Blitz terapia contra Streptococcus agalactiae na fazenda: Você sabe o que é?

Postado em: 30/03/2022 | 4 min de leitura Escrito por:
O Streptococcus agalactiae é uma bactéria Gram-positiva e um dos mais conhecidos patógenos contagiosos causadores de mastite bovina, cujo principal reservatório é a glândula mamária. Pode ser também isolada em superfícies contaminadas com leite, como o equipamento de ordenha e as mãos dos ordenhadores. Nas vacas leiteiras, tem prevalência variável, menos que 10% em países como EUA e Canadá, aproximadamente 50% na América do Sul e mais que 90% na China.
 
Nas vacas leiteiras, a mastite causada por S. agalactiae apresenta-se preferencialmente na forma subclínica, com grande aumento da CCS (>1.000.000 céls/mL) e em alguns casos, há substituição do tecido secretor por tecido fibroso. Além disso, pode aumentar a contagem bacteriana total (CBT) do leite de tanque devido à alta eliminação de S. agalactiae pelas vacas infectadas.
 
Antes das modernas medidas de controle, a S. agalactiae era uma das principais causas de mastite em vacas leiteiras nos países desenvolvidos, mas houve redução significativa e até erradicação deste agente em muitos países. Por outro lado, as infecções causadas por esse agente infeccioso ainda são um desafio em países onde as estratégias de controle para patógenos contagiosos ainda não estão muito bem empregadas, como nos países da América do Sul, incluindo o Brasil.
 
O controle e a erradicação do S. agalactiae pode ser realizado basicamente por meio de dois programas de manejo diferentes. O primeiro é baseado na realização de um pós-dipping eficiente concomitantemente ao tratamento de todos os animais na secagem (terapia da vaca seca) independentemente do status de infecção. O segundo baseia-se em programa agressivo de diagnóstico e tratamento sistemático dos animais infectados, denominado “blitz terapia”.
 
Blitz terapia
 
A blitz terapia é realizada de maneira complementar ao pós-dipping e terapia da vaca seca. Sua grande vantagem é a rápida redução na prevalência de infecções  por S. agalactiae, quando comparado a um programa que envolva somente a adoção do pós-dipping e da terapia da vaca seca.
 
A desvantagem deste sistema está no alto custo inicial, reduzindo temporariamente o faturamento do produtor com a venda de leite no mês de implantação. Os principais gastos estão relacionados à coleta e ao exame microbiológico de amostras de leite, compra de medicamentos e descarte de leite. Além disso, há maior risco de ocorrência de resíduos de antimicrobiano no leite do tanque. No entanto, se a blitz terapia for realizada adequadamente pode-se atingir a erradicação de S. agalactiae nos rebanhos de forma rápida, efetiva e economicamente viável.
 
Em um sistema de blitz terapia o diagnóstico dos animais deve ser realizado de forma estratégica, possuir o menor custo possível e ser realizado por meio de testes que apresentem acurácia adequada, que permita a identificação correta dos animais infectados. Assim, a CCS e o exame microbiológico feitos de forma rotineira em vacas individuais tornam-se uma boa estratégia. A triagem dos animais que serão selecionados para exame microbiológico por meio da CCS reduz o número de amostras encaminhadas para o laboratório. Caso nenhum método de triagem for utilizado, recomenda-se a amostragem e exame microbiológico de todo o rebanho, seguido de exames microbiológicos sequenciais do leite dos animais tratados, e exames adicionais de todo o rebanho para o monitoramento. 
 
Além disso, o exame microbiológico do leite de todas as vacas recém paridas ou recém adquiridas é recomendado para manter o rebanho livre de infecção. Neste sistema, recomenda-se que os animais não responsivos ao tratamento (cerca de 5%) sejam descartados após duas rodadas de tratamento sem sucesso. Esta medida evita a disseminação de S. agalactiae no rebanho, reduzindo novas infecções de animais sadios e reinfecções dos animais tratados e curados. Vacas não responsivas ao primeiro tratamento e não identificadas em diagnósticos subsequentes irão se tornar reservatórios no rebanho e podem dificultar o sucesso da erradicação.

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A escolha do melhor sistema de controle e erradicação depende da prevalência inicial de S. agalactiae no rebanho. Em casos de alta prevalência, a blitz terapia pode ser necessária para reduzir rapidamente a CCS do tanque e possibilitar o retorno do leite a condições legais de comercialização. Além disso, em rebanhos livres de S. agalactiae, nos quais a infecção seja re-emergente, a blitz terapia torna-se pertinente para impedir a rápida disseminação do patógeno entre os animais.
 
É importante ressaltar que falhas na implementação e manutenção do pós-dipping adequado e da terapia da vaca seca podem inviabilizar o programa de erradicação de S. agalactiae, levando a altos gastos com medicamentos e descarte de leite.
 
Após a erradicação de S. agalactiae do rebanho, medidas de controle e monitoramento devem ser implementadas para garantir que os animais estejam realmente livres do patógeno, além de prevenir novas reinfecções. O exame microbiológico mensal do leite do tanque deve ser realizado por pelo menos seis meses após a última rodada de tratamento. 
 
Outra medida importante seria evitar a introdução de novos animais sem testes de diagnóstico de mastite, pois surtos causados por S. agalactiae ocorrem frequentemente após a compra de animais. É importante que vacas secas e novilhas também sejam incluídas no programa de coleta de amostras e diagnóstico, uma vez que podem representar uma fonte de reintrodução do patógeno no rebanho. Bezerras alimentadas com leite de descarte sem nenhum tratamento específico (pasteurização, acidificação, fervura) podem apresentar o comportamento de mamada cruzada, disseminando o patógeno entre os animais do plantel. Quando estes animais se tornarem lactantes (novilhas) podem reintroduzir S. agalactiae no rebanho.

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Fontes:
 
ROSSI, R.S. Novas estratégias para o aumento da eficácia em programas de erradicação de Streptococcus agalactiae em rebanhos bovinos leiteiros. 2017 (https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/150939/rossi_rs_me_bot.pdf?sequence=3&isAllowed=y)
 
É possível a transmissão de Streptococcus agalactiae entre bovinos e humanos? (https://www.milkpoint.com.br/colunas/marco-veiga-dos-santos/e-possivel-a-transmissao-de-streptococcus-agalactiae-entre-bovinos-e-humanos-218473/) 
 
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