10 perguntas e respostas sobre agricultura regenerativa

Postado em: 12/08/2022 | 8 min de leitura Escrito por:
As preocupações ambientais relacionadas às práticas agrícolas e pecuárias vêm crescendo e alguns sistemas de produção estão ganhando cada vez mais visibilidade e importância. É o caso da agricultura regenerativa, que visa proporcionar uma melhoria no solo e outros aspectos ambientais. Além disso, visa garantir condições de vida e trabalho adequadas a todos os envolvidos na atividade.

Sabendo dos questionamentos acerca deste sistema, além das 10 perguntas e respostas, preparamos um E-book gratuito e completo. Para baixá-lo, clique no banner ao longo do texto. 

1) O que é agricultura regenerativa?

Não existe uma definição universal do termo, mas é uma forma de pensar o ecossistema agrícola e um conjunto de práticas focadas na melhoria da saúde do solo. As práticas regenerativas incluem a redução da perturbação do solo por meio de cultivo mínimo ou plantio direto, plantio de diversas culturas de cobertura sem deixar os campos descobertos, diversificar as rotações de culturas em detrimento das monoculturas, promover a biodiversidade e usar pastagens rotativas de gado para fertilizar os campos com estrume e estimular o crescimento das plantas.

2) Agricultura regenerativa é a mesma coisa que orgânica?

O Instituto Rodale, que apoia a agricultura orgânica, reivindica o crédito por cunhar a frase “agricultura orgânica regenerativa” na década de 1980. A agricultura orgânica – em sua definição tradicional – está focada na saúde do solo e compartilha muitas práticas com as da agricultura regenerativa, incluindo plantio de plantas de cobertura, promoção da fertilidade do solo e aumento da biodiversidade. Mas orgânico e regenerativo não são necessariamente a mesma coisa.

Por um lado, o termo “orgânico certificado” pode ser definido sob a lei federal, mas os detalhes da agricultura regenerativa podem ser definidos de maneiras diferentes por pessoas diferentes.

Embora os requisitos orgânicos do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) incluam muitas práticas regenerativas, eles também permitem a produção hidropônica sem solo e operações com animais confinados, manejo criticado e rejeitado por muitos no movimento regenerativo.

Além disso, notadamente, a proibição de pesticidas e fertilizantes sintéticos é uma pedra angular da agricultura orgânica certificada, mas atualmente não há um consenso no movimento regenerativo sobre se os agricultores regenerativos devem eliminar seu uso.

3) Por que tem tanta gente animada com a agricultura regenerativa?

A resposta é simples: mudança climática. Como o solo é fixador natural de carbono, acredita-se que a implantação desse tipo de agricultura em larga escala pode reverter as mudanças climáticas. Eles argumentam que a agricultura poderia compensar suas próprias emissões – que representam cerca de 10% de todas as emissões dos EUA (metano do gado, óxido nitroso de fertilizantes, dióxido de carbono de máquinas) – e ajudar a compensar as emissões de outras indústrias poluentes. A administração do presidente Joe Biden, grandes empresas de alimentos como General Mills, Cargill e Danone, e até marcas de moda estão apostando no potencial de compensação de carbono da agricultura regenerativa.

4) Estas reivindicações sobre solos agrícolas mitigando as mudanças climáticas são possíveis?

Alguns pesquisadores alertaram que essas alegações podem ser exageradas, questionando a quantidade de carbono que os agricultores podem armazenar no solo e por quanto tempo. Outros pesquisadores conhecidos continuam apoiando o potencial de fixação de carbono das práticas regenerativas. Mas todos concordam que vale a pena implementar a agricultura regenerativa em larga escala, não importa o que aconteça, porque seus benefícios econômicos e ambientais são incontáveis.

A melhoria da saúde do solo torna a agricultura mais fácil. O solo regenerado é melhor na retenção de água, menos propenso à erosão e mais resistente às mudanças climáticas. Por último, mas não menos importante, as práticas regenerativas podem restaurar a saúde de todo um ecossistema, levando ao retorno de polinizadores, insetos benéficos e espécies selvagens ameaçadas de extinção.
  


5) Por que tantos agricultores convencionais adotam práticas regenerativas?

O principal motivador para a adoção de práticas regenerativas é econômico. Reduzir a lavoura e o plantio de culturas de cobertura economiza dinheiro dos agricultores em mão de obra, energia, equipamentos e produtos químicos agrícolas. Para alguns agricultores, mudar para a agricultura regenerativa significa manter a agricultura familiar viva. A maioria dos agricultores convencionais começa com o plantio direto porque podem usar herbicidas para matar ervas daninhas. Mas alguns também estão fazendo coberturas e diversificando suas rotações. Outros convencionais, ainda, estão fazendo a transição de suas fazendas para a certificação orgânica.

Muitos agricultores orgânicos já plantam culturas de cobertura. Mas a adoção de práticas de plantio direto para reter carbono no solo tem sido difícil em fazendas orgânicas porque esses agricultores dependem do preparo do solo para o controle de ervas daninhas. Algumas pequenas fazendas orgânicas estão fazendo plantio direto, mas fazendas mecanizadas maiores – especialmente sistemas de vegetais orgânicos – ainda estão tentando descobrir como parar ou reduzir o cultivo sem afetar o rendimento das colheitas.

6) Como as grandes empresas de alimentos estão avançando na agricultura regenerativa?

As grandes corporações de alimentos acreditam que o fornecimento por agricultores que praticam agricultura regenerativa ajudará as empresas a reduzir suas emissões. “Acreditamos que as práticas regenerativas são uma oportunidade fundamental para continuarmos a reduzir nosso carbono em geral”, disse Deanna Bratter, chefe de desenvolvimento sustentável da Danone North America, que continua expandindo seu programa de laticínios regenerativos. A General Mills também lançou vários programas piloto para ajudar produtores de trigo e aveia e produtores de leite a implementar práticas regenerativas, prometendo promover práticas regenerativas em 1 milhão de acres de terras agrícolas até 2030. A Stonyfield está testando seu próprio piloto de laticínios regenerativos orgânicos e a Cargill se comprometeu a ajudar agricultores na implementação de práticas regenerativas em mais de 40 mil km² até 2030. As empresas oferecem treinamento, assistência técnica e algum financiamento para agricultores que desejam adotar métodos regenerativos.

7) Existe um rótulo de agricultura regenerativa em algum mercado do mundo?

Sim, mais de um! O Regenerative Organic Certified é um programa de certificação com requisitos para a saúde do solo, bem-estar animal e direitos do trabalhador rural. Para ser elegível para a certificação ROC, as fazendas e produtores devem primeiro ser certificados orgânicos. Eles são, então, avaliados para práticas adicionais, como pastejo rotacionado ou cultivo de plantas de cobertura durante todo o ano, e espera-se que as práticas mais rigorosas sejam implementadas ao longo do tempo. Os produtos ROC, feitos com ingredientes das fazendas com certificação de regeneração, já estão disponíveis em várias marcas.

O Certified Regenerative by AGW é um programa de certificação da A Greener World, uma organização sem fins lucrativos que gerencia vários programas de certificação. Atualmente em fase piloto, o Certified Regenerative é uma ferramenta de gestão que permite aos agricultores criar seu próprio caminho regenerativo, medido e auditado anualmente. Não requer certificação orgânica, mas incorpora os padrões de bem-estar animal da AGW, que são alguns dos mais fortes do mercado.

E a certificação Ecological Outcome Verification/Land to Market pelo Savory Institute acompanha os resultados na saúde do solo, biodiversidade e função do ecossistema. As marcas participam do programa acessando ingredientes de fornecedores regenerativos verificados. Por último, mas não menos importante, o Real Organic Project, um selo que homenageia a agricultura orgânica tradicional baseada no solo e no pasto, também promove políticas alinhadas aos ideais regenerativos.

8) O que os mercados de carbono têm a ver com agricultura regenerativa?

Nos EUA, o memorando de transição do governo Biden incluiu menção ao estabelecimento de um banco de carbono, ou mercado de carbono, um mecanismo para pagar os agricultores que armazenam carbono no solo usando práticas regenerativas. O presidente Biden mencionou isso novamente em seu discurso ao Congresso em abril.

Os agricultores receberiam créditos, que poderiam vender para empresas que buscam compensar suas próprias emissões. A ideia do mercado de carbono recebeu apoio de grandes fazendas e grandes grupos agrícolas, mas foi criticada por ambientalistas, pequenos agricultores e muitos defensores orgânicos. Enquanto isso, várias startups já lançaram mercados privados de carbono focados especificamente em agricultores e pecuaristas.

E no Brasil, como isso funciona? Atualmente existem 65 países ou regiões no mundo com precificação de carbono. Os vizinhos latinos México e Colômbia estão mais avançados neste tema, além da própria União Europeia. O Brasil ainda discute como fazer a regulação de seu mercado.

Em maio de 2022 foi anunciada a criação, via decreto pelo Executivo, das bases para o mercado de carbono regulado no Brasil. Se esperava que fosse aprovado o texto do Projeto de Lei 528, ainda em tramitação na Câmara Legislativa, que estava mais avançado na pauta. Ainda há pouca clareza sobre como funcionará.

9) Por que recompensar os agricultores por sequestrar carbono é problemático?

Como a agricultura regenerativa não é bem definida por uma única fonte, a adoção das práticas pelos agricultores está longe de ser homogênea. Na verdade, o plantio direto é muitas vezes um nome impróprio, já que a maioria dos agricultores de plantio direto volta regularmente a lavrar seu solo, liberando parte ou todo o carbono sequestrado de volta à atmosfera.

Além disso, pouquíssimos agricultores dos EUA cultivam plantas de cobertura – embora seus números estejam crescendo. De acordo com o Censo Agropecuário, as plantas de cobertura foram plantadas em apenas 6,7% das terras aptas para isso. E enquanto as culturas de cobertura são mais amplamente utilizadas pelos produtores orgânicos, as terras agrícolas orgânicas representam menos de 1% do total das terras agrícolas dos EUA.

Outro problema, disse o cientista do solo Ray Archuleta, é que a quantidade de carbono armazenada é variável, dependendo do clima, temperatura, umidade, tipo de vegetação e características do solo, de modo que os agricultores de todo o país não estão em pé de igualdade.

Além disso, a quantidade de carbono que o solo pode reter é finita e pode ser rapidamente perdida se um agricultor decidir mudar as técnicas agrícolas. Pagar aos agricultores para plantar culturas de cobertura que podem sugar carbono seria uma abordagem melhor, disse Archuleta, porque todos os agricultores podem fazê-lo e a área cultivada pode ser facilmente verificada.

10) Podemos mesmo medir o carbono do solo e outros benefícios ambientais?

Atualmente, medir o carbono do solo é um desafio. Amostras de solo, analisadas em laboratório, são caras e podem produzir resultados variados porque a matéria orgânica do solo flutua diariamente e varia dependendo da localização da amostra coletada. Além disso, a maioria das amostragens não mede o carbono do solo profundo nem leva em conta as flutuações sazonais.

As ferramentas de medição em desenvolvimento incluem uma ferramenta de amostragem portátil que os agricultores podem usar para testar o carbono no campo, dados de satélite e sensores remotos para mapear a gestão da saúde do solo e adoção de práticas, ou ferramentas para avaliar a biodiversidade de pássaros e insetos como um substituto da regeneração da paisagem.

As informações são de PCC Community Markets, traduzidas e adaptadas pela Equipe EducaPoint.

Mais informações:
contato@educapoint.com.br
Telefone: (19) 3432-2199
WhatsApp (19) 99817- 4082

 

Gostou do assunto? Assine o EducaPoint, a plataforma com vários conteúdos sobre esse e muitos outros temas!

Copyright © 2024 MilkPoint Ventures - Todos os direitos reservados
CNPJ 08.885.666/0001-86
Rua Tiradentes, 848 - 12º Andar - Centro - Piracicaba - SP