Características dos tetos podem aumentar o risco de mastite subclínica em vacas leiteiras
Postado em: 04/03/2020 | 4 min de leitura
Escrito por:
Artigo publicado anteriormente no site MilkPoint.
Gustavo Freu* e Marcos Veiga
O canal do teto é uma barreira física natural contra os patógenos causadores de mastite. Entretanto, o contato constante dos tetos com os micro-organismos patogênicos presentes no ambiente de ordenha, e nos locais em que as vacas permanecem entre as ordenhas, aumenta o risco da vaca ter uma infecção da glândula mamária.
A pressão de seleção por vacas mais produtivas, com alta eficiência de ejeção e de fluxo de leite durante a ordenha, bem como o aumento do nível de vácuo para aumentar a velocidade de ordenha, são fatores que podem provocar alterações na anatomia dos tetos e na capacidade de resposta do sistema imune inato da glândula mamária. Por exemplo, as principais alterações que podem ocorrer são: falha na formação do tampão de queratina após a secagem; formação de calosidades na extremidade do teto que pode evoluir para ocorrência de hiperqueratose; e dificuldade no fechamento do canal do teto. Tais alterações estão associadas com o aumento do risco de entrada de micro-organismos pelo canal do teto. Além disso, estudos recentes demonstraram que a posição dos tetos (anteriores vs. posteriores) e suas características anatômicas apresentam relação com a ocorrência de mastite e com o aumento da CCS.
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Um estudo recente desenvolvido nos EUA avaliou as associações entre as características anatômicas dos tetos e a ocorrência de mastite subclínica. Nove rebanhos foram incluídos no estudo, dos quais foram coletadas 3713 amostras de leite de quartos mamários para avaliação de CCS. Além disso, foram avaliadas as características dos tetos em relação ao formato, comprimento, diâmetro na porção média, diâmetro da extremidade, e presença de hiperqueratose. Para a avaliação de hiperqueratose, foi utilizada uma classificação de 4 escores variando do grau 1 (tetos com extremidades saudáveis e íntegras) até o grau 4 (extremidades extremamente rugosas).
Quando comparados com os tetos posteriores, os anteriores apresentaram diâmetro similar na porção média, porém foram mais compridos e possuíram maior diâmetro na extremidade (Figura 1).
Figura 1: Características anatômicas médias dos tetos anteriores e posteriores avaliadas durante o estudo. Resultados seguidos por letras diferentes foram considerados estatisticamente diferentes.
O diâmetro e o comprimento dos tetos aumentam de acordo com o número de lactações das vacas. Quando se comparam as características dos tetos de vacas Holandesas de estudos de 30 anos atrás, percebe-se que os tetos anteriores apresentavam 50 mm de comprimento, enquanto que os tetos posteriores apresentavam 42 mm; e essas dimensões aumentavam à medida que as vacas ficavam mais velhas. No estudo atual, o comprimento dos tetos foi menor em comparação ao estudo prévio, e isso pode estar atribuído ao fato de as vacas serem mais jovens (média de duas lactações), além do processo de seleção genética das vacas nas últimas décadas, o qual priorizou tetos mais curtos.
Tetos anteriores com maior diâmetro na extremidade foram associados com o aumento de CCS, porém, esse resultado não foi encontrado para os tetos posteriores. Em outro estudo, estimou-se que para cada 1 mm de aumento na extremidade dos tetos anteriores ocorreu um aumento de 20% no risco de ocorrência de mastite clínica. Em geral, vacas de alta produção, com elevado fluxo de leite, e com diâmetro de teto superior à média do rebanho, são mais predispostas a desenvolverem infecção intramamária. Isso pode estar atribuído ao fato de que tetos com canais de maior diâmetro apresentam maior tempo e dificuldade para o completo fechamento.
Tetos com escore 4 de hiperqueratose (extremidade extremamente rugosas) foram associados com aumento da CCS. Tetos com escores elevados de hiperqueratose têm maior dificuldade de fechamento do canal e são mais difíceis de serem higienizados, o que aumenta as chances de ocorrência de mastite, especialmente por patógenos oportunistas presentes no ambiente, ou transmitidos pela via contagiosa durante a ordenha. Além disso, as lesões decorrentes da hiperqueratose podem ser colonizadas por patógenos contagiosos, por exemplo Staphylococcus aureus, os quais podem invadir a glândula mamária por colonização do canal do teto.
Os resultados deste estudo indicam que existe uma clara associação entre o aumento da CCS e o maior diâmetro da extremidade e a posição dos tetos (anteriores e posteriores). Tetos anteriores com maior diâmetro das extremidades foram associados com o aumento da ocorrência de mastite subclínica. No entanto, não foi observada essa mesma associação para os tetos posteriores.
GUARÍN, et al. Association of anatomical characteristics of teats with quarter-level somatic cell count. Journal of Dairy Science, v. 100, n. 1, p. 643-652, 2017.
*Gustavo Freu é mestrando do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP e pesquisador do Laboratório Qualileite-FMVZ/USP.