Tristeza parasitária bovina: cuidado com o estresse na desmama!
Postado em: 24/04/2020 | 5 min de leitura
Escrito por:
Por Viviani Gomes e Natália Sobreira Basqueira, em artigo publicado anteriormente no site MilkPoint.
O processo de desmama é um dos maiores desafios na criação de bezerras. A desmama é um momento estressante, visto que ocorre a transição entre a dieta líquida para a sólida, que culmina com a diminuição gradual no tamanho e capacidade do estômago verdadeiro (abomaso) e aumento gradual dos pré-estômagos (rúmen, retículo e omaso). Este processo é fundamental para que as bezerras se tornem ruminantes.
Qualquer outro manejo (descorna, reagrupamento, desverminações e vacinações), realizado ao mesmo tempo que o desmame, pode exacerbar o estresse, enfraquecer a resposta imune, tornando os animais menos resistentes aos micro-organismos causadores de doenças.
O principal fator de risco associado às doenças a partir do desmame é representado pelos baixos títulos de anticorpos maternos adquiridos pela ingestão do colostro, associado à imaturidade do sistema imune das bezerras. O sistema imune das bezerras ainda está aprendendo a responder contra os micro-organismos causadores de doenças no momento em que são desmamadas. Este período é chamado de “janela imunológica”. Soma-se a este fato, o estresse oriundo do reagrupamento, mudanças de dieta e adaptação ambiental aos quais os animais são submetidos ao desmame.
O estresse está associado à liberação do hormônio cortisol que possui efeitos negativos sobre os principais mecanismos da resposta imune: diminuição da capacidade dos neutrófilos e macrófagos migrar do sangue aos tecidos, menor capacidade dos neutrófilos e macrófagos em engolfar e destruir os micro-organismos; menor resposta proliferativa dos linfócitos, dentre outros.
A queda na imunidade das bezerras as deixa mais vulneráveis a doenças, sendo que uma das principais é a tristeza parasitária bovina.
O processo de desmama é um dos maiores desafios na criação de bezerras. A desmama é um momento estressante, visto que ocorre a transição entre a dieta líquida para a sólida, que culmina com a diminuição gradual no tamanho e capacidade do estômago verdadeiro (abomaso) e aumento gradual dos pré-estômagos (rúmen, retículo e omaso). Este processo é fundamental para que as bezerras se tornem ruminantes.
Qualquer outro manejo (descorna, reagrupamento, desverminações e vacinações), realizado ao mesmo tempo que o desmame, pode exacerbar o estresse, enfraquecer a resposta imune, tornando os animais menos resistentes aos micro-organismos causadores de doenças.
O principal fator de risco associado às doenças a partir do desmame é representado pelos baixos títulos de anticorpos maternos adquiridos pela ingestão do colostro, associado à imaturidade do sistema imune das bezerras. O sistema imune das bezerras ainda está aprendendo a responder contra os micro-organismos causadores de doenças no momento em que são desmamadas. Este período é chamado de “janela imunológica”. Soma-se a este fato, o estresse oriundo do reagrupamento, mudanças de dieta e adaptação ambiental aos quais os animais são submetidos ao desmame.
O estresse está associado à liberação do hormônio cortisol que possui efeitos negativos sobre os principais mecanismos da resposta imune: diminuição da capacidade dos neutrófilos e macrófagos migrar do sangue aos tecidos, menor capacidade dos neutrófilos e macrófagos em engolfar e destruir os micro-organismos; menor resposta proliferativa dos linfócitos, dentre outros.
A queda na imunidade das bezerras as deixa mais vulneráveis a doenças, sendo que uma das principais é a tristeza parasitária bovina.
No Brasil, a Tristeza Parasitária Bovina é causada pela Babesia bovis, Babesia bigemina e Anaplasma marginale, transmitidas pelo carrapato (Riphicephalus microplus) e moscas hematófagas (Tabanídeos - conhecida como mutuca; Stomoxys calcitrans - conhecida como mosca do estábulo), mosquitos (Culex e Aedes) ou por material contaminado com o sangue de animais infectados como, por exemplo, agulhas reutilizadas.
A Babesia e Anaplasma parasitam as células vermelhas do sangue (as hemácias), causando a principal manifestação clínica da doença que é a anemia. Os animais apresentam um olhar triste, fraqueza, mucosas oculares e vaginais esbranquiçadas ou amareladas, desidratação, pelos arrepiados e febre. Se a infecção for causada pela Babesia, os animais podem apresentar urina escura (avermelhada ou cor de coca cola).
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Figura 1 - Bezerra no lote de desmamadas magra e com pelos arrepiados que deve ser examinada para o diagnóstico de Tristeza Parasitária Bovina
Figura 2 - Bezerra apresentando muflo seco (narinas) devido à desidratação e mucosas esbranquiçadas
Figura 2 - Bezerra apresentando muflo seco (narinas) devido à desidratação e mucosas esbranquiçadas
O monitoramento contínuo dos animais é importante para a detecção precoce da doença e maiores chances de cura. Para isso, indica-se que a equipe do bezerreiro seja treinada para fazer a observação e avaliação dos animais ao menos duas vezes por semana. Indica-se a avaliação dos seguintes parâmetros: coloração das mucosas, temperatura, hematócrito e esfregaço sanguíneo (se possível).
O hematócrito deve ser realizado para a averiguação do grau de anemia e a necessidade de transfusão sanguínea, pois informa quantos % do volume sanguíneo total é representado pelas hemácias (glóbulos vermelhos). Os valores normais para o hematócrito variam de 26 a 33% em bezerras entre 60 a 180 dias de vida.
O primeiro passo para o tratamento dos animais é a eliminação dos agentes causais com o uso do diaceturato de diminazine (3 a 8mg/Kg) associado ao antibiótico enrofloxacina (dose de 7,5 mg/kg) ou tetraciclina longa ação (dose de 20 mg/kg).
Facury-Filho et al. (2012) demonstraram que a enrofloxacina provoca uma redução mais rápida na parasitemia (número de hemácias parasitadas por Anaplasma) com recuperação clínica e do hematócrito mais rápida em relação ao uso da tetraciclina. O tratamento suporte é fundamental para a resolução do problema. Animais que apresentarem hematócrito abaixo de 15% deverão receber transfusão sanguínea, de acordo com o protocolo estabelecido pelo médico veterinário.
A prevenção da tristeza pode ser realizada com protocolos de quimioprofilaxia. Pode-se aplicar no desmame uma dose de imidocarb (1 a 2 mg/Kg, via subcutânea) associado à tetraciclina de longa ação (2 a 4mg/Kg, via intramuscular). A tetraciclina deve ser repetida 2x com intervalos de 21 dias. Este protocolo de quimioprofilaxia possui algumas desvantagens que devem ser consideradas pelo produtor:
1. O imidocarb pode ser tóxico se aplicado em excesso, sendo assim é importante pesar o animal para calcular a dose correta. No caso de reações adversas, a atropina 1% pode ser utilizada como antídoto, sob a orientação do médico veterinário;
2. O uso de subdoses de tetraciclinas (abaixo da terapêutica) pode resultar em resistência bacteriana a este antibiótico. Por estes motivos, alguns produtores preferem monitorar os animais a partir do desmame e realizar o tratamento precoce assim que a doença for manifestada.
Para a prevenção da doença também é importante fazer o controle dos carrapatos e insetos. Para tanto, recomenda-se fazer o biocarrapaticidograma para avaliar a resistência dos carrapatos aos diversos produtos carrapaticidas disponíveis no mercado. O resultado fica pronto em 30 dias e você terá a correta indicação do produto à ser utilizado. Recomenda-se a repetição deste teste a cada ano, para que a troca por outro produto seja orientada por um resultado recente.
Na parte IVb da série sanidade na criação de bezerras serão abordados as demais doenças de importância no período pós-desmame: coccidiose, verminose, clostridioses e ceratoconjuntivite infecciosa.
* Baseado no artigo Sanidade na criação de bezerras - Parte IVa: desmame e tristeza parasitária bovina, de Viviani Gomes e Natália Sobreira Basqueira, publicado no site MilkPoint.
Fonte consultada:
Artigo Sanidade na criação de bezerras - Parte IVa: desmame e tristeza parasitária bovina, de Viviani Gomes e Natália Sobreira Basqueira (https://www.milkpoint.com.br/colunas/viviane-gomes/sanidade-na-criacao-de-bezerras-parte-iva-desmame-e-tristeza-parasitaria-bovina-102976n.aspx)
* Baseado no artigo Sanidade na criação de bezerras - Parte IVa: desmame e tristeza parasitária bovina, de Viviani Gomes e Natália Sobreira Basqueira, publicado no site MilkPoint.
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Artigo Sanidade na criação de bezerras - Parte IVa: desmame e tristeza parasitária bovina, de Viviani Gomes e Natália Sobreira Basqueira (https://www.milkpoint.com.br/colunas/viviane-gomes/sanidade-na-criacao-de-bezerras-parte-iva-desmame-e-tristeza-parasitaria-bovina-102976n.aspx)
Referência bibliográfica:
FACURY-FILHO, E.J.; CARVALHO, A.U.; FERREIRA, P.M. et al. Effectiveness of enrofloxacina for the treatment of experimentally-induced bovine anaplasmosis. Revista Brasileira Parasitologia Veterinária, v.21, p.32-36, 2012.