Nutrição animal: o arroz pode ser um substituto do milho?
Postado em: 24/05/2022 | 5 min de leitura
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Os preços do milho e da soja vêm se valorizando nos últimos anos, o que tem influenciado o desempenho de áreas como suinocultura e avicultura, de acordo com dados da Central de Inteligência de Suínos e Aves da Embrapa Suínos e Aves, uma vez que a ração responde por cerca de 70% a 80% do custo de produção das duas atividades. Diante disso, surgem dúvidas sobre a possibilidade do uso de alternativas ao milho, como por exemplo, o arroz. É possível fazer esta substituição sem prejuízo nos resultados?
Estudos da Embrapa Suínos e Aves, com sede em Santa Catarina, mostraram que a resposta é: sim. Do ponto de vista nutricional, o arroz pode complementar ou substituir o milho na alimentação animal. Paralelamente, o excesso de oferta de arroz no mercado nacional, com uma sobra de 600 a 800 mil toneladas na safra 2020/2021, reforça a viabilidade do grão para baratear as rações de suínos e aves, que atualmente respondem por cerca de 70% a 80% do custo de produção das duas atividades.
“A Embrapa já mostrou que o arroz descascado (arroz marrom), do ponto de vista nutricional, serve perfeitamente para complementar ou substituir o milho na alimentação animal”, afirma o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves Jorge Vitor Ludke.
Segundo Rodrigo Ramos Rizzo, engenheiro agrícola e assessor especial da presidência da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), já há contratos de venda de arroz em casca ou quirera de arroz entre arrozeiros e produtores de carne de frango e carne suína no Rio Grande do Sul. No entanto, o que vai definir a extensão do uso do arroz como alimento alternativo nas rações animais será a comparação da sua cotação com a do milho na hora da compra. Levando em consideração as cotações de outubro, cada quilo de milho para uso na alimentação animal, na média, ficou em R$ 1,50, enquanto o arroz chegou a R$ 1,82 (arroz marrom).
Assim, a utilização do excedente de arroz na alimentação de suínos e aves depende muito do custo do frete. “É por isso que o uso do arroz como alimento alternativo compensa, na prática, somente em lugares que poderão contar com uma grande vantagem logística”, ressalta o pesquisador Jorge Ludke. A região Sul se encaixa nessa lógica. Ela é a que apresenta o maior déficit de grãos para suínos e aves e também a que concentra o excedente de arroz. Em média, uma saca de arroz percorre 500 km no Sul do Brasil para se transformar em ração animal. Já no caso do milho, que vem do Centro-Oeste majoritariamente, a distância sobe para cerca de 2.000 km (de Sinop, MT, a Chapecó, SC), o que representa um frete até 70% mais caro.
“A questão mais importante em torno do uso do arroz neste momento é, na verdade, reforçar o debate sobre a criação de mecanismos para tornar permanente a oferta de alimentos alternativos para a ração animal”, complementa o também pesquisador da Embrapa Suínos e Aves Dirceu Talamini, especialista em temas ligados ao custo de produção de suínos e aves. Ainda não há um retrato claro do quanto o arroz ajudará a reduzir os custos de produção na suinocultura e avicultura. Nem se as duas atividades consumirão todo o excedente de arroz. Já está certo, porém, que os três setores enfrentarão 2021/2022 compartilhando preocupações e articulando sinergias.
Nutrição
A Embrapa Suínos e Aves publicou o comunicado técnico 503, em 2010, escrito pelos pesquisadores Everton Luis Krabbe, Teresinha Marisa Bertol e Helenice Mazzuco, o qual mostrou que o arroz, além de apresentar um valor nutricional adequado para a alimentação de suínos e aves, oferece ainda efeitos positivos sobre a qualidade de carcaça.
Segundo o comunicado técnico da Embrapa, “considerando-se que o óleo de arroz apresenta um perfil de ácidos graxos com maior conteúdo de ácidos graxos saturados e monoinsaturados e menor conteúdo de poli-insaturados do que o milho, a tendência é a de que, com uma dieta à base de grãos de arroz polido-farelo de soja sejam produzidas carcaças com melhor perfil de ácidos graxos do que com uma dieta de milho-farelo de soja, ou seja com gordura mais firme”. O mesmo comunicado ressalva, no entanto, que o arroz reduz a pigmentação de gemas de ovos a da pele de aves, sem implicar em perda de valor nutricional para o consumidor. Essa questão pode ser resolvida com a adição de um pigmentante à ração.
O que a Embrapa recomendou no início dos anos 2010 continua valendo (confira no gráfico 1 o comparativo entre milho e arroz no que diz respeito ao valor nutricional dos dois grãos). O arroz disponível atualmente para ser utilizado na alimentação de suínos e aves é, em sua maioria, o arroz marrom. Esse tipo de arroz tem valor nutricional superior ao arroz branco polido e aos quebrados de arroz (também chamados de quirera de arroz). Porém, o arroz marrom vem em casca, que precisa ser descartada. A casca apresenta baixíssimo valor nutricional, além de conter elevado teor de fibra e sílica, que agridem a mucosa intestinal dos animais, provocando perda de desempenho. “É preciso sublinhar que o arroz é um cereal com nível de proteína bruta muito próxima ao do milho, o que o transforma em uma excelente fonte de energia”, aponta o pesquisador Jorge Ludke.
PB: Proteína Bruta Ca:Cálcio Pt: Fósforo total Pd: Fósforo disponível FB: Fibra Bruta
PB: Proteína Bruta Ca:Cálcio Pt: Fósforo total Pd: Fósforo disponível FB: Fibra Bruta
Existem diferenças entre arroz marrom (apenas com a retirada da casca) e entre quirera de arroz e arroz polido do ponto de vista nutricional. Nesses dois últimos, a parte que seria o farelo de arroz integral não está mais presente. Outra questão importante é o fato de que o arroz apresenta um formato diferente do milho. Para que seja usado na alimentação de suínos é necessário que se façam ajustes específicos nas fábricas de rações. “A moagem precisa ser adaptada, com diferentes regulagens de peneiras. Mas esses ajustes não representam custos ou esforços significativos”, completa Jorge Ludke. No caso da produção de ração para aves, não é preciso fazer alterações.
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Fonte:
Arroz é alternativa viável para reduzir custos de produção de suínos e aves (https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/67895939/arroz-e-alternativa-viavel-para-reduzir-custos-de-producao-de-suinos-e-aves)