Como o estresse térmico pode afetar a produção de leite?

Postado em: 13/10/2023 | 4 min de leitura Escrito por: Luma Maria Souza Machado
Além da complexidade do manejo cotidiano das vacas leiteiras, os produtores enfrentam outro desafio muitas vezes subestimado: o estresse térmico. Em um mundo onde as oscilações climáticas e fenômenos como El Niño/ El Niña, entender a relação entre o bem-estar térmico das vacas e a qualidade do leite tornou-se uma necessidade imediata.

Nesse contexto, qual é o principal indicador para nos orientar se as condições de ambiente e manejo estão adequadas? As vacas! Como o calor e a umidade podem influenciar a produção de leite? Confira neste blog!

Como ocorre o estresse térmico?

O estresse térmico ocorre quando as vacas não conseguem eliminar o calor corporal de forma eficiente, levando-as a um desequilíbrio fisiológico que pode ser causado por altas temperaturas, alta umidade relativa ou uma combinação de ambos.

O estresse térmico pode também ser causado pelo frio extremo, mas hoje falaremos do calor e seus impactos na produção leiteira. E antes, é importante frisar que tanto o calor quanto o frio em excesso não beneficiam os animais, e que o ideal é proporcionar o conforto térmico aos animais, a fim de promover mais saúde e produtividade.

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Entendendo a fisiologia e o conforto térmico

Para compreender plenamente o impacto do estresse térmico, é vital entender como as vacas regulam a temperatura corporal.

Como animais homeotérmicos, as vacas têm uma faixa de temperatura, conhecida como zona de conforto térmico, onde elas não precisam gastar energia extra para manter a homeostase térmica.

Quando a temperatura ambiente se desvia desta faixa, as vacas iniciam mecanismos para dissipar ou conservar calor. Ao estarem fora dessa faixa de termorregulação, alguns impactos podem ser observados no rebanho.

Um dos primeiros e mais notáveis efeitos do estresse térmico é a redução na produção de leite. Quando sob estresse térmico, as vacas tendem a reduzir a ingestão de alimentos para minimizar a produção interna de calor resultante da digestão. Como resultado, elas recebem menos energia e nutrientes, o que leva a uma redução na produção de leite.

Outro fator observado está relacionado com o balanço hídrico. A alta temperatura leva ao aumento da transpiração e da respiração ofegante como mecanismos de dissipação de calor. Isso pode resultar em perda significativa de líquidos e eletrólitos. Para compensar, as vacas aumentam a ingestão de água, o que pode diluir o teor de sólidos no leite, reduzindo sua qualidade.

Além disso, o calor também pode reduzir a concentração plasmática de prolactina, um hormônio essencial para a produção de leite. A elevação do cortisol, outro hormônio relacionado ao estresse, pode suprimir a imunidade e afetar adversamente o metabolismo e a síntese de leite.

Ainda, embora o foco seja a produção de leite, vale destacar que o calor também impacta negativamente a eficiência reprodutiva das vacas leiteiras. Um ciclo reprodutivo comprometido pode resultar em intervalos mais longos entre as lactações, afetando a produção de leite a longo prazo.

Implicações econômicas e de bem-estar


Os efeitos negativos do estresse térmico não terminam na qualidade do leite ou impactos na eficiência reprodutiva. Perdas econômicas significativas são observadas devido à redução na produção de leite e potencial declínio no valor recebido pelo mesmo devido à sua composição alterada.

Além disso, o bem-estar das vacas também é uma preocupação. Vacas sob estresse térmico apresentam sinais de desconforto, como aumento da frequência respiratória, busca por sombra e redução da ruminação.

Como reduzir o estresse térmico?

É muito importante que os produtores implementem estratégias para reduzir o estresse térmico. Tais estratégias podem incluir:

1. Manejo ambiental:

Sombreamento: a instalação de estruturas de sombreamento em pastagens ou piquetes pode proteger as vacas da radiação solar direta, reduzindo o calor absorvido.

Ventilação: em ambientes fechados, como celeiros e estábulos, uma ventilação adequada é muito importante. O uso de ventiladores pode ajudar a circular o ar e promover o resfriamento por evaporação.

Resfriamento por água: nebulizadores ou aspersores podem ser usados para resfriar as vacas. A água pulverizada ajuda na evaporação e no resfriamento da pele. O uso de resfriadores de água no solo, por onde as vacas caminham, também pode ajudar a baixar a temperatura corporal.

2. Manejo nutricional:

Alimentação balanceada: durante períodos de calor, a dieta das vacas pode ser ajustada para ser mais densa em energia, compensando a redução na ingestão de alimentos.

Fornecimento de água: garantir um suprimento constante e abundante de água fresca é essencial. O consumo de água pode dobrar durante períodos de calor extremo.

Suplementos: eletrólitos e vitaminas podem ser adicionados à dieta para ajudar a compensar as perdas causadas pelo aumento da transpiração.

3. Alteração dos horários de manejo:

Realizar atividades que exigem mais esforço das vacas, como ordenha ou movimentação, durante as horas mais frescas do dia (início da manhã ou final da tarde) pode reduzir essa condição.

4. Monitoramento regular:

Usar tecnologias, como sensores de temperatura ou aplicativos especializados, para monitorar regularmente a temperatura e a umidade do ambiente, assim como a condição das vacas, pode ajudar a identificar rapidamente situações de estresse térmico e auxiliar em tomar medidas corretivas.

5. Programas de reprodução:

Considerando que o calor pode afetar a fertilidade das vacas, ajustar o programa de reprodução pode ser benéfico. Isso pode incluir a sincronização do estro ou a utilização de técnicas de reprodução assistida durante períodos menos quentes.


Por fim, a redução do estresse térmico em vacas leiteiras é um componente essencial para se obter um manejo eficiente do gado. Ao entender as necessidades das vacas e aplicar estratégias de manejo e inovações tecnológicas, é possível garantir não apenas a saúde e o bem-estar dos animais, mas também a continuidade e a eficiência da produção leiteira. Portanto, escute e observe as vacas!

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