Por que a incidência de doenças é alta em vacas leiteiras?

Postado em: 14/03/2019 | 3 min de leitura Escrito por:
Durante o período de transição, vacas leiteiras passam por uma fase de balanço energético negativo. Para sobreviver a este período, em que faltam energia e nutrientes, os mecanismos homeorreticos garantem que a lactação seja favorecida; ao mesmo tempo, a homeostase garante a sobrevivência do animal. Porém, com a alta demanda energética, é comum a ocorrência de doenças metabólicas que comprometem o sistema produtivo, reprodutivo e a sanidade do animal.

A falta de diagnóstico de doenças é um problema crônico em muitas fazendas. Isso ocorre, muitas vezes, por desconhecimento sobre como fazer o diagnóstico ou por falta de treinamento adequado de funcionários responsáveis pela saúde do rebanho.

No entanto, fazer o diagnóstico de doenças de forma correta e rotineira é um aspecto crítico em qualquer fazenda leiteira.

Uma outra prática comum em fazendas, mas que também prejudica muito no controle de doenças é não anotar os casos, ou seja, embora o diagnóstico seja feito, não há um método de captação de dados que permita compilar e acessar rapidamente as informações. Lembrando que informações de difícil acesso dificulta a tomada de decisão.

Por que a incidência de doenças é alta em vacas leiteiras?

Há uma série de razões para isso, incluindo componentes genéticos, ambientais e de elemento humano por falta de entendimento de como manejar os animais corretamente. Porém, existem algumas razões mais desafiadoras para isso. Uma delas é a seleção para produção de leite. Isso porque a prioridade desses animais selecionados é produzir leite, com seu corpo direcionando grande parte de sua energia para isso.

Para entender melhor, pode-se fazer uma comparação. Um ser humano médio possui uma exigência calórica de cerca de 2000-2500 quilocalorias por dia. No entanto, indivíduos que praticam atividades físicas intensas, ou seja, atletas de alta performance, têm exigências calóricas muito maiores, de 6000-8000 quilocalorias, ou seja de 2,5 a 3,5 vezes a exigência de um ser humano típico.

Da mesma forma, a vaca Holandesa média, que produz 11 mil quilos de leite, mas que chega ao pico de produção de 45 quilos de leite por dia tem uma necessidade de mantença de cerca de 15.000 quilocalorias de energia metabolizável. Já a energia calórica para a síntese de leite é de 55.000 quilocalorias. Assim, a necessidade diária total dessa vaca é de 70.000 quilocalorias de energia metabolizável por dia. Essa exigência representa quase 5 vezes mais do que uma vaca que não está produzindo leite precisaria.

Ou seja, a vaca média, que produz 11 mil quilos de leite (o que equivale a apenas um terço do potencial da raça Holandesa) tem em seu pico de produção uma necessidade nutricional que é muito superior a um superatleta humano. E é por isso que os problemas acabam ocorrendo.

Vacas que estão acima da média na produção, como uma vaca que alcançou o recorde de 104 quilos de produção de leite ao dia no pico de produção, precisa de 113.000 quilocalorias somente para a síntese de leite, somando no total uma demanda de 128.000 quilocalorias por dia, ou seja, 8,5 vezes a necessidade de mantença para suprir as suas exigências nutricionais.

Assim, fica claro que não é difícil ocorrerem erros no manejo dessas vacas de alta produção, que acabam levando a perdas. As perdas que são mais sensíveis a esses erros são aquelas que não são essenciais para a vida da vaca, como por exemplo, a reprodução, que tem uma escala prioritária menor e é a primeira a ser comprometida (leia mais sobre isso: Por que o estresse calórico afeta a reprodução de bovinos leiteiros?).

Como anda a saúde de suas vacas, especialmente as de alta produção? Sua fazenda tem um método eficiente de diagnóstico de doenças?

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