Fotossensibilização: como evitar este mal
Postado em: 17/10/2019 | 5 min de leitura
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A fotossensibilização refere-se a resposta exagerada da suscetibilidade da pele à radiação da luz solar, pela presença local de agentes fotodinâmicos, os quais apresentam uma configuração química que é capaz de absorver determinados comprimentos de onda da luz ultravioleta (UV), passando energia extra para as células ao redor, desenvolvendo dermatite com liberação de histamina, morte celular local e edema tissular, resultando em lesão. A doença é conhecida popularmente pelo nome de requeima.
Antes de explicar melhor sobre essa condição, é importante ressaltar que animais em condições ideais de bem-estar produzem muito mais. Portanto, se você tem interesse no assunto, recomendamos que leia também essa cartilha gratuita sobre bem-estar animal que preparamos para nossos leitores.
Foto 1: Lesão causada pela fotossenzibilização (Fonte da foto: http://nelsonferreiralucio.blogspot.com/2018/04/fotossensibilizacao-em-bovino.html)
Foto 2: Close da lesão (Fonte da foto: http://nelsonferreiralucio.blogspot.com/2018/04/fotossensibilizacao-em-bovino.html)
Há dois tipos de fotossensibilização causados pela ingestão de plantas:
- Fotossensibilização primária: nesse caso, a planta possui um pigmento que é absorvido pela mucosa intestinal, atravessa a barreira hepática e cai na circulação geral, indo, também à pele, onde então causa sensibilidade exagerada aos raios solares.
- Fotossensibilização secundária ou hepatógena: nesse caso, a planta possui uma substância hepatotóxica, e a lesão hepática interfere no metabolismo da filoeritrina. A filoeritrina é um pigmento fluorescente formado a partir da clorofila nos pré-estômagos dos ruminantes, pela ação desdobradora de microrganismos (protozoários) aí existentes, que em condições normais é absorvida pela mucosa intestinal, e eliminada pelo fígado através da bile. Quando há lesão hepática, a filoeritrina pode não ser metabolizada e passar à circulação sanguínea alcançando finalmente a pele, onde então causa sensibilidade exagerada aos raios solares, ocorrendo fotossensibilização, a qual é denominada secundária. A maioria das plantas tóxicas fotossensibilizantes é de ação fotossensibilizante secundária.
Das muitas plantas que causam fotossensibilização hepatógena, algumas possuem como princípio tóxico os furanossesquiterpenos (Myoporum spp.), triterpenos (Lantana spp.) e saponinas esteroidais (Brachiaria spp. e Panicum spp.).
A causa mais frequente de intoxicação por plantas é a fome, principalmente no período de estiagem quando os animais tendem a ingerir plantas que normalmente não comem. Na Tabela 1 estão representadas as principais plantas que causam fotossensibilização hepatógena, bem como seus princípios ativos e as espécies mais afetadas.
Dentre as plantas causadoras de fotossensibilização hepatógena destacam-se as pertencentes ao gênero Brachiaria, as quais, por serem forrageiras amplamente utilizadas no Brasil, são as principais responsáveis pela ocorrência de surtos da intoxicação.
A enfermidade acomete principalmente bezerros (próximos ao desmame ou recentemente desmamados) embora possam ser observados casos em bovinos adultos. A B. decumbens é a espécie mais frequentemente envolvida, mas outras espécies de Brachiaria sp, como a B. brizantha podem causar o problema. O número de animais afetado é variável, podendo acometer poucos animais até quase a totalidade do lote. Na maioria das vezes, a mortalidade é baixa, entretanto em alguns surtos podem ocorrer perdas significativas.
Casos da enfermidade têm sido observados nas diferentes épocas do ano e fatores como primeiro contato com a planta, ocorrência anterior de queimadas ou secas prolongadas podem estar relacionados com o problema. Muitos relatos descrevem a ocorrência do problema quando pastos de B. decumbens são vedados por longos períodos e após, são introduzidos os bovinos. Nestas situações o problema parece ser mais grave afetando bovinos de qualquer idade, inclusive com óbitos. Outra situação observada é a ocorrência do problema no final da estação seca agravando-se, seriamente, com o surgimento de vários casos após as primeiras chuvas, coincidindo com a brotação da pastagem.
Sinais clínicos
Os sinais clínicos variam de acordo com a gravidade do caso. Casos graves podem iniciar com inquietação (animal sacode constantemente a cabeça e orelhas) seguidos por edema (inchaço) da barbela e graus variáveis de icterícia, ocorrendo a morte do animal em 2 ou 3 dias, sem que se observem sinais característicos de fotossensibilização.
Os animais que sobrevivem a esta fase apresentam ressecamento da pele, a qual assume aspecto quebradiço, predominantemente nas regiões dos flancos, virilha, períneo, vulva, úbere e barbela. As orelhas assumem aspecto característico, apresentando-se contorcidas e com as extremidades voltadas para cima.
Posteriormente, há formação de crostas nestes locais, com desprendimento da pele, que pode ser observado no focinho e parte ventral da língua. Outra característica da enfermidade é que os animais procuram a sombra constantemente. Alguns animais podem apresentar lacrimejamento, opacidade da córnea e cegueira.
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se no histórico, nos sinais clínicos e deve ser confirmado com a realização de necropsias e exames laboratoriais. A enfermidade deve ser diferenciada de outras causas de fotossensibilização, principalmente a intoxicação por Enterolobium contortisiliquum e a Lantana sp. Nestes casos é importante a interpretação dos dados clínicos e epidemiológicos, uma vez que a intoxicação por E. contortisiliquum ocorre entre os meses de agosto a novembro, afetando também animais adultos e de forma severa, sendo que vacas prenhes geralmente abortam. Por sua vez, a intoxicação por Lantana sp, geralmente está associada a transporte ou fome e causa sinais clínicos severos, com alta mortalidade de animais adultos.
Por outro lado é importante lembrar que plantas do gênero Panicum, inclusive forrageiras, podem produzir fotossensibilização, a exemplo do que corre com as plantas do gênero Brachiaria.
Tratamento
Não há tratamento específico para a intoxicação, sendo a remoção dos animais do pasto problema para outro, preferencialmente formado por forrageiras não pertencentes ao gênero Brachiaria sp (principalmente B. decumbens), a principal medida a ser tomada. Adicionalmente, deve-se colocar os animais em locais com bastante sombra.
Protetores hepáticos podem ser utilizados, embora não exista comprovação de que sua eficácia, uma vez que animais que não recebem este tipo de tratamento, recuperam-se frequentemente, sugerindo que a recuperação espontânea geralmente ocorre desde que os animais sejam retirados do pasto problema e colocados à sombra.
Como prevenir
Considerando-se que não se conhece exatamente o princípio tóxico de B. decumbens, ou mesmo as condições que favorecem a ocorrência da intoxicação, não se tem, até o momento, recomendações precisas para a prevenção do problema. A medida preventiva mais eficaz é a não utilização de Brachiaria sp (principalmente B. decumbens vedada) para animais jovens. Esta medida nem sempre é viável tanto do ponto de vista prático como do ponto de vista econômico, sendo recomendada apenas naquelas propriedades onde o problema ocorre periodicamente afetando número significativo de animais. Animais que não tiveram contato prévio com a planta devem ser adaptados ao seu consumo.
O conhecimento da doença por parte dos pecuaristas e a conscientização destes no sentido de diversificar a formação das pastagens têm contribuído para o seu controle. Bezerros não devem ser desmamados em B. decumbens, pois o estresse da desmama adicionado à idade do animal e à possível existência de animais geneticamente mais suscetíveis são fatores predisponentes ao aparecimento da fotossensibilização.
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Fontes consultadas:
Amenizando a requeima (https://www.grupocultivar.com.br/artigos/amenizando-a-requeima)
Plantas tóxicas fotossensibilizantes (https://www.dracena.unesp.br/Home/Eventos/SICUD2009/045_2009.pdf)
Fotossensibilização secundária pela ingestão de brachiaria em bovino (http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/rOxF86TzLRmHzEU_2013-5-20-11-13-55.pdf)
Fotossensibilização hepatógena em pequenos ruminantes (https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/fotossensibilizacao-hepatogena-em-pequenos-ruminantes-81477n.aspx)
Antes de explicar melhor sobre essa condição, é importante ressaltar que animais em condições ideais de bem-estar produzem muito mais. Portanto, se você tem interesse no assunto, recomendamos que leia também essa cartilha gratuita sobre bem-estar animal que preparamos para nossos leitores.
Foto 1: Lesão causada pela fotossenzibilização (Fonte da foto: http://nelsonferreiralucio.blogspot.com/2018/04/fotossensibilizacao-em-bovino.html)
Foto 2: Close da lesão (Fonte da foto: http://nelsonferreiralucio.blogspot.com/2018/04/fotossensibilizacao-em-bovino.html)
Há dois tipos de fotossensibilização causados pela ingestão de plantas:
- Fotossensibilização primária: nesse caso, a planta possui um pigmento que é absorvido pela mucosa intestinal, atravessa a barreira hepática e cai na circulação geral, indo, também à pele, onde então causa sensibilidade exagerada aos raios solares.
- Fotossensibilização secundária ou hepatógena: nesse caso, a planta possui uma substância hepatotóxica, e a lesão hepática interfere no metabolismo da filoeritrina. A filoeritrina é um pigmento fluorescente formado a partir da clorofila nos pré-estômagos dos ruminantes, pela ação desdobradora de microrganismos (protozoários) aí existentes, que em condições normais é absorvida pela mucosa intestinal, e eliminada pelo fígado através da bile. Quando há lesão hepática, a filoeritrina pode não ser metabolizada e passar à circulação sanguínea alcançando finalmente a pele, onde então causa sensibilidade exagerada aos raios solares, ocorrendo fotossensibilização, a qual é denominada secundária. A maioria das plantas tóxicas fotossensibilizantes é de ação fotossensibilizante secundária.
Das muitas plantas que causam fotossensibilização hepatógena, algumas possuem como princípio tóxico os furanossesquiterpenos (Myoporum spp.), triterpenos (Lantana spp.) e saponinas esteroidais (Brachiaria spp. e Panicum spp.).
A causa mais frequente de intoxicação por plantas é a fome, principalmente no período de estiagem quando os animais tendem a ingerir plantas que normalmente não comem. Na Tabela 1 estão representadas as principais plantas que causam fotossensibilização hepatógena, bem como seus princípios ativos e as espécies mais afetadas.
Dentre as plantas causadoras de fotossensibilização hepatógena destacam-se as pertencentes ao gênero Brachiaria, as quais, por serem forrageiras amplamente utilizadas no Brasil, são as principais responsáveis pela ocorrência de surtos da intoxicação.
A enfermidade acomete principalmente bezerros (próximos ao desmame ou recentemente desmamados) embora possam ser observados casos em bovinos adultos. A B. decumbens é a espécie mais frequentemente envolvida, mas outras espécies de Brachiaria sp, como a B. brizantha podem causar o problema. O número de animais afetado é variável, podendo acometer poucos animais até quase a totalidade do lote. Na maioria das vezes, a mortalidade é baixa, entretanto em alguns surtos podem ocorrer perdas significativas.
Casos da enfermidade têm sido observados nas diferentes épocas do ano e fatores como primeiro contato com a planta, ocorrência anterior de queimadas ou secas prolongadas podem estar relacionados com o problema. Muitos relatos descrevem a ocorrência do problema quando pastos de B. decumbens são vedados por longos períodos e após, são introduzidos os bovinos. Nestas situações o problema parece ser mais grave afetando bovinos de qualquer idade, inclusive com óbitos. Outra situação observada é a ocorrência do problema no final da estação seca agravando-se, seriamente, com o surgimento de vários casos após as primeiras chuvas, coincidindo com a brotação da pastagem.
Sinais clínicos
Os sinais clínicos variam de acordo com a gravidade do caso. Casos graves podem iniciar com inquietação (animal sacode constantemente a cabeça e orelhas) seguidos por edema (inchaço) da barbela e graus variáveis de icterícia, ocorrendo a morte do animal em 2 ou 3 dias, sem que se observem sinais característicos de fotossensibilização.
Os animais que sobrevivem a esta fase apresentam ressecamento da pele, a qual assume aspecto quebradiço, predominantemente nas regiões dos flancos, virilha, períneo, vulva, úbere e barbela. As orelhas assumem aspecto característico, apresentando-se contorcidas e com as extremidades voltadas para cima.
Posteriormente, há formação de crostas nestes locais, com desprendimento da pele, que pode ser observado no focinho e parte ventral da língua. Outra característica da enfermidade é que os animais procuram a sombra constantemente. Alguns animais podem apresentar lacrimejamento, opacidade da córnea e cegueira.
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se no histórico, nos sinais clínicos e deve ser confirmado com a realização de necropsias e exames laboratoriais. A enfermidade deve ser diferenciada de outras causas de fotossensibilização, principalmente a intoxicação por Enterolobium contortisiliquum e a Lantana sp. Nestes casos é importante a interpretação dos dados clínicos e epidemiológicos, uma vez que a intoxicação por E. contortisiliquum ocorre entre os meses de agosto a novembro, afetando também animais adultos e de forma severa, sendo que vacas prenhes geralmente abortam. Por sua vez, a intoxicação por Lantana sp, geralmente está associada a transporte ou fome e causa sinais clínicos severos, com alta mortalidade de animais adultos.
Por outro lado é importante lembrar que plantas do gênero Panicum, inclusive forrageiras, podem produzir fotossensibilização, a exemplo do que corre com as plantas do gênero Brachiaria.
Tratamento
Não há tratamento específico para a intoxicação, sendo a remoção dos animais do pasto problema para outro, preferencialmente formado por forrageiras não pertencentes ao gênero Brachiaria sp (principalmente B. decumbens), a principal medida a ser tomada. Adicionalmente, deve-se colocar os animais em locais com bastante sombra.
Protetores hepáticos podem ser utilizados, embora não exista comprovação de que sua eficácia, uma vez que animais que não recebem este tipo de tratamento, recuperam-se frequentemente, sugerindo que a recuperação espontânea geralmente ocorre desde que os animais sejam retirados do pasto problema e colocados à sombra.
Como prevenir
Considerando-se que não se conhece exatamente o princípio tóxico de B. decumbens, ou mesmo as condições que favorecem a ocorrência da intoxicação, não se tem, até o momento, recomendações precisas para a prevenção do problema. A medida preventiva mais eficaz é a não utilização de Brachiaria sp (principalmente B. decumbens vedada) para animais jovens. Esta medida nem sempre é viável tanto do ponto de vista prático como do ponto de vista econômico, sendo recomendada apenas naquelas propriedades onde o problema ocorre periodicamente afetando número significativo de animais. Animais que não tiveram contato prévio com a planta devem ser adaptados ao seu consumo.
O conhecimento da doença por parte dos pecuaristas e a conscientização destes no sentido de diversificar a formação das pastagens têm contribuído para o seu controle. Bezerros não devem ser desmamados em B. decumbens, pois o estresse da desmama adicionado à idade do animal e à possível existência de animais geneticamente mais suscetíveis são fatores predisponentes ao aparecimento da fotossensibilização.
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Telefone: (19) 3432-2199
WhatsApp (19) 99817- 4082
Fontes consultadas:
Amenizando a requeima (https://www.grupocultivar.com.br/artigos/amenizando-a-requeima)
Plantas tóxicas fotossensibilizantes (https://www.dracena.unesp.br/Home/Eventos/SICUD2009/045_2009.pdf)
Fotossensibilização secundária pela ingestão de brachiaria em bovino (http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/rOxF86TzLRmHzEU_2013-5-20-11-13-55.pdf)
Fotossensibilização hepatógena em pequenos ruminantes (https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/fotossensibilizacao-hepatogena-em-pequenos-ruminantes-81477n.aspx)