Como o comportamento ingestivo de bovinos leiteiros pode influenciar na produção do rebanho?
Postado em: 23/11/2020 | 4 min de leitura
Escrito por:
* Artigo publicado anteriormente no site MilkPoint.
Por Marco Aurélio Factori
Por Marco Aurélio Factori
Olá pessoal, tudo certo? Dizem que o agro não para. Acho que não pode parar mesmo não é? Então vamos para o assunto de hoje.
Como sempre, gosto de contar histórias. Um belo dia, durantes minhas caminhadas pelas propriedades e palestras por aí, vi uma situação interessante. Em uma propriedade rural, observando os animais, me deparei com um produtor me dizendo que algumas vacas estavam produzindo menos leite sem explicação. Perguntei da dieta, da sala de ordenha e ele me dizia: tudo normal. Pois bem. Fui até o cocho de alimentação e presenciei uma comida de excelente qualidade. Então fiquei ainda mais intrigado. Mas como sou um pouco teimoso, fiquei observando e vi alguns animais batendo em outros. Coincidentemente notei que, em alguns casos, os que apanharam comiam de forma diferente dos que batiam e vice versa. Daí em diante fiquei um pouco pensativo, mas naquele momento resolvi o problema do produtor apenas dividindo lotes, de acordo com comportamento e produção leiteira parecidos. Daqui a pouco explico estes parecidos. Antes vamos para mais uma história:
Um dia fui a um evento com muitas pessoas. E como fala um professor que tive na faculdade, observe o espaçamento do cocho, opa, ... cocho não... mesa de alimentação do evento, ou ainda traduzindo, a mesa onde estava a comida. Pois bem. Notei que não era muito grande e notei também que algumas pessoas de maior tamanho ou ainda pessoas da diretoria, mesmo de menor tamanho, comiam primeiro. Motivo de risadas de vocês com certeza pessoal, mas infelizmente a mais pura verdade.
Pessoal, neste momento quero trazer vocês para um assunto importante: comportamento ingestivo. Traduzindo: como as vacas se comportam e quanto tempo permanecem comendo em determinada situação.
Alguns trabalhos conduzidos por alunos na UNOESTE/Presidente Prudente/SP, dos cursos de Zootecnia e Medicina Veterinária, sob nossa orientação, mostraram algumas diferenças no comportamento dos animais quando estão ingerindo em função de alguns tratamentos que vamos conversar a seguir.
Em um primeiro experimento, nosso orientado, o aluno Cleber Augusto de Macedo do curso de Medicina Veterinária, teve como objetivo avaliar o comportamento ingestivo no cocho de suplementação de volumoso (silagem no período seco de produção forrageira) de vacas leiteiras em um sistema de produção de leite em pastagens, no qual foram medidos o comportamento em função dos estádios de lactação, como seguem: início de lactação (0 a 90 dias da parição); meio da lactação (90 a 180 dias da parição) e acima de 180 dias da lactação/parição. Foram medidos também o tempo em ócio, no qual o animal está "sem fazer nada"; ingestão, no qual o animal está comendo no cocho; ruminação, onde o animal está ruminando; e ingerindo água, ou indo ao bebedouro.
Pode ser observado na Figura 1 que os tratamentos se diferiram no tempo de ócio e ingestão. Para minha surpresa, mas explicável, os animais com menos de 90 dias de paridas ou 90 dias de lactação permaneceram por maior tempo em ócio e os animais de 90 a 180 dias permaneceram por mais tempo se alimentando.
Sabe qual foi nossa explicação? Vacas recém-paridas (até 90 dias), em balanço energético negativo, tiveram baixa ingestão, uma vez que estes animais estão mobilizando gordura corporal. Por outro lado, esse achado também pode estar relacionado com o fato dos animais de 90 a 180 dias terem necessidade de comer para manter a produção, uma vez que não estão mais em balanço energético negativo. Já os animais com mais que 180 dias de lactação podem comer menos, ou mais pausadamente, sem muita “correria”, pois produzem menos leite.
Mais informações:
Figura 1 - Tempo (minutos) em permanecia das vacas nos diferentes comportamentos (ócio, ingestão, ruminação e água) em função do estádios de lactação (inicial, 0-90; intermediaria, 90-180; final >180 dias).
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Em outro experimento, o aluno Ewerton Barros Palmiro, do curso de Zootecnia, trabalhou com vacas leiterias também em sistema de produção em pastagem. Utilizou praticamente os mesmos parâmetros, porém avaliou o comportamento no pastejo dividindo os lotes em produção de leite. Dividiu os animais em: produzindo até 10 litros de leite (T1), com 14 litros de média (T2) e produção acima de 17 litros (T3).
Pode-se observar na Figura 2 que animais de produção média permanecem por mais tempo em ócio e ingerem menos capim. Uma possível explicação é quanto ao consumo de ração. A ração consumida pelos animais de baixa produção não era suficiente para suprir a exigência, então os animais precisam comer mais. Já os animais com maior produção comiam ração diariamente, sendo o suficiente para a produção e, assim, precisavam ingerir menos capim.
Figura 2: Comportamento de Ócio (O) e Ingestão alimentar (I), de animais em função da produção média menor que 10 litros (<10); média de 14 litros (<16) e acima de 17 litros (> 17) em minutos.
Estes são apenas dois dos trabalhos que estão sendo conduzidos, mas para mim já são mais que suficiente para concluir que os animais apresentam exigências diferentes e, por estes motivos, devem comer em lotes separados de produção e/ou afinidades.
Voltando às nossas histórias, lá na propriedade, os animais precisavam comer em lotes separados. Quanto ao evento, era necessário aumentar a comida, ou o "cocho" (que me referi como brincadeira), para atender melhor a demanda.
Senhores, enfim deixo uma informação: se os animais apresentam exigências diferentes, deve comer em lotes diferentes. Do contrário, a produção não será a almejada. Pense nisso.
Mais informações:
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