A temperatura da vaca afeta na reprodução?

Postado em: 07/05/2019 | 3 min de leitura Escrito por:
Muitos rebanhos, em diferentes partes do mundo, sofrem com o estresse térmico. Essa condição causa diversos efeitos prejudiciais em vacas leiteiras, com impactos negativos na produção, reprodução, saúde e bem-estar dos animais.

Pesquisadores encontraram que, nos EUA, as perdas econômicas devido aos efeitos deletérios do estresse térmico chegam na casa dos US$ 900 milhões de dólares por ano.

No Brasil, país tropical com temperaturas médias altas, esse impacto pode ser ainda maior. De acordo com a Embrapa, o Brasil possui cerca de dois terços de seu território na faixa tropical do planeta, onde a temperatura média do ar fica acima de 20°C, e a máxima acima de 30°C em grande parte do ano.

Sabendo que a zona de conforto térmico das vacas oscila entre -5°C a 22°C, qualquer valor acima dessa faixa leva à condição de estresse calórico, uma vez que as vacas não conseguem dissipar o calor produzido em seu metabolismo.

Como a hipertermia afeta na reprodução de vacas leiteiras?

O aumento da temperatura corpórea da vaca causada pelo estresse calórico é chamado de hipertermia. A hipertermia acarreta uma série de consequências para a reprodução. Confira abaixo algumas delas:

1) Alteração do crescimento folicular

Vacas que apresentam aumento da temperatura corporal apresentam uma alteracao no crescimento folicular.

O período de dominância, ou seja, o período em que um folículo atinge um certo estágio fisiológico que é capaz de suprimir o crescimento dos menos desenvolvidos é reduzido.

Além disso, ocorre mais do processo chamado de co-dominância folicular, de forma que ao invés de ocorrer o que é típico na vaca de ter apenas um único folículo dominante, começa a surgir vacas com múltiplos folículos dominantes. Essa é uma das razões pelas quais se observa maior taxa de múltiplas ovulações em períodos de estresse térmico.

2) Redução da expressão dos sinais de cio

A hipertermia também reduz a expressão de sinais de cio, ou seja, a habilidade de detecção de cio fica comprometida. isso ocorre porque os folículos ovarianos tendem a ter uma menor produção de estradiol, que é o hormônio determinante em estimular a expressão e a sintomatologia de cio tipicamente observados em animais que estão no período de estro.

3) Redução na qualidade do ovócito

Além disso, há um comprometimento na função folicular, na qualidade do ovócito e na função uterina. A redução na qualidade do ovócito resulta em uma menor capacidade de ser fertilizado e produzir embriões saudáveis. Isso compromete a taxa de fertilização, bem como a manutenção da gestação, ou seja, aumenta o risco de perdas de prenhez.

Na prática, isso se traduz em:

- Menor proporção de vacas detectadas em cio;
- Queda na taxa de serviço;
- Redução na prenhez por inseminação artificial, por comprometimento da taxa de concepção;
- Aumento de risco de perda de prenhez.

Ou seja, como um todo, a reprodução fica altamente comprometida em períodos que induzem a hipertermia, ficando claro que sim, a temperatura da vaca influencia muito na sua reprodução.

Confira abaixo dados de um experimento que avaliou a taxa de prenhez através da técnica de curva de sobrevivência:

Curvas de sobrevivência para intervalo parto prenhez de acordo com a estação da 1a IA:


No experimento, algumas vacas foram inseminadas durante o período mais quente do ano, enquanto outras foram inseminadas durante o período mais fresco do ano. Fica claro no gráfico que a linha azul, do período termoneutro, cai muito mais rapidamente do que a linha laranja (estresse calórico) indicando que a prenhez ocorreu muito mais rapidamente no período pós-parto quando se avalia a linha azul do que quando se avalia a linha laranja. Ou seja, vacas que foram inseminadas durante o período termoneutro tiveram maior taxa de prenhez - 87% maior nesse experimento.

Como você lida com a questão do estresse calórico da vacas leiteiras? Faz muito calor na sua região?

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