ILPF: Como melhorar o conforto térmico das vacas leiteiras
Postado em: 29/04/2021 | 5 min de leitura
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Bovinos com aptidão para produção leiteira devido ao seu maior consumo de alimentos, apresentam um considerável aumento na produção de calor metabólico e, consequentemente, dificuldade de equilíbrio térmico, quando submetidos a condições de calor ambiental.
Os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) ou agrossilvipastoris possuem grande potencial para contornar as condições climáticas adversas em regiões de clima tropical, que contribuem para a baixa produção de leite, por prevalecer altas temperaturas do ar, em virtude da elevada radiação solar incidente, e elementos que podem causar o estresse térmico nos animais (elevada temperatura, umidade, radiação e vento), afetando negativamente os processos fisiológicos dos animais e consequentemente a produção de leite e reprodução.
Em termos práticos, como um exemplo do efeito da integração foi comprovado que a utilização de sistemas silvipastoris (árvores + pastagem) em um sistema de leiteria na Colômbia proporcionou um incremento da produção de leite, de 10.585 para 12.702 L/ha/ano. No caso de vacas leiteiras, especialmente as de origem europeia, o consumo de alimento pode cair de 15 a 25% nos períodos de estresse calórico intenso. Dessa maneira, se a temperatura permanecer acima de 30°C por mais de 6 horas, a produção de leite pode se reduzir em 4 kg/dia para uma vaca que produza 27 kg/dia de leite, representando enormes prejuízos para o produtor.
Os sistemas de integração com árvores na produção leiteira tem inúmeros benefícios:
- Melhoria no conforto térmico ao fornecer sombra para o gado pois proporcionam um ambiente com temperatura mais amena;
- Melhoria do valor nutricional da pastagem;
- Possibilidade de suplementação alimentar para os animais como por exemplo feno ou silagem produzida a partir do componente agrícola;
- Redução do efeito da sazonalidade de produção da forrageira e, consequentemente, o aumento e estabilização da produção de leite;
- Além da proteção dos animais contra condições climáticas cada vez mais agressivas, as árvores podem propiciar fonte de alimento aos animais na forma de folhas e frutos;
- O sistema fornece segurança alimentar. A produção agrícola pode ser comercializada, mas também pode ser utilizada dentro da propriedade agregando valor ao produto final (leite e/ou carne). Plantas como milho, sorgo e milheto, por exemplo, podem ser utilizadas como fonte de alimentos para os rebanhos no período de escassez de alimentos (seca), garantindo a boa nutrição e desempenho dos animais nessa época do ano, evitando perdas de peso, de produtividade leiteira e até morte de animais. Juntamente com a produção dessas culturas com silagem, há a formação barata de pastagens que são utilizadas também pelo rebanho em períodos de início e meio de seca.
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Vacas cruzadas com zebuínos são mais tolerantes as variações climáticas. O problema principal das raças leiteiras de origem europeia está na adaptação ao clima tropical, decorrente da alta capacidade produtiva, proporcionando alterações fisiológicas e comportamentais, provocados pelo estresse pelo calor.
A maior adaptação dos zebuínos às condições de temperatura elevada está na sua capacidade de dissipação de calor por meio da sudorese de forma mais efetiva, pois possuem maior número de glândulas sudoríparas ou maior volume de secreção, pelos mais curtos e maior superfície em relação à massa corporal, apresentando assim, um mecanismo termorregulatório mais eficiente que os taurinos.
A redução no consumo de alimentos em gado leiteiro ocorre independentemente do seu estágio produtivo quando submetido a ambientes desafiadores, comprometendo a eficiência de utilização dos nutrientes da dieta. Houve redução de 49 e 55% da digestibilidade de matéria seca total e da proteína bruta, respectivamente, em animais estressados, comparado aos animais mantidos em conforto térmico. O grupo animal submetido ao conforto térmico permaneceu em ambiente com temperatura média de 21ºC, enquanto os animais em condições de estresse permaneceram em câmara bioclimática com temperatura média de 38ºC, durante todo o período experimental.
Por outro lado, os animais conseguem identificar locais sombreados que oferecem uma maior proteção contra a radiação solar, a fim de amenizar o estresse calórico ao qual se encontram.
O sombreamento de Acacia holosericea cultivada em sistema silvipastoril com 100 árvores/ha, proporcionou uma redução de 26% na carga radiante em relação ao tratamento com exposição solar, embora a redução do ITGU não tenha sido suficiente para atingir os valores estipulados para animais de origem europeia. Entretanto, nas regiões mais quentes do Brasil, dificilmente seja encontrado animais de linhagem europeia pura. A grande e maciça maioria é composta por animais cruzados com zebu em diferentes combinações.
Um sistema silvipastoril bem planejado pode proporcionar um ambiente adequado para a produção baseada em animais cruzados com aptidão leiteira em todas as épocas do ano. Em muitos casos, como no Brasil Central, o período seco é muito mais agressivo que o chuvoso em função das altas temperaturas, baixa nebulosidade e baixa umidade do ar. As nuvens durante o período chuvoso do ano amenizam essa condição.
Segundo dados de experimento conduzido na Zona da Mata em Minas Gerais, os animais despendem tempo igual ao sol e à sombra ao deitarem-se em busca de descanso. Este comportamento ocorre independente da época do ano, devido possivelmente a dispersão das árvores no piquete experimental, inferindo-se, portanto, ao sistema silvipastoril, a capacidade de amenizar as intempéries ambientais no entorno das copas das árvores, uma vez, no turno da tarde, no período de verão, há uma redução na temperatura do globo negro de 6,5ºC sob a copa em comparação ao pleno sol, sendo as árvores de maior altura e de copa globosa/densa, as que conferiram maior redução da irradiação solar.
Em condições de Centro-Oeste brasileiro, novilhas leiteiras que tinham maior oferta de sombra passaram a maior parte do seu tempo nas áreas de influência das árvores, seja na atividade de ócio, ruminação ou pastejo. No sistema com sombreamento localizado às margens do piquete, as novilhas procuraram mais a sombra nas horas mais quentes do dia para ruminação e ócio (Figura 1), enquanto que aquelas sem oferta de sombra, simplesmente permaneceram em ócio ao redor dos bebedouros com reduzida atividade de pastejo nesses horários (Figura 2).
Figura 1: Novilhas leiteiras em ócio e pastejando em sistemas silvipastoris no Brasil Central.
Figura 1: Novilhas leiteiras em ócio e pastejando em sistemas silvipastoris no Brasil Central.
Figura 2: Novilhas leiteiras em ócio e pastejo em sistemas pastoril sem árvores no Brasil Central.
Na região da Amazônia ocidental, também foram encontrados fortes benefícios do uso de espécies arbóreas nas pastagens para propiciar melhor ambiente a bovinos com linhagem europeia.
* Texto baseado no Capítulo 16 do livro ILPF: inovação com integração de lavoura, pecuária e floresta, da Embrapa.
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Fonte consultada:
Livro ILPF: inovação com integração de lavoura, pecuária e floresta, Capítulo 16: Princípios da pecuária leiteira em sistemas de ILPF, por Roberta Aparecida Carnevalli, Admar Junior Coleti, Hélio Tonini, Aline Barros da Silva, Carolina Della Giustina e Jorge Lulu. (https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1113064/ilpf-inovacao-com-integracao-de-lavoura-pecuaria-e-floresta)
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