Plantas tóxicas: Como prevenir perdas no rebanho
Postado em: 04/07/2019 | 6 min de leitura
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Plantas tóxicas são aquelas que, quando ingeridas pelos animais, sob condições naturais, causam danos à saúde ou mesmo a morte. No Brasil, foram identificadas 130 espécies. Algumas vezes, registros de mortes em rebanhos bovinos são atribuídos, erroneamente, a ocorrência de doenças ou a picadas de serpentes, quando a causa real foi a ingestão dessas plantas .
As perdas econômicas causadas pela ingestão de plantas tóxicas podem ser diretas ou indiretas. As diretas estão relacionadas com a morte de animais, diminuição dos índices reprodutivos e da produtividade (carne e leite) dos sobreviventes. Já as indiretas incluem os custos de controle das plantas tóxicas nas pastagens; a construção de cercas para evitar as intoxicações; a alteração do programa de pastejo; redução do valor da terra; despesas com a compra de animais de reposição e despesa com o diagnóstico e tratamento das intoxicações.
Poucos estados brasileiros apresentam estatísticas sobre as perdas causadas pelo motivo em questão. No Rio Grande do Sul, com base em necropsias, estima-se que 10% a 14% das mortes de bovinos sejam causadas pela ingestão de plantas tóxicas, ou cerca de 64.000 a 90.000 cabeças por ano; em Santa Catarina, num período de 12 anos, verificou-se que esas plantas causaram 13,9% do total de mortes do rebanho, com estimativa de perdas anuais de 20.574 cabeças.
Muitos conceitos equivocados vêm sendo disseminados a respeito das plantas tóxicas. Um deles se refere à alegada existência de instinto nos animais, o que os protegeria da ingestão de plantas tóxicas. No entanto, o consumo de plantas pelos animais é condicionado pela satisfação que o animal tem ao ingerir o alimento. Também está bastante disseminado o conceito de que a toxicidade das plantas estaria relacionada à presença de lactescência, o que não é verídico, pois a maioria das plantas tóxicas não apresenta esta característica e nem toda as plantas lactescentes são tóxicas. Além disso, muitos consideram que algumas plantas sejam capazes de promover intoxicação com poucas folhas e que os efeitos surjam imediatamente. Entretanto, nenhuma das plantas conhecidas é tão tóxica a ponto da morte ocorrer poucos minutos após a ingestão de poucas folhas.
Princípio tóxico
O princípio tóxico de uma planta consiste em uma substância ou um conjunto de substâncias quimicamente bem definidas, de diferentes ou mesma natureza, capazes de quando em contato com o organismo causar intoxicação.
A intoxicação depende da quantidade de substância tóxica absorvida, da natureza dessa substância e da via de introdução.
Tipos de intoxicação
De acordo com o tempo de exposição do princípio tóxico, a intoxicação pode ser manifestada de dois tipos:
1. Intoxicação aguda, quase sempre por ingestão acidental de uma planta ou de algumas de suas partes que é tóxica, surgindo sintomas em tempo relativamente curto. Por ex. Baccharis coridifolia (0,25 a 0,50 g/kg de peso vivo no outono em bovinos);
2. Intoxicação crônica, conseqüentemente à ingestão continuada, acidental ou propositada de certas espécies vegetais, responsável por distúrbios clínicos muitas vezes complexos e graves. Ex.: lesões hepáticas em bovinos que se alimentam de Senecio.
A ocorrência, frequência e distribuição geográfica das plantas tóxicas podem ser determinadas por diversos fatores, por exemplo:
1. Palatabilidade. As intoxicações ocorrem tanto por plantas não palatáveis como palatáveis. Dentro desta incluem-se, principalmente, as forrageiras, como os sorgos, que podem causar intoxicação por ácido cianídrico e as leguminosas. Outras plantas pouco palatáveis são ingeridas somente em condições especiais.
2. Fome. Este fator é importante uma vez que os animais consomem as plantas tóxicas em consequência de carência de forragem ou por período de privação de alimento. Muitas vezes, quando as pastagens têm pouca disponibilidade de forragem, principalmente, no inverno ou em épocas de estiagem, algumas plantas tóxicas permanecem verdes tais como Senecio spp. e Ipomoea carnea.
3. Sede. Quando os animais são transportados, eles bebem água devido a sede e, assim, perdem a palatabilidade e a capacidade de seleção. Consequentemente, ingerem plantas tóxicas pouco palatáveis.
4. Desconhecimento. Algumas plantas como Baccharis coridifolia (mio-mio) são ingeridas somente por animais que as desconhecem, por terem sido criados em lugares onde não existe a planta.
5. Acesso às plantas tóxicas. Os animais se intoxicam por ingestão somente quando têm acesso a elas após essas árvores serem cortadas ou derrubadas por ventos.
6. Dose tóxica.
7. Período de ingestão.
8. Variação de toxicidade. Podem existir variações de toxicidade dentro de uma espécie, devido a diversos fatores: diferentes variedades, épocas do ano, fase de crescimento, tipo de solo, fertilizações. Algumas plantas como Senecio spp. e Sorghum spp. são mais tóxicas durante a sua fase de crescimento, outras como Baccharis coridifolia, durante a floração e Amaranthus spp. na frutificação. A espécie Lantana spp. pode apresentar variações de toxicidade entre uma variedade e outra.
Principais plantas tóxicas de interesse veterinário
No Brasil, 88 espécies de plantas tóxicas foram descritas, pertencentes a 50 gêneros. Apesar do grande número de espécies, as identificadas como causadoras de perdas econômicas importantes são relativamente poucas. TOKARNIA et al. (2000) consideram que as plantas que causam “morte súbita” são responsáveis por aproximadamente 60% de todas as perdas causadas por plantas tóxicas no país. Dentre estas, a Palicourea marcgravii, conhecida como erva do rato, que contém ácido monofluoracético, é a planta tóxica mais importante do Brasil, ocasionando perdas severas em quase todo o país exceto na região Sul. Outras plantas importantes com "morte súbita" são Arrabidaea bilabiata, Arrabidaea japurensis na região Norte e Mascagnia rigida na região Nordeste (Tabela 1).
Tabela 1 - Principais plantas tóxicas de interesse pecuária
Diagnóstico das intoxicações por plantas
O diagnóstico das intoxicações por plantas é realizado pelo conhecimento da ocorrência de plantas tóxicas na região, das doenças causadas por elas, a constatação dos sinais clínicos e a sua evolução. Os dados epidemiológicos são de grande importância, tais como a presença da planta, toxicidade, frequência da doença, época de ocorrência e condições em que ocorre a ingestão.
Em alguns casos, intoxicações com plantas hepatotóxicas e nefrotóxicas, o estudo bioquímico sanguíneo pode apresentar informações importantes para o diagnóstico diferencial. Em outros casos, realização de necropsia e exame histopatológico são necessários.
Os estudos toxicológicos são importantes para o diagnóstico quando se suspeita de uma planta tais como cianogênicas e a intoxicação por nitritos, quando pode ser confirmada pela presença e/ou quantificação do princípio ativo.
Controle e profilaxia das intoxicações por plantas tóxicas
Na maioria das intoxicações por plantas não se conhecem tratamentos específicos (antídotos), devendo ser realizados tratamentos sintomáticos. Para algumas existem tratamentos que permitem uma rápida recuperação do animal, caso das intoxicações por ácido cianídrico e nitritos.
Uma medida de controle após a suspeita de intoxicação por planta é retirar os animais do local onde está ocorrendo a doença. Uma vez diagnosticada qual a causa a intoxicação, os animais poderão ser colocados novamente na área se forem modificadas as condições epidemiológicas que determinaram a intoxicação, ou se forem tomadas medidas profiláticas eficientes.
Profilaxia
1. Medidas agronômicas da formação de pastos. Empregar espécies de plantas e aplicação correta de técnicas agronômicas (formas e época de lavração, fertilizações, rotação de cultivos) não permitam que outra espécie potencialmente tóxica venha a ser dominante. Usar sementes de qualidade comprovada evita casos de doenças provenientes por infecção por microrganismos por ex. na festuca infectado por Acremonium coenophialum.
2. Técnicas de manejo de pastagens. No pastoreio, utilizar diferentes espécies animais, levando em consideração a diferença de susceptibilidade e/ ou grau de ingestão da planta. Ex. Pastoreio com ovinos para evitar a proliferação do Senecio spp.
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Fontes consultadas:
Plantas tóxicas de interesse na pecuária - Palestra de Mitsue Haraguchi, do Instituto Biológico (http://www.biologico.agricultura.sp.gov.br/uploads/docs/bio/v65_1_2/haraguchi.pdf).
Plantas tóxicas de interesse pecuário: importância e formas de estudo - Raquel Ribeiro Barbosa , Martin Rodrigues Ribeiro Filho , Idalécio Pacífico da Silva , Benito SotoBlanco (file:///C:/Users/julia/Downloads/253-Texto%20do%20artigo-650-1-10-20070523.pdf)
Plantas Tóxicas em Pastagens: Cafezinho (Palicourea marcgravii St. Hill, Família Rubiaceae) - Pérsio Sandir D’Oliveira, Alexandre Magno Brighenti, Vânia Maria de Oliveira, João Eustáquio Cabral de Miranda (https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1095928/1/COT85PlantasToxicasCafezinho.pdf)
As perdas econômicas causadas pela ingestão de plantas tóxicas podem ser diretas ou indiretas. As diretas estão relacionadas com a morte de animais, diminuição dos índices reprodutivos e da produtividade (carne e leite) dos sobreviventes. Já as indiretas incluem os custos de controle das plantas tóxicas nas pastagens; a construção de cercas para evitar as intoxicações; a alteração do programa de pastejo; redução do valor da terra; despesas com a compra de animais de reposição e despesa com o diagnóstico e tratamento das intoxicações.
Poucos estados brasileiros apresentam estatísticas sobre as perdas causadas pelo motivo em questão. No Rio Grande do Sul, com base em necropsias, estima-se que 10% a 14% das mortes de bovinos sejam causadas pela ingestão de plantas tóxicas, ou cerca de 64.000 a 90.000 cabeças por ano; em Santa Catarina, num período de 12 anos, verificou-se que esas plantas causaram 13,9% do total de mortes do rebanho, com estimativa de perdas anuais de 20.574 cabeças.
Muitos conceitos equivocados vêm sendo disseminados a respeito das plantas tóxicas. Um deles se refere à alegada existência de instinto nos animais, o que os protegeria da ingestão de plantas tóxicas. No entanto, o consumo de plantas pelos animais é condicionado pela satisfação que o animal tem ao ingerir o alimento. Também está bastante disseminado o conceito de que a toxicidade das plantas estaria relacionada à presença de lactescência, o que não é verídico, pois a maioria das plantas tóxicas não apresenta esta característica e nem toda as plantas lactescentes são tóxicas. Além disso, muitos consideram que algumas plantas sejam capazes de promover intoxicação com poucas folhas e que os efeitos surjam imediatamente. Entretanto, nenhuma das plantas conhecidas é tão tóxica a ponto da morte ocorrer poucos minutos após a ingestão de poucas folhas.
Princípio tóxico
O princípio tóxico de uma planta consiste em uma substância ou um conjunto de substâncias quimicamente bem definidas, de diferentes ou mesma natureza, capazes de quando em contato com o organismo causar intoxicação.
A intoxicação depende da quantidade de substância tóxica absorvida, da natureza dessa substância e da via de introdução.
Tipos de intoxicação
De acordo com o tempo de exposição do princípio tóxico, a intoxicação pode ser manifestada de dois tipos:
1. Intoxicação aguda, quase sempre por ingestão acidental de uma planta ou de algumas de suas partes que é tóxica, surgindo sintomas em tempo relativamente curto. Por ex. Baccharis coridifolia (0,25 a 0,50 g/kg de peso vivo no outono em bovinos);
2. Intoxicação crônica, conseqüentemente à ingestão continuada, acidental ou propositada de certas espécies vegetais, responsável por distúrbios clínicos muitas vezes complexos e graves. Ex.: lesões hepáticas em bovinos que se alimentam de Senecio.
A ocorrência, frequência e distribuição geográfica das plantas tóxicas podem ser determinadas por diversos fatores, por exemplo:
1. Palatabilidade. As intoxicações ocorrem tanto por plantas não palatáveis como palatáveis. Dentro desta incluem-se, principalmente, as forrageiras, como os sorgos, que podem causar intoxicação por ácido cianídrico e as leguminosas. Outras plantas pouco palatáveis são ingeridas somente em condições especiais.
2. Fome. Este fator é importante uma vez que os animais consomem as plantas tóxicas em consequência de carência de forragem ou por período de privação de alimento. Muitas vezes, quando as pastagens têm pouca disponibilidade de forragem, principalmente, no inverno ou em épocas de estiagem, algumas plantas tóxicas permanecem verdes tais como Senecio spp. e Ipomoea carnea.
3. Sede. Quando os animais são transportados, eles bebem água devido a sede e, assim, perdem a palatabilidade e a capacidade de seleção. Consequentemente, ingerem plantas tóxicas pouco palatáveis.
4. Desconhecimento. Algumas plantas como Baccharis coridifolia (mio-mio) são ingeridas somente por animais que as desconhecem, por terem sido criados em lugares onde não existe a planta.
5. Acesso às plantas tóxicas. Os animais se intoxicam por ingestão somente quando têm acesso a elas após essas árvores serem cortadas ou derrubadas por ventos.
6. Dose tóxica.
7. Período de ingestão.
8. Variação de toxicidade. Podem existir variações de toxicidade dentro de uma espécie, devido a diversos fatores: diferentes variedades, épocas do ano, fase de crescimento, tipo de solo, fertilizações. Algumas plantas como Senecio spp. e Sorghum spp. são mais tóxicas durante a sua fase de crescimento, outras como Baccharis coridifolia, durante a floração e Amaranthus spp. na frutificação. A espécie Lantana spp. pode apresentar variações de toxicidade entre uma variedade e outra.
Principais plantas tóxicas de interesse veterinário
No Brasil, 88 espécies de plantas tóxicas foram descritas, pertencentes a 50 gêneros. Apesar do grande número de espécies, as identificadas como causadoras de perdas econômicas importantes são relativamente poucas. TOKARNIA et al. (2000) consideram que as plantas que causam “morte súbita” são responsáveis por aproximadamente 60% de todas as perdas causadas por plantas tóxicas no país. Dentre estas, a Palicourea marcgravii, conhecida como erva do rato, que contém ácido monofluoracético, é a planta tóxica mais importante do Brasil, ocasionando perdas severas em quase todo o país exceto na região Sul. Outras plantas importantes com "morte súbita" são Arrabidaea bilabiata, Arrabidaea japurensis na região Norte e Mascagnia rigida na região Nordeste (Tabela 1).
Tabela 1 - Principais plantas tóxicas de interesse pecuária
Diagnóstico das intoxicações por plantas
O diagnóstico das intoxicações por plantas é realizado pelo conhecimento da ocorrência de plantas tóxicas na região, das doenças causadas por elas, a constatação dos sinais clínicos e a sua evolução. Os dados epidemiológicos são de grande importância, tais como a presença da planta, toxicidade, frequência da doença, época de ocorrência e condições em que ocorre a ingestão.
Em alguns casos, intoxicações com plantas hepatotóxicas e nefrotóxicas, o estudo bioquímico sanguíneo pode apresentar informações importantes para o diagnóstico diferencial. Em outros casos, realização de necropsia e exame histopatológico são necessários.
Os estudos toxicológicos são importantes para o diagnóstico quando se suspeita de uma planta tais como cianogênicas e a intoxicação por nitritos, quando pode ser confirmada pela presença e/ou quantificação do princípio ativo.
Controle e profilaxia das intoxicações por plantas tóxicas
Na maioria das intoxicações por plantas não se conhecem tratamentos específicos (antídotos), devendo ser realizados tratamentos sintomáticos. Para algumas existem tratamentos que permitem uma rápida recuperação do animal, caso das intoxicações por ácido cianídrico e nitritos.
Uma medida de controle após a suspeita de intoxicação por planta é retirar os animais do local onde está ocorrendo a doença. Uma vez diagnosticada qual a causa a intoxicação, os animais poderão ser colocados novamente na área se forem modificadas as condições epidemiológicas que determinaram a intoxicação, ou se forem tomadas medidas profiláticas eficientes.
Profilaxia
1. Medidas agronômicas da formação de pastos. Empregar espécies de plantas e aplicação correta de técnicas agronômicas (formas e época de lavração, fertilizações, rotação de cultivos) não permitam que outra espécie potencialmente tóxica venha a ser dominante. Usar sementes de qualidade comprovada evita casos de doenças provenientes por infecção por microrganismos por ex. na festuca infectado por Acremonium coenophialum.
2. Técnicas de manejo de pastagens. No pastoreio, utilizar diferentes espécies animais, levando em consideração a diferença de susceptibilidade e/ ou grau de ingestão da planta. Ex. Pastoreio com ovinos para evitar a proliferação do Senecio spp.
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Fontes consultadas:
Plantas tóxicas de interesse na pecuária - Palestra de Mitsue Haraguchi, do Instituto Biológico (http://www.biologico.agricultura.sp.gov.br/uploads/docs/bio/v65_1_2/haraguchi.pdf).
Plantas tóxicas de interesse pecuário: importância e formas de estudo - Raquel Ribeiro Barbosa , Martin Rodrigues Ribeiro Filho , Idalécio Pacífico da Silva , Benito SotoBlanco (file:///C:/Users/julia/Downloads/253-Texto%20do%20artigo-650-1-10-20070523.pdf)
Plantas Tóxicas em Pastagens: Cafezinho (Palicourea marcgravii St. Hill, Família Rubiaceae) - Pérsio Sandir D’Oliveira, Alexandre Magno Brighenti, Vânia Maria de Oliveira, João Eustáquio Cabral de Miranda (https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1095928/1/COT85PlantasToxicasCafezinho.pdf)