O que é o leite A2?

Postado em: 08/08/2022 | 5 min de leitura Escrito por:
O leite é um alimento completo que traz muitos benefícios para a saúde dos consumidores. Um dos nutrientes mais importantes do leite é a proteína. A proteína do leite é dividida em duas categorias principais: caseína e proteína de soro de leite. A caseína, que compõe a maior parte da proteína do leite, pode ainda ser classificada como alfa, beta e gama caseína, das quais a beta-caseína é mais prevalente e contém proporções equilibradas de aminoácidos essenciais. A beta-caseína vem em doze variações genéticas, ou seja, A1, A2, A3, B, C, D, E, F, H1, H2, I e G. Dessas doze variações, as formas A1, A2 e B são as mais comumente encontradas. Assim, pode-se definir o leite A2 como um tipo de leite que possui apenas as β-caseínas do tipo A2. 
 
A proteína beta-caseína A1 e A2 difere uma da outra no sequenciamento de um único aminoácido na posição “67”. Para a proteína beta-caseína A2, em 67º lugar, “Prolina” está presente, enquanto para a proteína beta-caseína A1, em 67º lugar, encontra-se “Histidina”. Este polimorfismo é responsável por causar alterações nos padrões de digestão. A digestão de beta-caseína A1 por enzimas digestivas desenvolve um peptídeo bioativo de sete aminoácidos chamado “Beta-Casomorfina-7” (BCM-7) e, por outro lado, a digestão de beta-caseína A2 resulta em desenvolvimento mínimo e menor liberação de BCM-7. 
 
Vacas que possuem o genótipo A2A2, ou seja, que produzem leite apenas com a beta-caseína A2, a liberação de BCM-7 pé quatro vezes menor comparado com as vacas que possuem o alelo A1.
 
No leite A2 proveniente de vacas com o genótipo A2A2 é 4 vezes menor quando comparado com o leite que contém o alelo A1( Kaminski et al., 2007), pois a atuação das enzimas proteolíticas durante a clivagem dos aminoácidos é mais eficiente entre o aminoácido histidina e Isoleucina (no alelo A1), disponibilizando em maior quantidade a BCM-7 no leite com este alelo.

 
 
O peptídeo bioativo BCM-7, que é um opióide forte, foi relacionado a riscos à saúde, como doenças cardíacas, diabetes tipo I, síndrome da morte súbita infantil e desconfortos no sistema gastrointestinal. Além disso, o BCM-7 pode alterar o comportamento de pessoas com transtorno do espectro do autismo (TEA) e esquizofrenia, pois pode ser absorvido pelo cérebro.
 
História do leite A2 e aspectos da produção
 
Os pesquisadores ficaram interessados em entender os efeitos das proteínas e peptídeos, e a pesquisa foi iniciada para encontrar os efeitos dos peptídeos na digestão humana e na saúde geral. Na década de 1990, RB Elliott e CNS McLachlan e colaboradores relataram que o consumo de leite contendo uma determinada classe de proteína pode aumentar as chances de doenças coronarianas, diabetes tipo I e algumas outras doenças. A beta-caseína A1 foi encontrada no leite de vacas leiteiras nativas do norte da Europa, como Friesian, Ayrshire, British Shorthorn e Holstein, enquanto a beta-caseína A2 é encontrada no leite de vacas da Ilha do Canal, Guernsey e Jersey, nas raças do sul da França, Charolês e Limousin e no gado original Zebu da África.
 
Em outro estudo independente sobre beta-caseína, conduzido pelo National Bureau of Animal Genetic Resources, Kamal, Haryana (Índia), descobriu-se que o leite de raças indianas leiteiras, ou seja, Gir, Tharparkar, Rathi, Red Sindhi, Sahiwal, Kankrej e Hariana tinha beta caseína A2 presente. 
 
Neste contexto, foi fundada a The A2 Corporation na Nova Zelândia pelo Dr. Corran McLachlan, que começou inicialmente com a criação de vacas para produção de leite A2, verificando a proteína A2, e depois lançou o leite A2. Atualmente, o produto é vendido principalmente na Austrália, Nova Zelândia, China e Estados Unidos. 
 
Para que o leite A2 seja produzido, é preciso fazer a genotipagem dos animais, pois o gene que leva à produção da beta-caseina A2 (CSN-2) pode se combinar de forma a criar animais homozigotos (A1A1 ou A2A2) ou heterozigotos (A1A2). Dessa forma, para que se possa produzir esse tipo de leite é preciso saber qual o genótipo dos animais do rebanho.
 
As fazendas que já fizeram esse trabalho de genotipagem dos animais podem ser certificadas e produzir leite de vacas A2A2 no Brasil. A Agrindus é a marca com maior produção de leite A2 no País, mas não é a única. Outras marcas como Xandô, da Fazenda Colorado, e Piracanjuba também estão neste mercado, aumentando, dessa forma, a concorrência.
 
Em 2020, o mercado global do leite A2 e seus derivados foi avaliado em US$ 8 bilhões, segundo a empresa canadense Precedence Research. Para 2030, a projeção “consistente” é de US$ 25 bilhões.
 
Implicações para a saúde 
 
Vários estudos relataram sobre os benefícios do consumo de leite contendo beta-caseína A2, na prevenção de doenças como doenças coronarianas, diabetes tipo I e outras. No entanto, alguns outros estudos não viram uma relação muito estabelecida cientificamente entre a beta-caseína A1 e problemas de saúde humanos. Assim, recomendou-se mais estudos baseados em pesquisas e testes em humanos para estabelecer os efeitos do leite A1/A2 na saúde humana. 
 
Um estudo de 2004 revisou a beta caseína A1 e A2 e seus efeitos na saúde humana e apresentou um relatório à Autoridade de Segurança Alimentar da Nova Zelândia, que concluiu confirmou a hipótese de ocorrência de diabetes mellitus tipo 1 (DM-1) e doença cardíaca isquêmica (DIC) promovido pela betacaseína A1, mas também sugeriu a necessidade de mais testes em humanos. O autor também comentou que são necessários mais trabalhos de pesquisa e dados de testes em humanos para estabelecer a evidência de aumento das chances de autismo e esquizofrenia, por causa do consumo de leite contendo beta-caseína A1. 
 
Um outro estudo, de 2005, revisou a hipótese do leite A1 e A2 e concluiu que não há efeitos adversos muito convincentes da beta-caseína A1 na saúde humana. Este artigo de revisão foi publicado no Journal of European Journal of Clinical Nutrition.
 
Muitos outros estudos foram feitos e continuam sendo realizados para avaliar se há, de fato, benefícios para a saúde do consumo de leite A2, mas na realidade, ainda são necessários mais pesquisas com humanos para se chegar a conclusões referentes a essas doenças. O que se sabe, entretanto, é que esse tipo de leite pode ser uma alternativa para pacientes com sensibilidade no sistema digestivo, já que é mais fácil de digerir. 
 
Dessa forma, trata-se de uma opção a mais que pode ser interessante para algumas pessoas, mas não de um substituto do leite convencional, que é comprovadamente um alimento rico em nutrientes e altamente benéfico para a saúde.
 
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Fonte:

Leite A2: entendendo o que é, como é produzido e quem pode consumir

BANERJEE, S. A2 Milk: The Unknown Story About a Milk Protein. Acta Scientific Nutritional Health. Volume 2 Issue 3. Março de 2018. Acesso em 01 de ago de 2022. Disponível em: <https://actascientific.com/ASNH/pdf/ASNH-02-0057.pdf>

Leite A2 já tem mercado de R$ 100 milhões


 

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