadas em qualquer rebanho. Elevadas taxas de fertilidade e progênies saudáveis são condições essenciais que determinam a eficiência econômica do sistema de produção proporcionando, cada vez mais, garantia de retorno dos investimentos em genética superior.
A reprodução, no entanto, é uma função biológica nobre e exigente em energia, cujo sucesso requer dos touros e, especialmente, das matrizes, condições corporais adequadas, resultantes de boa nutrição e saúde. Os bovinos são poliéstricos anuais, ou seja, manifestam cio ao longo de todo o ano. No entanto, podem entrar em fase de anestro (ausência de cio), ao perderem peso e condição corporal, em virtude de escassez de alimento. Assim sendo, a época mais indicada para a reprodução, seja por meio de monta natural ou por inseminação artificial, coincide com o período de primavera e verão, quando se observa boa disponibilidade de forragem em quantidade e qualidade.
A estação de monta, neste contexto, é uma técnica de manejo que, embora muito simples, pode proporcionar elevadas taxas de fertilidade das matrizes e de viabilidade das progênies, desde que estabelecida de forma estratégica. O primeiro impacto desta prática é proporcionar ao criador o conhecimento da real situação reprodutiva, essencial para o planejamento da substituição e descarte de matrizes que, nas mesmas condições das demais, não emprenharam durante a estação de reprodução.
O objetivo principal da estação de monta é aumentar a eficiência reprodutiva. O segredo desta condição está na palavra sincronismo. O que a estação de monta pretende é sincronizar o período de maior requerimento nutricional das vacas, que é o período de lactação, com a época do ano de maior disponibilidade de forragens, ou seja, a época das chuvas. Com isto pode-se conseguir melhores índices reprodutivos, pois é na fase de lactação que deve haver fornecimento de nutrientes de forma suficiente para outra atividade, a reprodutiva
Como rotina básica de manejo, tendo em vista o aumento da produtividade do rebanho, esta técnica pode proporcionar aumento da margem bruta de até 31% de modo que no contexto dos sistemas de cria dificilmente se terá disponível uma tecnologia que, sem a necessidade de qualquer investimento para a sua aplicação, seja capaz de promover tal impacto.
Como começar
O passo inicial para a definição de uma estação de monta envolve a análise dos fatores de clima da região, procurando-se conciliar épocas do ano que possam proporcionar os maiores índices de prenhez das matrizes e as melhores condições para a criação das progênies.
Tendo em vista as diferenças entre regiões quanto ao início da estação chuvosa recomenda-se que a estação de monta seja estabelecida logo após um acúmulo de precipitação pluviométrica de oitenta a cem milímetros, no início da estação chuvosa, o que permite uma expressiva recuperação das pastagens após o período seco. Caso, no entanto, as matrizes estejam em boas condições corporais, este cuidado pode ser dispensado.
A duração da estação de monta é outro aspecto que deve ser analisado cuidadosamente, em função das características ambientais, da natureza da exploração pecuária e da escala do empreendimento, considerando-se o total de matrizes e as dimensões das áreas de pastagens da propriedade. A duração recomendada é de três meses, podendo ser estendida, dependendo das condições de cada fazenda.
Salienta-se, no entanto, que quanto mais próximo dos 90 dias de duração, maiores serão os benefícios da estação de monta decorrentes da maior concentração de nascimentos. Para isto, faz-se necessária uma gestão cuidadosa da propriedade, a fim de se proporcionar às matrizes as condições nutricionais adequadas.
Vantagens
- Aumento da taxa de prenhez: ao se estabelecer um período restrito adequado para a reprodução, aumenta-se a taxa de prenhez, pelo trabalho com matrizes de melhores condições corporais, proporcionando-se também descanso aos reprodutores;
- Melhora do manejo do rebanho: com a concentração de nascimentos, todo o manejo do rebanho, em geral, é facilitado, desde os cuidados com os bezerros ao nascimento, passando pelas práticas de vacinações, aplicação de vermífugo, desmama, marcação, recria, castração, engorda e planejamento da comercialização, com a formação de lotes mais homogêneos;
- Formação de grupos mais uniformes: em plantéis de seleção, a estação de monta, além destes benefícios, proporciona a formação de grupos contemporâneos mais robustos e submetidos à criação em condições mais uniformes, fatores que contribuem significativamente para a precisão das estimativas dos valores genéticos dos animais;
- Permite maior conhecimento sobre matrizes e reprodutores: com a implantação das rotinas de avaliação pré e pós-estação de monta, o criador passa a conhecer melhor as matrizes e os reprodutores. Desta forma, podem ser tomadas decisões mais objetivas quanto à manutenção ou descarte destes animais;;
- Elimina necessidade de reserva de forragem: quando a estação de monta coincide com o período de boa oferta de pastagem, não há necessidade de reserva de forragem ou trato especial para as vacas, como ocorre para o caso de estações em períodos alternativos;
- A maior parte dos nascimentos ocorre no período seco (julho a dezembro), favorecendo a
criação de bezerros saudáveis;
- A lactação ocorre em boas condições de pastagens, proporcionando às matrizes condição
corporal e nutricional adequada para a produção de leite e, consequentemente, desmama dos bezerros com elevados pesos corporais;
- A retomada do ciclo reprodutivo no pós-parto é favorecida pela boa condição corporal e nutricional das matrizes;
- A desmama dos produtos é feita no início da seca, poupando-se as vacas da amamentação durante esta estação crítica;
- Aumento da pressão de seleção sobre as fêmeas. Aquelas com problemas de precocidade e fertilidade têm menores chances de se manter no plantel. Os animais que não ficam gestantes no prazo definido devem ser eliminados.
- O descarte programado de fêmeas após a desmama, para abril a junho, proporciona alívio da pressão de pastejo durante a época seca.
Cuidados necessários
Para se conseguir um bom desempenho ao se programar e manter a estação de monta deve-se cuidar dos principais eventos:
1- Atender aos requerimentos nutricionais das vacas. Principalmente os animais com bezerros ao pé. Durante o período de lactação o animal ingere cerca de 70% dos nutrientes consumidos durante o ano. Isso é importante para que consiga desmamar um bezerro de qualidade e principalmente ficar gestante novamente dentro dos limites estabelecidos (estação) para parir em períodos adequados no próximo ano a nutrição, que é o aspecto mais importante. As vacas devem parir em boa condição corporal para que manifestem cio rápido após o parto.
2- Garantir boa fertilidade. Isto está relacionado também aos touros e/ou sêmen. Pode-se colocar toda a estação a perder quando não se faz exame andrológico prévio dos touros ou análise do sêmen a ser utilizado. A qualidade da nutrição pós-parto está diretamente relacionada à fertilidade das fêmeas. Além de maior demanda nutricional devido à lactação existe a demanda para os eventos reprodutivos. Em fêmeas com sangue de raças taurinas deve-se considerar os efeitos do ambiente. Nestas raças a possibilidade de estresse térmico neste período é possível, e pode influenciar negativamente a taxa de gestação.
3- Permitir a produção de bezerros de qualidade. Em períodos de muita chuva cuidados adicionais devem ser tomados com os bezerros, principalmente relacionados à ingestão de quantidades adequadas de colostro. Não é incomum o aparecimento de diarreia e outros problemas sanitários em bezerros que nascem em períodos de muita precipitação pluviométrica. Além disto, a boa nutrição das matrizes deve permitir a produção adequada de leite. Quando os animais iniciarem a ingestão de forragens, o pasto deve fornecer alimento em quantidade e qualidade. A adoção de técnica de “creep feeding” pode auxiliar e muito no desenvolvimento dos bezerros e no aspecto reprodutivo das vacas.
4- Adequação do período do ano e duração. A programação deve ser feita para que as parições ocorram a partir do início do aumento da disponibilidade de forragens na região em questão. Em boa parte do território nacional isto coincide com o início do período chuvoso. A duração da estação deve ser suficiente para que pelo menos 90% das vacas sejam servidas por um touro ou sêmen, ou seja, tenham tempo de manifestar pelo menos um cio após o parto.
5- Cobrir o maior número de vacas no início da estação. Isto é importante, pois estas vacas vão parir no início da estação de parição e terão consequentemente mais tempo para ficarem gestantes na estação de cobertura seguinte. Quanto mais tarde uma vaca fica gestante, mais ao final da estação de parição ela vai parir e menos tempo terá para ficar gestante, tendo maior risco de ser eliminada.
Transição entre regimes de estação de monta
A transição entre um regime de monta natural durante todo o ano, para uma estação de monta definida deve ser feita de forma progressiva, não drástica, para evitar perdas de produtividade.
A mudança passa, necessariamente, pelo conhecimento prévio da condição reprodutiva das matrizes, podendo ser feita pela aplicação de duas estratégias, como descritas a seguir.
1. Em um trabalho que deverá ser feito no mês de setembro, o rebanho de matrizes deverá ser apartado em dois lotes, envolvendo, respectivamente, vacas paridas no ano anterior entre julho e dezembro (Lote A) e de janeiro a junho (Lote B). Enquanto, no lote A, os touros devem ser mantidos com as matrizes durante a época preconizada - outubro a março, no lote B eles permanecem no rebanho durante o ano todo.
A partir do ano seguinte, matrizes vazias e aquelas paridas de julho a dezembro, no lote B, devem ser transferidas para o lote A. As reposições com novilhas devem ser feitas apenas no lote A, concentrando-se os descartes de vacas no lote B. Assim sendo, em três anos ou pouco mais, o rebanho B estará totalmente incorporado ao A, ou seja, na estação de monta desejável, de outubro a março.
2. Na segunda estratégia, partindo-se de um rebanho que realiza monta o ano todo, deve-se realizar a retirada dos touros no final do mês de maio, retornando-os ao rebanho de cria no início do mês de setembro. Assim, neste primeiro ano, as vacas ficarão três meses sem touros (junho, julho e agosto), com uma estação de monta de nove meses (setembro a maio). A partir do segundo ano, deve-se encurtar a estação em um mês em cada ponta, ou seja, excluindo-se os meses de maio e setembro.
Desta forma, no segundo ano, os touros ficariam desde o início de outubro até o final de abril, numa estação de sete meses. A partir do terceiro ano, eliminando-se o mês de abril, a propriedade estará com uma estação de monta de seis meses. A partir deste ponto deve ser feito um trabalho gradativo de diminuição desse período, até ser atingida a duração ideal de 90 dias.
As novilhas merecem atenção especial nesta programação. Não enquanto novilhas, mas quando se tornam primíparas. Como as primíparas geralmente necessitam de um tempo maior para retornarem à atividade reprodutiva pós-parto, geralmente a estação de cobertura destas é antecipada em um mês. Assim vão parir em média um mês antes das vacas, tendo este tempo a mais para ficarem gestantes.
Um problema descrito para esta programação das novilhas é que ao antecipar a cobertura, algumas podem parir muito cedo, ainda num período com baixa disponibilidade de forragens, prejudicando ainda mais seu desempenho. Duas são as alternativas para se evitar este problema. Iniciar a estação das novilhas junto com as vacas e terminar um mês antes, ou fazer uma estação da mesma duração, antecipada em um mês e programar uma possível suplementação para os animais que porventura parirem em períodos onde a pastagem ainda não está adequada.
Posteriormente, em qualquer das estratégias aplicadas, para redução da estação de monta, recomenda-se eliminar os meses no sentido do final (março) para o início, de forma a diminuir a frequência de partos durante a época chuvosa com o cuidado de se aplicar o corte, gradativamente, de 15 dias por ano. Encurtar a estação de monta em mais de 15 dias no mesmo ano pode comprometer o índice de prenhez, não sendo esta uma prática recomendável.
Considerações finais
Por fim, deve-se sempre ter em mente que não há uma solução que funcione para todas as fazendas. Existe uma gama de condições de criação no Brasil que definitivamente não permite o uso de fórmulas pré-fabricadas. O bom senso e conhecimento técnico são os principais ingredientes para se construir uma receita de sucesso. Todo procedimento, antes de implantado, deve passar por um estudo detalhado da relação custo-benefício, considerando todos os aspectos possíveis e as condições da propriedade onde será utilizado.
Se você quiser saber mais sobre manejo reprodutivo na pecuária de corte, acesse o conteúdo completo do curso Manejo reprodutivo de vacas de corte: uso da IATF para maximizar a produção de bezerros.
Neste curso, a Dra. Roberta Ferreira Saran, pesquisadora e consultora em reprodução animal, ensina como melhorar a quantidade e qualidade de bezerros produzidos através da utilização de técnicas reprodutivas avançadas, mostrando também o impacto financeiro da reprodução na cadeia produtiva da carne, bem como a viabilidade econômica do emprego dessas biotécnicas.
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Estação de Monta em Rebanhos de Gado de Corte (https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/161736/1/Estacao-de-monta-em-rebanhos.pdf)
Estação de monta em gado de corte. Porque utilizar (https://www.beefpoint.com.br/estacao-de-monta-em-gado-de-corte-porque-utilizar-7361/)