Como o mercado brasileiro está investindo em reprodução de gado de corte?
Postado em: 20/08/2019 | 5 min de leitura
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Antes de se pensar em melhorias reprodutivas do rebanho brasileiro, é muito importante entender qual a situação atual da reprodução de bovinos de corte no Brasil frente a outros países do mundo, pois assim, identifica-se quais são os gargalos atuais e quais são as metas alcançáveis que devem ser traçadas.
Será que o mercado brasileiro tem investido o suficiente em tecnologias da reprodução ou ainda há espaço para muita melhora nesse campo?
O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com cerca de 212 milhões de cabeças, enquanto os EUA possuem 89 milhões de cabeças sendo o terceiro maior rebanho do mundo. No entanto, o Brasil possui o dobro de matrizes: 80 milhões, contra 40 milhões nos EUA, mas produz menos carne, o que reflete uma baixa eficiência produtiva.
No Brasil, são produzidos 45,8 quilos de carne por animal por ano, enquanto nos EUA essa produção é de 133,2 quilos de carne por animal por ano. A baixa produtividade brasileira tem grande influência da baixa eficiência reprodutiva do rebanho.
Outro dado alarmante referente ao Brasil é a quantidade de pasto dedicado à cria. Atualmente, 70% do pasto são dedicados à cria, o que equivale a 120 milhões de hectares. Para recria e engorda, são dedicados 50 milhões de hectares, o que mostra a baixa eficiência na produção de bezerros.
Cerca de 50% dos alimentos necessários para a produção de um quilo de carne são destinados à cria, o que mostra um grande investimento nessa fase que precisa ter um retorno em termos de número de bezerros produzidos.
Atualmente, o Brasil possui uma média de taxa de nascimento de 74%, ou seja, de cada 100 vacas, 74 bezerros são entregues por ano. Isso representa cerca de 21 milhões de vacas sem produzir um bezerro por ano. Considerando que cada vaca ocupa aproximadamente 1 hectare na fazenda, são aproximadamente 21 milhões de hectares com baixa produtividade.
A taxa de desmame é de 68%, ou seja, para cada 100 vacas, 68 bezerros são entregues por ano na fazenda. A maioria dos países que têm alta produtividade possuem uma taxa de desmame de 80% a 90%. Assim, para melhorar a eficiência por hectare é necessário elevar a taxa de desmame. O peso ao desmame no Brasil também é baixo em comparação com outros países (cerca de 170 quilos, enquanto há países que alcançam 230-250 quilos ao desmame).
Por fim, mais um dado que mostra que o investimento em melhorias na produtividade no Brasil é essencial: as novilhas brasileiras estão emprenhando, em média, por volta dos 30 meses de idade. Durante esse período, o animal está consumindo recursos na fazenda sem, no entanto, entregar nada em troca.
Esses números são importantes para que se perceba com clareza onde o país está e onde pode chegar. Obviamente, existem fazendas no país que apresentam ótimo desempenho produtivo e reprodutivo, o que mostra que é possível alcançar a eficiência, mas, ao mesmo tempo, existem fazendas extremamente ineficientes, o que acaba baixando muito a média.
Como melhorar esse cenário?
Algumas mudanças nessas taxas gerariam impactos enormes:
- Aumentar taxa de nascimento em 10%
Se o país conseguir aumentar a taxa de nascimento em 10%, será possível entregar ao ano mais de 7,4 milhões de bezerros a mais, produzindo 1,7 milhão de toneladas a mais por ano, podendo ultrapassar os EUA em produção de carne.
- Aumentar taxa de desmame e peso ao desmame
Se a taxa de desmame aumentar de 68% para 80%, o que é perfeitamente viável, e o peso ao desmame de 170 quilos para 200 quilos, o impacto na produtividade será enorme, com aumento de 23% no número de bezerros produzidos, com aumento de apenas 5% da área ocupada pelos animais. Isso levaria a um aumento de 38% na produtividade por hectare.
Mudança de pensamento
É necessário, portanto, que se faça uma mudança no pensamento do pecuarista, já que o pensamento antigo buscava produzir cada vez mais arroba por boi. O pensamento moderno busca trabalhar com mais arrobas por hectare. Para isso, é necessário:
- Produzir mais bezerros, reduzindo a idade ao primeiro parto;
- Produzir bezerros de qualidade.
Isso para que se possa girar uma maior quantidade de animais na mesma área em mais tempo. Para isso, é necessário que se invista mais nas novas tecnologias, tanto na área de correção de pastagem e suplementação (área nutricional), como na área de melhoramento genético, visando melhorar a capacidade de ganho de peso dos animais, e melhorar a eficiência reprodutiva dos animais.
Nunca se deve esquecer que a reprodução não trabalha sozinha, sendo sempre um tripé: nutrição, sanidade e genética, que são fatores que apoiam a reprodução. Sem esses fatores, não é possível alcançar eficiência reprodutiva máxima na fazenda.
Como exemplo, a inseminação artificial. Do total de 72,5 milhões de fêmeas bovinas em idade reprodutiva presentes no rebanho brasileiro (vacas e novilhas; ANUALPEC, 2018), 13,1% são inseminadas artificialmente, sendo 86,3% das inseminações realizadas em tempo fixo - IATF - (13,3 milhões de IATF). Das fêmeas inseminadas por IATF, calcula-se que 10,2 milhões (77,6%) são fêmeas de corte e 3,1 milhões (22,4%) são fêmeas de aptidão leiteira.
Fica claro, portanto, que apesar de ter havido um crescimento no número de fêmeas inseminadas artificialmente, já que a taxa de inseminações no início dos anos 2000 era de 5%, essa taxa ainda é bastante baixa, de apenas 13%.
Em rebanhos de corte, parte do ganho financeiro gerado pelo emprego da IATF explica-se pelo aumento da quantidade de bezerros produzidos e pela qualidade genética destes produtos. Considerando-se que a IATF é empregada em 10,2 milhões de matrizes de corte, gerando aumento de 8% na produção de bezerros, há produção extra de 816.000 bezerros por ano, o que representa uma renda adicional de R$ 979 milhões (considerando o preço do bezerro R$ 1.200,00). Além disso, é sabido que pela antecipação do parto e pelo ganho genético, há um ganho médio de 20 kg no peso ao desmame por bezerro produzido por IATF.
Assim, percebe-se que o mercado está começando a investir cada vez mais em tecnologias reprodutivas no rebanho de corte, mas ainda há muito espaço para crescimento.
Se você quiser aprender mais sobre como a IATF pode ajudar na maior produção de bezerros, acesse o conteúdo completo do curso Manejo reprodutivo de vacas de corte: uso da IATF para maximizar a produção de bezerros.
Neste curso, a Dra. Roberta Ferreira Saran, pesquisadora e consultora em reprodução animal, ensina como melhorar a quantidade e qualidade de bezerros produzidos através da utilização de técnicas reprodutivas avançadas, mostrando também o impacto financeiro da reprodução na cadeia produtiva da carne, bem como a viabilidade econômica do emprego dessas biotécnicas.
Será que o mercado brasileiro tem investido o suficiente em tecnologias da reprodução ou ainda há espaço para muita melhora nesse campo?
O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com cerca de 212 milhões de cabeças, enquanto os EUA possuem 89 milhões de cabeças sendo o terceiro maior rebanho do mundo. No entanto, o Brasil possui o dobro de matrizes: 80 milhões, contra 40 milhões nos EUA, mas produz menos carne, o que reflete uma baixa eficiência produtiva.
No Brasil, são produzidos 45,8 quilos de carne por animal por ano, enquanto nos EUA essa produção é de 133,2 quilos de carne por animal por ano. A baixa produtividade brasileira tem grande influência da baixa eficiência reprodutiva do rebanho.
Outro dado alarmante referente ao Brasil é a quantidade de pasto dedicado à cria. Atualmente, 70% do pasto são dedicados à cria, o que equivale a 120 milhões de hectares. Para recria e engorda, são dedicados 50 milhões de hectares, o que mostra a baixa eficiência na produção de bezerros.
Cerca de 50% dos alimentos necessários para a produção de um quilo de carne são destinados à cria, o que mostra um grande investimento nessa fase que precisa ter um retorno em termos de número de bezerros produzidos.
Atualmente, o Brasil possui uma média de taxa de nascimento de 74%, ou seja, de cada 100 vacas, 74 bezerros são entregues por ano. Isso representa cerca de 21 milhões de vacas sem produzir um bezerro por ano. Considerando que cada vaca ocupa aproximadamente 1 hectare na fazenda, são aproximadamente 21 milhões de hectares com baixa produtividade.
A taxa de desmame é de 68%, ou seja, para cada 100 vacas, 68 bezerros são entregues por ano na fazenda. A maioria dos países que têm alta produtividade possuem uma taxa de desmame de 80% a 90%. Assim, para melhorar a eficiência por hectare é necessário elevar a taxa de desmame. O peso ao desmame no Brasil também é baixo em comparação com outros países (cerca de 170 quilos, enquanto há países que alcançam 230-250 quilos ao desmame).
Por fim, mais um dado que mostra que o investimento em melhorias na produtividade no Brasil é essencial: as novilhas brasileiras estão emprenhando, em média, por volta dos 30 meses de idade. Durante esse período, o animal está consumindo recursos na fazenda sem, no entanto, entregar nada em troca.
Esses números são importantes para que se perceba com clareza onde o país está e onde pode chegar. Obviamente, existem fazendas no país que apresentam ótimo desempenho produtivo e reprodutivo, o que mostra que é possível alcançar a eficiência, mas, ao mesmo tempo, existem fazendas extremamente ineficientes, o que acaba baixando muito a média.
Como melhorar esse cenário?
Algumas mudanças nessas taxas gerariam impactos enormes:
- Aumentar taxa de nascimento em 10%
Se o país conseguir aumentar a taxa de nascimento em 10%, será possível entregar ao ano mais de 7,4 milhões de bezerros a mais, produzindo 1,7 milhão de toneladas a mais por ano, podendo ultrapassar os EUA em produção de carne.
- Aumentar taxa de desmame e peso ao desmame
Se a taxa de desmame aumentar de 68% para 80%, o que é perfeitamente viável, e o peso ao desmame de 170 quilos para 200 quilos, o impacto na produtividade será enorme, com aumento de 23% no número de bezerros produzidos, com aumento de apenas 5% da área ocupada pelos animais. Isso levaria a um aumento de 38% na produtividade por hectare.
Mudança de pensamento
É necessário, portanto, que se faça uma mudança no pensamento do pecuarista, já que o pensamento antigo buscava produzir cada vez mais arroba por boi. O pensamento moderno busca trabalhar com mais arrobas por hectare. Para isso, é necessário:
- Produzir mais bezerros, reduzindo a idade ao primeiro parto;
- Produzir bezerros de qualidade.
Isso para que se possa girar uma maior quantidade de animais na mesma área em mais tempo. Para isso, é necessário que se invista mais nas novas tecnologias, tanto na área de correção de pastagem e suplementação (área nutricional), como na área de melhoramento genético, visando melhorar a capacidade de ganho de peso dos animais, e melhorar a eficiência reprodutiva dos animais.
Nunca se deve esquecer que a reprodução não trabalha sozinha, sendo sempre um tripé: nutrição, sanidade e genética, que são fatores que apoiam a reprodução. Sem esses fatores, não é possível alcançar eficiência reprodutiva máxima na fazenda.
Como exemplo, a inseminação artificial. Do total de 72,5 milhões de fêmeas bovinas em idade reprodutiva presentes no rebanho brasileiro (vacas e novilhas; ANUALPEC, 2018), 13,1% são inseminadas artificialmente, sendo 86,3% das inseminações realizadas em tempo fixo - IATF - (13,3 milhões de IATF). Das fêmeas inseminadas por IATF, calcula-se que 10,2 milhões (77,6%) são fêmeas de corte e 3,1 milhões (22,4%) são fêmeas de aptidão leiteira.
Fica claro, portanto, que apesar de ter havido um crescimento no número de fêmeas inseminadas artificialmente, já que a taxa de inseminações no início dos anos 2000 era de 5%, essa taxa ainda é bastante baixa, de apenas 13%.
Em rebanhos de corte, parte do ganho financeiro gerado pelo emprego da IATF explica-se pelo aumento da quantidade de bezerros produzidos e pela qualidade genética destes produtos. Considerando-se que a IATF é empregada em 10,2 milhões de matrizes de corte, gerando aumento de 8% na produção de bezerros, há produção extra de 816.000 bezerros por ano, o que representa uma renda adicional de R$ 979 milhões (considerando o preço do bezerro R$ 1.200,00). Além disso, é sabido que pela antecipação do parto e pelo ganho genético, há um ganho médio de 20 kg no peso ao desmame por bezerro produzido por IATF.
Assim, percebe-se que o mercado está começando a investir cada vez mais em tecnologias reprodutivas no rebanho de corte, mas ainda há muito espaço para crescimento.
Se você quiser aprender mais sobre como a IATF pode ajudar na maior produção de bezerros, acesse o conteúdo completo do curso Manejo reprodutivo de vacas de corte: uso da IATF para maximizar a produção de bezerros.
Neste curso, a Dra. Roberta Ferreira Saran, pesquisadora e consultora em reprodução animal, ensina como melhorar a quantidade e qualidade de bezerros produzidos através da utilização de técnicas reprodutivas avançadas, mostrando também o impacto financeiro da reprodução na cadeia produtiva da carne, bem como a viabilidade econômica do emprego dessas biotécnicas.
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contato@educapoint.com.br
Telefone: (19) 3432-2199
WhatsApp (19) 99817- 4082
Fontes consultadas:
Curso: Manejo reprodutivo de vacas de corte: uso da IATF para maximizar a produção de bezerros (https://www.educapoint.com.br/v2/curso/reproducao-iatf)
Fontes consultadas:
Curso: Manejo reprodutivo de vacas de corte: uso da IATF para maximizar a produção de bezerros (https://www.educapoint.com.br/v2/curso/reproducao-iatf)
IATF JÁ IMPACTA R$ 3,5 BILHÕES NA PECUÁRIA BRASILEIRA (https://www.comprerural.com/iatf-ja-impacta-r-35-bilhoes-na-pecuaria-brasileira)