Deslocamento de abomaso: causa, prevenção e tratamento
Postado em: 15/03/2022 | 7 min de leitura
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O deslocamento de abomaso (DA) é um problema cada vez mais frequente nos rebanhos especializados em todo o mundo e, por isso, é muito importante entender suas causas, para conseguir preveni-lo. Além disso, é essencial saber como diagnosticar e tratar essa doença.
Na doença, conforme o próprio nome indica, o abomaso é deslocado de sua posição normal no assoalho abdominal. O animal acometido apresenta uma súbita diminuição do apetite, apatia, desidratação, isquemia periférica e, geralmente, diarreia. A ocorrência do deslocamento está associada a quadros agudos de metrite, cetose, laminite e mastite no pós-parto.
Os deslocamentos de abomaso causam perdas econômicas nos rebanhos leiteiros por meio de custos de tratamento, abate prematuro e perda de produção.
A condição é observada principalmente em vacas leiteiras de 3 a 4 semanas após o parto e sua incidência pode ser reduzida pelo bom manejo dos animais nas semanas pré e pós parto.
O abomaso
O abomaso é o estômago verdadeiro da vaca, localizado próximo ao assoalho da cavidade abdominal, no lado direito, abaixo do omaso (Figura 1). O rúmen e o retículo estão acima e à esquerda do abomaso.
Figura 1 - Anatomia dos estômagos da vaca - vista do lado direito
O deslocamento do abomaso à esquerda é responsável por 80-90% de todos os deslocamentos. Ocorre quando o ele se move para a esquerda da sua posição normal, ficando preso entre o rúmen e a parede abdominal esquerda. O alongamento resulta em constrição da entrada e saída do abomaso e leva ao acúmulo de gás.
No caso do deslocamento à direita, o abomaso sobe pela parede abdominal direita e fica preso acima do omaso. Assim como o deslocamento à esquerda, a constrição do fluxo de saída do abomaso resulta em acúmulo de fluido e gás. No entanto, além disso, o deslocamento à direita também pode levar à torção gástrica que tem sinais clínicos mais graves, consistentes com a dor abdominal (frequência cardíaca elevada e sinais de cólica). Esse deslocamento é uma condição mais séria do que o da esquerda e as taxas de recuperação são menores.
Dados da literatura sobre o assunto determinaram que a proporção entre os casos gira em torno de 70 a 90% de deslocamentos para a esquerda e 10 a 30% para a direita. Em mais de 50% dos casos, os sintomas surgiram entre o dia do parto e duas semanas após. Dentre as vacas estudadas acometidas com DA: 10,3% apresentaram partos gemelares; 74% apresentaram pelo menos uma outra doença.
Causas
Existem várias teorias que justificam esta mudança de posição. As mais citadas são:
- queda na ingestão de matéria seca (causada, por exemplo, pela metrite, mastite, etc.);
- acetonemia;
- consumo de dietas com grande quantidade de grãos e baixa quantidade de fibra efetiva;
- mudanças drásticas na dieta;
- partos gemelares;
- hipocalcemia.
Sinais clínicos
Os animais afetados param de consumir ração e ficam deprimidos. Os produtores frequentemente notam uma queda no apetite e redução na produção de leite. Os sintomas muitas vezes se assemelham a cetose com presença de cetonas no sangue, leite, hálito e urina.
Animais com deslocamento à direita podem apresentar sinais mais graves, incluindo cólica, frequência cardíaca elevada, fezes escassas e diarreia. Se ocorrer uma torção, podem até ter uma rápida piora no quadro, mostrando sinais de choque severo.
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Diagnóstico
Os sinais clínicos acima levarão os produtores a suspeitarem de um DA, embora mais investigações sejam necessárias para distingui-lo de um caso de cetose por exemplo. Por isso, se você suspeitar que um animal tem deslocamento de abomaso, vale a pena fazer com que ele seja examinado pelo seu veterinário o quanto antes, pois a rápida identificação e tratamento acelerarão a recuperação e minimizarão perdas de produção de leite.
Tratamento clínico
O objetivo comum nas abordagens clínicas é restaurar a motilidade do abomaso o suficiente para permitir a expulsão do gás e retorno espontâneo do órgão para sua posição fisiológica. Entretanto, alguns aspectos das terapias clínicas são valiosos adjuntos no tratamento cirúrgico, já que a cura espontânea, após tratamento clínico, é bastante limitada, principalmente no deslocamento à direita, alcançando índices inferiores a 5%.
É importante o exame clínico minucioso antes da instituição do tratamento, já que a terapia clínica é aconselhada em casos de deslocamentos à esquerda ou à direita leves, em que o animal não apresente distúrbios sistêmicos graves e mantenha o apetite para a forragem. Assim, deve-se oferecer feno ou forragem de boa qualidade, mas não grãos, podendo ser evitada a intervenção cirúrgica se o apetite e os movimentos do trato gastrintestinal voltarem à normalidade em poucos dias.
Deve-se ainda pesquisar a existência de doenças concomitantes (cetose, mastite, metrite, hipocalcemia, lipidose hepática, dentre outras) e tratá-las corretamente. A terapia clínica inclui, como primeira tarefa, a restauração do equilíbrio hídrico-eletrolítico, já que possíveis desequilíbrios de eletrólitos, principalmente a hipocalcemia, influenciam negativamente a utilização de protocolos com estimulantes de motilidade gastrintestinal. Dentre os mais utilizados no tratamento do DA, dilatação de ceco e íleo paralítico, encontram-se os agonistas colinérgicos, também denominados pró-cinéticos, como a metoclopramida, o betanecol, a neostigmina e a hioscina.
A técnica do rolamento também pode ser enquadrada como um tipo de tratamento clínico e é considerado o método mais simples. O procedimento consiste no posicionamento do animal em decúbito lateral direito com subsequente rolamento atingindo o decúbito dorsal. O bovino deve ser mantido nesta posição até não mais ser detectável o som metálico por meio da auscultação/percussão, indicando que a maior porção ou todo o gás foi expelido do abomaso.
A punção com agulha também é uma ferramenta útil com o intuito de esvaziar o órgão mais rapidamente. Após descompressão, a vaca deve ser cuidadosamente rolada até o decúbito lateral esquerdo e permitida a assumir decúbito esterno lateral e posição quadruperal. A realização de um novo exame clínico auxiliado pela auscultação/percussão confirma a ausência do som metálico. O procedimento é contra-indicado em animais com depressão respiratória e em bovinos com DA à direita ou gestantes, devido à possibilidade de ocorrência de torção gástrica e torção uterina, respectivamente.Assim, há um número razoável de casos em que a técnica não é eficiente e, nos casos em que há sucesso, a probabilidade de recidiva é relativamente alta.
Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico possui como principal objetivo devolver o abomaso à sua posição original ou aproximada e criar uma ligação permanente nesta posição. As técnicas mais utilizadas são, em ordem decrescente, a omentopexia e omento-abomasopexia, ambas pela fossa paralombar direita, e a abomasopexia pelo flanco esquerdo; entretanto, a utilização de outras técnicas e a sua frequência de uso varia de acordo com a opção e afinidade de cada cirurgião.
Figura 2: A cirurgia permite que o abomaso retorne à sua posição normal e ancorado no lugar (Fonte da imagem: https://www.nadis.org.uk/disease-a-z/cattle/displaced-abomasums/)
Prevenção do deslocamento do abomaso
O período de transição, que ocorre do final do período seco até 2 a 4 semanas pós-parto, é de risco para os deslocamentos do abomaso e poir isso, é essencial que a vaca seja manejada adequadamente ao longo desse período.
O risco desse deslocamento pode ser reduzido, garantindo um bom enchimento ruminal ao longo do período.Para isoo precisa-se garantir que os animais recebam quantidades apropriadas de forragem de boa qualidade.
Os pontos-chave a serem observados para reduzir o risco de deslocamentos do abomaso estão listados abaixo:
- Manejar para que a vaca não esteja muito gorda no parto (ou seja, EEC > 3,5);
- Forneçer alimentos de alta qualidade, com forragem de boa qualidade;
- Forneçer preferencialmente ração mista total;
- Manejar para que os animais consigam chegar à sua alimentação, certificando-se de que há bastante espaço no cocho;
- Bom manejo nutricional para minimizar as mudanças na dieta no final do período seco e no início da lactação;
- Doenças imediatamente após o parto podem reduzir o consumo de alimentos, por isso é importante prevenir e tratar prontamente doenças como febre do leite, metrite, mastite e retenção de placenta;
- Práticas de manejo devem ser destinadas a maximizar o conforto da vaca e minimizar o estresse.
Mais informações:
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Telefone: (19) 3432-2199
WhatsApp (19) 99817- 4082
Fontes consultadas:
Métodos de tratamento do deslocamento de abomaso em bovinos (https://bit.ly/2JrM5AS).
Displaced Abomasums - texto de Tim Potter BVetMed PhD MRCVS (https://www.nadis.org.uk/disease-a-z/cattle/displaced-abomasums/)
Deslocamento do Abomaso: qual a melhor opção de tratamento? (https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/deslocamento-do-abomaso-qual-a-melhor-opcao-de-tratamento-16706n.aspx)
Deslocamento de abomaso: parâmetros que auxiliam o diagnóstico (https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/deslocamento-de-abomaso-parametros-que-auxiliam-o-diagnostico-16670n.aspx)
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