Entenda a fisiologia do parto dos bovinos!
Postado em: 24/03/2022 | 6 min de leitura
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O parto é definido como o processo fisiológico pelo qual ocorre a expulsão de um ou mais fetos maduros, bem como das membranas fetais existentes no útero materno. Este processo é desencadeado por uma interação complexa entre os hormônios da mãe e fatores relacionados ao feto.
Para que se realize a expulsão do feto é necessário que o útero deixe de ser um órgão quiescente, essencial para a manutenção da gestação, para ser um órgão contrátil. Ao mesmo tempo, o cérvix ou colo uterino, que durante a gestação permanece firmemente fechado para impedir a expulsão prematura do feto e evitar a entrada de agentes infecciosos, relaxa e dilata para facilitar a passagem do feto na hora do parto. Esta modificação na atividade do útero e do colo uterino, ocorre como consequência das mudanças hormonais que o organismo materno experimenta à medida que a data do parto se aproxima.
A gestação ocorre com elevada concentração de progesterona que é secretada pelo corpo lúteo do ovário. A progesterona desempenha um papel fundamental durante a gestação, inibindo as contrações da musculatura lisa do útero (miométrio), permitindo assim a acomodação do feto durante o seu crescimento.
Os estrogênios, estimulantes da atividade contrátil do miométrio, mantêm-se em baixas concentrações durante a maior parte da gestação. À medida que se aproxima o momento do parto, os níveis destes hormônios esteróides modificam-se, produzindo-se a diminuição nos níveis circulantes de progesterona ao mesmo tempo que se aumentao os valores sanguíneos dos estrogênios.
A queda da progesterona suprime a ação inibitória desse hormônio sobre a contração do miométrio, de forma que os efeitos estimulantes dos estrogênios passam a agir. A concentração de estrogênios começa a aumentar geralmente no final da gestação, atingindo os seus valores máximos no momento do parto.
O aumento da concentração de estrogênios favorece a atividade contrátil espontânea do útero ao:
a) estimular a síntese de proteínas contráteis;
b) aumentar, sob medida, a sensibilidade do miométrio uterino à ação estimulante das prostaglandinas;
c) induzir a formação de receptores de ocitocina no útero.
Os estrogênios estimulam a síntese e secreção de prostaglandina (PGF2a), que constitui o elemento essencial para o início do parto devido aos efeitos que esta substância provoca. A secreção de prostaglandina leva à regressão do corpo lúteo (luteólise), levando à redução da progesterona a níveis basais.
Além disso, a PGF2a origina contrações de crescente intensidade no útero sensibilizado pela ação dos estrogênios. Esta ação contrátil da PGF2a deve-se a um aumento da concentração de cálcio intracelular das fibras musculares uterinas. A PGF2a também está envolvida no relaxamento do colo do útero, inibindo a formação de colágeno cervical ao mesmo tempo que estimula a síntese de enzimas (colagenase) que degradam a matriz de colágeno formado no início da gestação.
A dilatação do colo do útero está também associada à pressão que o feto exerce sobre o mesmo. Este hormônio é também de grande importância para a preparação do parto, uma vez que é responsável pelo relaxamento dos ligamentos e músculos que rodeiam o canal pélvico para favorecer a separação da sínfise púbica durante a expulsão do feto. Na vaca, as mudanças que ocorrem nos tecidos e ligamentos pélvicos são muito evidentes e constituem um sintoma de parto iminente.
O início do parto, ou primeira fase do parto, caracteriza-se pelo aumento das contrações uterinas provocadas pela PGF2a coincidindo com a dilatação do colo uterino para permitir a passagem do feto para o canal do parto, momento em que começa a segunda fase do parto.
A distensão vaginal que produz-se para a passagem do feto pelo canal do parto origina um estímulo nervoso que passa através da medula espinhal para o hipotálamo, onde se encontram os neurônios responsáveis pela síntese de ocitocina. As terminações nervosas destes neurônios são projetadas para o lobo posterior da hipófise (neurohipófise), onde a ocitocina é secretada para ser, posteriormente , transportada pela circulação sanguínea. Este reflexo neuroendócrino chamado reflexo de Ferguson determina a secreção súbita de ocitocina, provocando o aumento tanto na intensidade como na frequência das contrações uterinas necessárias para a expulsão final do feto. O papel da ocitocina é ativar a conclusão do processo de expulsão, uma vez que este hormônio não está envolvido no início do parto.
A alteração mais significativa entre a gestação e o parto é a alteração na atividade contrátil do miométrio uterino. Esta mudança é devido às alterações hormonais que ocorrem na mãe quando a gestação chega ao fim. No entanto, para que estes mecanismos maternos sejam acionados, é necessário que o feto indique de alguma forma à mãe o seu estado de desenvolvimento, de modo que o nascimento realize-se quando o feto estiver preparado para enfrentar a vida extrauterina.
No final da gestação, o feto maduro apresenta um aumento da concentração de corticosteroides plasmáticos devido ao efeito estimulante do hormônio adrenocorticosteroide (ACVH) secretado pela hipófise fetal sobre as glândulas adrenais do feto. Os corticosteroides fetais, por sua vez, estimulam as enzimas placentárias para transformar a progesterona em estrogênio. O resultado final é a diminuição dos níveis de progesterona ao mesmo tempo que se eleva a concentração de estrogênios que, por sua vez, estimulam a libertação de PGF2a, responsável pelas contrações uterinas.
Isto significa que, nos animais domésticos, o feto determina a data do parto. O sinal hormonal que indica à mãe o grau de maturidade do feto é o desenvolvimento do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal que origina o aumento na secreção de corticoides fetais que são os responsáveis por desencadear as alterações hormonais no organismo materno necessárias para iniciar o parto.
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Fases do parto
O parto inicia-se com o início das contrações peristálticas e regulares do miométrio uterino ao mesmo tempo que o colo do útero se dilata progressivamente.
Durante o parto são reconhecidas três fases:
1. Fase preparatória - Na qual as contrações uterinas estimulam a rotação do feto para adotar a posição dorsal (extremidades anteriores e cabeça forçadas contra o cérvix) que lhe permite oferecer a menor resistência para sua expulsão. A PGF2a provoca as contrações miometriais e a dilatação do cérvix, deslocando o feto contra e através desta estrutura.
2. Fase de expulsão - A passagem do feto através do colo uterino e da vagina causam a completa dilatação destas estruturas, originando a secreção de ocitocina (reflexo de Ferguson), que provoca contrações de maior frequência e intensidade. Por sua vez, estas contrações uterinas são reforçadas pela pressão e contração dos músculos abdominais, chegando estes últimos a ser a força principal (forças de expulsão) envolvida no processo de expulsão do feto. O cordão umbilical rompe-se bem ao levantar-se a mãe ou pelos movimentos do recém-nascido.
3. Fase de expulsão da placenta - Após o parto, as contrações rítmicas do útero continuam a facilitar a expulsão da placenta. Nos ruminantes, a expulsão da placenta cotiledonária é um processo mais lento que exige a separação dos cotilédones (membrana fetal) das carúnculas do útero, levando cerca de 8 a 12 horas. Por conseguinte, a troca de nutrientes e oxigênio entre a mãe e o feto continua até que este tenha sido totalmente expelido, devido ao cordão umbilical destes animais ser bastante longo.
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Fontes:
FISIOLOGIA DO PARTO E DA LACTAÇÃO ANIMAL, por Emanuel Isaque Cordeiro da Silva,
Departamento de Zootecnia da UFRPE (https://philarchive.org/archive/DASRAF-3).
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