Casqueamento das vacas de leite: quando e por que fazer?

Postado em: 19/04/2022 | 7 min de leitura Escrito por:
A ocorrência e a incidência dos problemas de cascos estão relacionadas a diversos fatores, entre eles, os relacionados ao animal (como a conformação e imunidade, por exemplo), ao ambiente em que são mantidos (instalações, pisos, corredores, tipos de cama, etc.), à nutrição que recebem, às condições de manejo, entre outros.
 
Em sistemas de produção leiteira, a sanidade dos cascos é especialmente importante, uma vez que os problemas podais são umas das principais causas de eliminação precoce de animais do rebanho. Para se ter uma ideia, uma vaca leiteira com leve desconforto na locomoção causada pelos cascos alongados, pode estar deixando de produzir até 5 litros de leite por dia, dependendo da lesão, além de apresentar uma queda de 5% na taxa de concepção. Em um caso mais avançado, essa redução pode chegar a 30 litros de leite por dia, e uma queda de 50 a 100% na taxa de concepção.
 
Reduzir o aparecimento das lesões do casco e a incidência no rebanho é possível através da realização do casqueamento preventivo.

O casqueamento preventivo é importante para corrigir a postura do animal, uma vez que a vaca anda apoiada sobre sua unha que, assim como de qualquer outro animal, cresce. À medida que a unha cresce, o casco da vaca alonga. Como ela está apoiada sobre os cascos, a distribuição de seu peso e a postura que a vaca caminha se alteram. O acúmulo de peso em um lugar inadequado da sola do casco é um dos principais motivos de aparecimento de lesões de casco.
As estratégias básicas de quando fazer são:
 
* No mínimo 2x por ano;
* Durante período de secagem;
* Em torno de 80 a 100 dias após parto.
O ideal é não fazer o casqueamento imediatamente após o parto, pois neste período, os animais consomem menos alimentos. Neste período, a deposição de queratina e o crescimento do casco estão reduzidos, de forma que até cerca de 50-60 dias após o parto, a espessura da sola do casco fica fina, dificultando o trabalho de correção postural pelo casqueamento. Assim, o ideal é que o casqueamento seja feito quando a vaca já voltou para seu balanço energético normal. 
 
Eventualmente, as vacas podem ser casqueadas uma terceira vez se tiverem uma lactação longa e um período seco fica distante dessa faixa de 80 a 100 dias após o parto, de acordo com o ritmo de crescimento do casco do animal.

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Tenha em mente que sempre que um animal estiver mancando, é obrigatório fazer o casqueamento o mais rápido possível. A dor na locomoção indica a necessidade de se fazer o casqueamento, independente de quando foi feito o casqueamento preventivo.

Nesse caso, a primeira coisa que deve ser feita para responder às perguntas acima é uma avaliação sobre dor no sistema de locomoção animal.
 
Observe o animal abaixo:
Foto 1: Escore de locomoção 1
 
Nota-se que essa vaca tem uma postura normal quando está parada, suas pernas estão paralelas, o apoio não está em nenhum dos membros e sua linha de dorso está reta.
 
Quando esse animal é estimulado a caminhar lentamente, nota-se que ele continua com a linha de dorso reta e não defende nenhum dos membros enquanto caminha. Esse é um animal de Escore de locomoção 1 (normal). 
 
Além disso, essa vaca tem um passo longo, de 75 a 80 centímetros. Essa é a referência de um animal normal, que não tem dor em seu sistema de locomoção.

Foto 2: Escore de locomoção 2
 
Quando se observa essa vaca parada, sua linha de dorso continua reta, o que significa que esse animal também não tem dor em seu sistema de locomoção, nem no casco, em alguma articulação que limite sua movimentação.
 
Entretanto, quando se coloca esse animal para caminhar, percebe-se que ele arqueia suavemente a linha de dorso, mas não encurta o passo enquanto está caminhando. Esse animal não tem dor no casco.
 
O que acontece normalmente quando o animal caminha e muda o alinhamento da linha de dorso é que ele pode estar com o comprimento do casco um pouco alongado e, por conta disso, esse apoio fica muito concentrado na parte posterior do casco, alterando suavemente o alinhamento de sua linha de dorso.

Foto 3: Escore de locomoção 3
 
Esse animal, quando está parado, já se observa a linha de dorso arqueada, mas não se observa ele defendendo nenhum membro. Toda vez que um animal parado tem a linha de dorso arqueada indica que ele tem algum grau de dor no sistema de locomoção, seja no casco ou em alguma articulação.
 
Quando a vaca tem esse escore de locomoção grau 3, o prejuízo econômico da fazenda começa, pois há a redução diária de até 3% na ingestão de matéria seca e 5 litros na produção de leite. Pode ser que esse animal não tenha uma lesão exposta, ainda, como uma ulceração no casco, por exemplo. Pode ser que ele esteja em uma fase de laminite inicial, quando apresenta pequenos hematomas ou hemorragias na sola do casco.
 
Geralmente, animais nesse escore de locomoção estão com o casco alongado e a concentração de seu peso está aplicada em uma área restrita, o que aumenta a pressão naquele lugar do casco, provocando essas hemorragias de sola.
 
Ao caminhar, a linha de dorso desse animal arqueia um pouco mais. Nesse escore de locomoção, não é possível visualizar necessariamente qual dos membros o animal está defendendo e sentindo dor, mas com certeza esse animal está produzindo até 5 litros de leite a menos do que estaria produzindo se estivesse com um escore de locomoção 1 ou 2, quando não sente dor.
 
Além disso, esse animal com escore de locomoção 3 encurta o passo, que se torna também um pouco mais lento.

Foto 4: Escore de locomoção 4
 
Assim como no caso anterior, o animal nessa condição, parado, apresenta a linha do dorso arqueada, indicando dor no sistema de locomoção. Nesse caso, a dor é um pouco mais intensa do que no escore de locomoção 3 e é possível, com ele parado, ver qual membro ele evita colocar no chão.
 
Percebe-se que o animal defende o membro esquerdo quando parado. Todo animal que tem a linha de dorso arqueada está sentindo dor, passa menos tempo em pé e consome menos alimentos, o que significa prejuízo econômico para a fazenda. Nesse caso, há redução de até 7% na ingestão de matéria seca e de 17 litros na produção de leite.
 
Quando o animal caminha, a dor se acentua e fica muito nítido qual membro ele evita de colocar no chão. 

Foto 5: Escore de locomoção 5
 
Esse é o escore de locomoção de grau de dor mais severo. Quando o animal está parado, ele continua com a linha de dorso arqueada, é possível ver o membro que ele está sentindo dor, pois ele não consegue apoiá-lo no chão.
 
Quando se estimula o animal a caminhar, ele reluta a começar e, ao andar, observa-se que ele não consegue apoiar o peso do corpo no membro afetado. Esse problema está bem relacionado a um tipo de bactéria específica, que requer um tratamento específico.
 
Um animal desse deixa de produzir até 90%-100% do leite, dependendo do tempo de demora dessa intervenção. Há a redução diária de até 16% na ingestão de matéria seca e 30 litros na produção de leite.
Conclusões
 
Os escores de locomoção e avaliação de dor no sistema de locomoção vão de 1 a 5, onde 1 é normal e 5 é o grau de dor mais severo. A partir do escore 3, quando pode-se ver a linha de dorso do animal arqueada mesmo quando ele está parado, começa a perda econômica.
 
Além da perda econômica em produção de leite, há perdas relacionadas a índice de fertilidade. Vacas com escore 3 de locomoção têm uma queda de 5% na taxa de concepção, as de escore 4 têm queda de 10% na taxa de concepção, e as vacas de grau 5 podem ter uma queda de 50% a 100% na taxa de concepção.
 
O casqueamento pode ser feito de maneira preventiva, a fim de reduzir os problemas podais, e o escore de locomoção é uma das ferramentas para se trabalhar no casqueamento e antecipar os tratamentos dos problemas de locomoção, reduzindo a perda econômica.
 
Assim, quanto mais precocemente se identifica animais com dor, até no máximo o escore 3, consegue-se reduzir as perdas econômicas causadas pelos problemas de casco ao máximo possível.
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