Como ocorre o balanço energético negativo em vacas leiteiras
Postado em: 06/02/2020 | 4 min de leitura
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As vacas leiteiras de alta produção necessitam imediatamente após o parto, ingerir grande quantidade de nutrientes, particularmente energia e proteína para serem capazes de sustentar a síntese de leite que aumenta linearmente até atingir um pico entre as 4 e 8 semanas pós-parto. No entanto, o pico de ingestão de matéria seca ocorre somente por volta das 10 a 12 semanas pós-parto. Este atraso no pico de ingestão de matéria-seca relativamente ao de produção leiteira resulta num balanço energético negativo (BEN) que dura cerca de 60 dias.
Assim, o BEN é particularmente importante na vaca recém-parida. Normalmente, o BEN começa bem próximo ao dia do parto. Observe a figura abaixo:
Fonte: Grummer (1995)
A figura mostra o período seco como um todo. Na linha vermelha há a marcação do parto e, depois, as três primeiras semanas de lactação. Nota-se que, antes de a vaca parir, o consumo de matéria seca é maior do que as exigências energéticas do animal. Dessa forma, o balanço energético é positivo, ou seja, as calorias ingeridas superam as calorias gastas na mantença da vaca e na energia direcionada à terminação do feto.
Nota-se no gráfico que na última semana antes do parto o consumo começa a cair bruscamente. Esse consumo cai, aproximadamente, 30% em relação ao consumo anterior. Ainda assim, na última semana, o balanço energético normalmente ainda não é negativo, mas se aproxima de uma neutralidade.
Já no dia do parto, há uma queda muito pronunciada no consumo alimentar. A partir do parto, há uma inversão dos valores de consumo e de exigência. A partir do início da lactação, as calorias que entram via ingestão não conseguem superar as calorias que saem por conta das exigências nutricionais da vaca leiteira. Essas exigências são para mantença, mas, principalmente, para produção de leite. Nesse caso, o balanço energético passa a ser negativo.
A magnitude do balanço energético varia de acordo com a aptidão leiteira da vaca. Ao redor do dia 10 ou 15 após o parto, essa magnitude pode ser bastante expressiva, podendo alcançar -5 a -10 calorias em termos de balanço energético.
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Observe abaixo as exigências energéticas da vaca dois dias antes e dois dias depois do parto:
Deste modo, até que os nutrientes fornecidos através da ingestão de matéria seca igualem no mínimo às necessidades nutricionais de produção, a vaca irá mobilizar energia a partir das reservas corporais acumuladas no final da lactação anterior ao período seco, alguma proteína muscular e cálcio dos ossos, resultando daí uma perda considerável de condição corporal.
Esse quadro de BEN no início da lactação determina baixas concentrações plasmáticas de glicose e insulina e elevadas concentrações de ácidos graxos não esterificados, corpos cetônicos e ureia no sangue. A alteração nesses hormônios e metabólitos irá interferir na composição do fluido folicular e alterar a qualidade dos oócitos e embriões.
No período de transição, também ocorrem alterações hepáticas em vacas de alta produção. A hipoinsulinemia provoca redução na expressão hepática do receptor do GH, o que causa o desacoplamento do eixo somatotrófico, apesar das elevadas concentrações circulantes de GH no início da lactação. O efeito final é a redução nas concentrações plasmáticas de IGF-I, outra adaptação metabólica para priorizar glicose para a glândula mamária
Os efeitos do BEN são transitórios, e sua intensidade reduz com a reversão do balanço energético negativo para positivo, com o decorrer da lactação, devido ao aumento do consumo de matéria seca e à redução na produção de leite, após o pico de lactação. O problema do BEN é a sobreposição da sua ocorrência com o período ótimo de reprodução. Para garantir um intervalo de partos próximo a 12 meses, as vacas devem ser inseminadas e tornarem-se gestantes entre 45 e 135 dias de lactação (média de 85 dias de período de serviço). Pela figura, observa-se que esse período coincide com o período de reversão do balanço energético negativo para positivo.
Adaptado de Kutches, A. Animal Nutriotion and Health, Nov-dez, 1983.
Embora o BEN possa ser minimizado através de um correto manejo do período seco e do período de transição da vaca, é necessário proceder à sua monitorização nos primeiros meses pós-parto para que se tomem as devidas providências em termos de manejo buscando minimizar seus impactos negativos na produção e na reprodução de vacas leiteiras, especialmente nas de alta produção.
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Fontes consultadas:
Curso Manejo e nutrição de vacas em transição (https://www.educapoint.com.br/v2/curso/pecuaria-leite/nutricao-vacas-transicao/)
Fontes consultadas:
Curso Manejo e nutrição de vacas em transição (https://www.educapoint.com.br/v2/curso/pecuaria-leite/nutricao-vacas-transicao/)
Medicina da produção: monitorização do balanço energético negativo (BEN) em vacas leiteiras (https://www.researchgate.net/publication/26603462_Medicina_da_producao_monitorizacao_do_balanco_energetico_negativo_BEN_em_vacas_leiteiras_-_Herd_health_management_negative_energy_balance_NEB_evaluation_in_dairy_cattle)
Tópicos avançados em reprodução de bovinos leiteiros (https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1021912/1/Cap6Lv2015SustentabilidadeTopicos.pdf)