Fornecimento de colostro via sonda esofágica: mitos e verdades
Postado em: 03/12/2020 | 5 min de leitura
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* Artigo publicado anteriormente no site MilkPoint.
Por Nathália Decaris e Viviani Gomes
O fornecimento de colostro para os bovinos é um fator essencial para o sucesso na criação de bezerras, visto que o tipo de placenta das vacas não permite a transferência de anticorpos para o feto. Assim, a transferência de imunidade passiva de anticorpos (principalmente IgG) pela ingestão do colostro é fundamental para a sobrevivência das bezerras nas primeiras semanas de vida. Um programa de manejo de colostro bem-sucedido é baseado no princípio dos 3 Q’s, que inclui o fornecimento para os recém-nascidos de um volume adequado de colostro, de alta qualidade e sem contaminação bacteriana, nas primeiras horas de vida (Figura 1).
Por Nathália Decaris e Viviani Gomes
O fornecimento de colostro para os bovinos é um fator essencial para o sucesso na criação de bezerras, visto que o tipo de placenta das vacas não permite a transferência de anticorpos para o feto. Assim, a transferência de imunidade passiva de anticorpos (principalmente IgG) pela ingestão do colostro é fundamental para a sobrevivência das bezerras nas primeiras semanas de vida. Um programa de manejo de colostro bem-sucedido é baseado no princípio dos 3 Q’s, que inclui o fornecimento para os recém-nascidos de um volume adequado de colostro, de alta qualidade e sem contaminação bacteriana, nas primeiras horas de vida (Figura 1).
Figura 1 – Pontos importantes no fornecimento de colostro para as bezerras
Levar em consideração o volume de colostro fornecido para os animais é de extrema importância, já que a atual recomendação é fornecer 10 a 15% do peso vivo (3 a 4 litros) da bezerra o mais rápido possível após o nascimento. Na prática, o fornecimento desses volumes apresenta limitações, já que podem haver dificuldades tanto na disponibilidade de colaboradores, quanto na recusa da bezerra em mamar.
A solução para agilizar o processo de colostragem seria utilizar a sondagem, especialmente em rebanhos grandes ou épocas do ano com grande número de partos. Godden et al. (2009) mostraram em seu trabalho que apenas 9 de 24 (37,5%) bezerras consumiram de maneira voluntária 3L de colostro fornecidos na primeira mamada, sendo necessário sondar o restante dos animais para a administração do volume restante.
Figura 2 – Sonda rígida (1) e flexível (2) para o fornecimento de colostro.
Fonte: Nathália Decaris
Figura 3 – Fornecimento de colostro via sondagem esofágica flexível em uma fazenda na Flórida com 6000 vacas em lactação e grande número de partos ao ano.
Fonte: Viviani Gomes
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O método de fornecimento de colostro tem grande influência na frequência de falhas na transferência de imunidade passiva. O estudo de Besser et al. (1991) comparou a eficiência de três métodos de fornecimento de colostro, que foram: aleitamento na vaca, fornecimento na mamadeira e fornecimento na sonda esofágica.
A maioria (61,4%) dos animais colostrados por meio de aleitamento na vaca não obtiveram a quantidade mínima de imunoglobulinas (IgG) necessárias para a proteção no período inicial da vida, sendo classificados com Falha na Transferência da Imunidade Passiva (FTIP) e com maior risco de doenças. O fornecimento de colostro utilizando mamadeira (aleitamento artificial) ou sonda esofágica resultou em menores taxas de FTIP (Figura 4).
Figura 4 – Porcentagem de animais com falha na transferência da imunidade passiva (FTIP) para os diferentes métodos de fornecimento de colostro.
Shah et al. (2019) demonstraram maiores concentrações de IgG no soro de animais colostrados com sonda e mamadeira em relação aos animais que receberam colostro através da mamada natural. O estudo também mostrou que o grupo colostrado na vaca teve menor ganho de peso no período de aleitamento e apresentou maiores índices de diarreia e pneumonia, quando comparados aos grupos colostrados na mamadeira e sonda esofágica (Figura 5).
Figura 5 – Porcentagem de animais que apresentaram diarreia e pneumonia para os diferentes métodos de fornecimento de colostro.
Apesar de ser um método promissor, o tema ainda é muito polêmico. Um dos receios dos produtores é que o uso da sonda não induza o reflexo da goteira esofágica, gerando deposição de colostro no rúmen e atraso na sua chegada ao intestino, local de absorção das imunoglobulinas.
Apesar da ausência na formação da goteira esofágica, o rúmen das bezerras recém-nascidas é muito pequeno e retém pouco volume. Assim, quando um grande volume de colostro é fornecido utilizando sonda esofágica, a maior parte irá passar do rúmen para o abomaso. Deste modo, se o colostro fornecido for de boa qualidade, a quantidade de IgG será suficiente para haver uma absorção adequada de imunoglobulinas (DESJARDINS-MORRISSETTE et al., 2018). Para comprovar isso, pesquisas demostraram que o fornecimento do volume de 3 litros de colostro por sonda não influenciou na absorção de IgG pelas bezerras quando comparados aos que mamaram na mamadeira (GODDEN et al., 2009; DESJARDINS-MORRISSETTE et al., 2018).
Figura 6 – Imagem radiográfica do fornecimento de colostro via mamadeira, com deposição no abomaso (A), e via sonda esofágica com deposição no retículo (B).
Fonte: SHARIFI et al., 2009
No quadro abaixo encontra-se o passo a passo para o fornecimento de colostro via sondagem esofágica.
Quadro 1 – Passo a passo para a sondagem de bezerras leiteiras
Figura 7 – Procedimento para a utilização da sonda esofágica
Figura 7 – Procedimento para a utilização da sonda esofágica
Fonte: Nathália Decaris
O fornecimento de colostro tanto via sonda quanto via mamadeira são métodos aceitáveis e que garantem melhor desempenho e sucesso na colostragem, quando comparados com a mamada natural. Esses métodos garantem altas taxas de sucesso, principalmente quando os animais são colostrados com 3 litros de colostro de alta qualidade na primeira mamada, devido a entrega de uma maior quantidade de IgG ao intestino.
Contudo, os produtores devem estar atentos ao fato de que uma proporção significante de animais não irá consumir voluntariamente todo o volume fornecido. Desta forma, a utilização da sonda esofágica torna-se uma maneira prática, rápida e segura de garantir o sucesso na colostragem dos animais, reduzindo a mortalidade e morbidade das bezerras e sem riscos para o animal.
Referências
BESSER, T. E.; GAY, C. C.; PRITCHETT, L. Comparison of three methods of feeding colostrum to dairy calves. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 198, n. 3, p. 419–422, 1991.
DESJARDINS-MORRISSETTE, M. et al. The effect of tube versus bottle feeding colostrum on immunoglobulin G absorption, abomasal emptying, and plasma hormone concentrations in newborn calves. Journal of Dairy Science, v. 101, n. 5, p. 4168–4179, 2018.
GODDEN, S. M. et al. Improving passive transfer of immunoglobulins in calves. II: Interaction between feeding method and volume of colostrum fed. Journal of Dairy Science, v. 92, n. 4, p. 1758–1764, 2009.
SHAH, A. M. et al. Effects of Various Colostrum Feeding Methods on Growth Performance and Immunity of Holstein-Friesian Calves. Pakistan Journal of Zoology, v. 51, n. 6, 2019.
SHARIFI, K. et al. Assessment of the acetaminophen absorption test as a diagnostic tool for the evaluation of the reticular groove reflex in lambs. American Journal of Veterinary Research, v. 70, n. 7, p. 820–825, 2009.
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