Já ouviu falar sobre a síndrome do intestino hemorrágico em vacas?

Uma doença intestinal emergente e altamente fatal em vacas adultas, a Síndrome do Intestino Hemorrágico (SIH), atrai a preocupação de produtores de leite, veterinários e nutricionistas, pois também é conhecida como a doença da morte súbita do gado leiteiro.

 

De acordo com a Dra. Angie Rowson, veterinária credenciada em laticínios que trabalha com a SIH há quase duas décadas, ainda não se sabe muito sobre a doença. Ela diz que os produtores nunca ouviram falar dessa doença, viram esporadicamente a SIH em suas fazendas ou estão constantemente lutando contra a doença.

 

A SIH é caracterizada como uma hemorragia aguda e às vezes maciça no intestino delgado, que pode subsequentemente levar à formação de coágulos sanguíneos intraluminais e obstrução. Além disso, as vacas afetadas sofrem os efeitos coletivos de perda de sangue, obstrução intestinal e necrose do intestino.

 

Como veterinária, o trabalho de campo de Rowson no centro da Califórnia permitiram que ela visse em primeira mão o impacto desta doença fatal em fazendas leiteiras, enquanto ela realizava várias necropsias de SIH em gado leiteiro. “Um rebanho com o qual trabalhei estava perdendo de oito a 10 vacas por mês da SIH”, diz Rowson. “Queríamos descobrir por que isso estava acontecendo. Não apenas por causa da perda financeira, mas também por causa da dor associada à doença.”

 

Apesar de ser uma doença fatal, pouca atenção ao financiamento e à pesquisa tem sido realizada. Muitos detalhes em torno da SIH, incluindo fatores contribuintes, continuam sendo um mistério. “É frustrante que ninguém nos EUA esteja fazendo novas pesquisas sobre a SIH”, acrescenta Rowson. “O problema é que não podemos recriá-lo em um laboratório, então não sabemos exatamente o que causa a SIH. Só conhecemos fragmentos e peças e que a causa é multifatorial ”.

 

O Dr. Scott Bascom, gerente de serviços técnicos da Phibro Animal Health, concorda que muito se desconhece sobre o que faz com que algumas vacas desenvolvam SIH e outras não. “Os casos de SIH são mais comuns após períodos estressantes no ciclo de lactação de uma vaca, como parto e início da lactação, quando as vacas estão sujeitas a vários estressores diferentes. Esses estressores podem reduzir a função imunológica”, diz Bascom. “O sistema imunológico desempenha um papel importante; se ficar comprometido, a vaca fica mais suscetível aos efeitos de fungos invasivos, toxinas e flora intestinal patogênica que podem levar à SIH. ”

 

 

Qualquer raça leiteira pode ser associada à SIH, embora a raça parda suíça tenha sido relatada como mais predisposta. Embora seja relatado que a SIH é esporádica, algumas fazendas leiteiras terão vários casos em poucos dias. Outros denominadores comuns de vacas com SIH são:

 

- Segunda lactação ou superior (embora casos de vacas em lactação mais jovens tenham tido SIH).

- Abaixo de 100 DEL (no entanto, as vacas geralmente estão entre 100 e 120 DEL quando diagnosticadas com SIH.).

- Produzindo maiores volumes de leite e consumindo maiores volumes de ração.

- Imunossuprimido.

- Rebanhos maiores e de maior produção.

 

Rowson afirma que muitas vezes as vacas com níveis de produção mais elevados consomem um grande volume de ração, e a dieta nessa fase da lactação costuma ser rica em proteínas e energia, mas pobre em fibras. Ela também observa que a alimentação está passando pelo intestino em um ritmo mais rápido. No entanto, pouca pesquisa foi conduzida para determinar o impacto que isso tem no desenvolvimento de SIH. “Uma pesquisa da University of California-Davis mostra que o sangramento começa na parede do intestino, mas não sabemos o que inicia esse processo”, afirma Rowson. "Talvez a dieta que a vaca está consumindo ou sua motilidade intestinal contribua?"

 

Embora seja mais comum no outono e inverno, a SIH pode acontecer em qualquer época do ano. Bascom diz que isso é provavelmente o resultado de as fazendas leiteiras  começando uma nova safra de alimentação juntamente com a fermentação inadequada. O gerenciamento da ração vai além da silagem, e a Bascom lembra aos produtores que o mofo pode ocorrer em outras rações. “As práticas de manejo da silagem na colheita e alimentação podem minimizar o crescimento de bolores”, diz Bascom. “Na colheita, coloque com a umidade certa, embale e cubra. Na alimentação, administre para reduzir o crescimento de fungos e evitar o fornecimento de silagem com bolor.

 

O diagnóstico de SIH com base apenas nos sinais clínicos geralmente não é possível, porque esses sintomas também podem ser encontrados em outras doenças. Os sintomas clínicos relacionados com SIH incluem:

 

- Depressão repentina.

- Desidratação.

- Diminuição do consumo de ração e produção de leite.

- Distensão abdominal e dor.

- Sem fezes ou com diminuição da quantidade de fezes escuras que contêm sangue coagulado

 

Um sintoma adicional associado à SIH são as extremidades frias. O exame retal pode revelar alças distendidas do intestino delgado ou até mesmo ausência de fezes, devido ao bloqueio. Frequentemente, a maioria das vacas parece estar com boa saúde antes do desenvolvimento desta doença, daí o nome de “doença de morte súbita”, pois muitas vezes o produtor encontra uma vaca morta.

 

Rowson observa que muitas vezes a SIH é subdiagnosticada ou super diagnosticada, e ela diz que o último costuma ser o caso. “Os produtores não realizam uma necropsia e atribuem uma vaca com morte súbita à síndrome do intestino hemorrágico”, diz ela.

 

Um diagnóstico adequado geralmente é feito por meio de necropsia, enquanto a ultrassonografia é capaz de fazer um diagnóstico definitivo de SIH apenas um quarto das vezes. A cirurgia exploratória é necessária para confirmar e tratar a SIH, mas pode ser cara e demorada, pois as vacas precisam ser levadas às pressas para uma escola de medicina veterinária.

 

Rowson observa que as estatísticas mostram que a escola de veterinária da Universidade de Wisconsin tem uma alta taxa de sucesso com o tratamento cirúrgico, mas eles também relataram uma alta taxa de recorrência, com quase 40% de recorrência nos primeiros 12 meses. “Não sabemos exatamente por que algumas vacas que sobrevivem à cirurgia inicial desenvolvem SIH novamente. Especula-se que pode haver uma predisposição genética para SIH ou talvez, práticas de manejo projetadas para alcançar alta produção de leite aumentam o risco de desenvolver SIH, e essas vacas estão voltando imediatamente para esse ambiente”, afirma Rowson.

 

 

Não faça suposições, aconselha Rowson. Quando uma vaca morre do que se acredita ser SIH, “abra-a”, diz ela. “Pode ser úlceras de abomaso ou outra coisa.”

 

Bascom concorda e diz aos produtores que os aditivos para rações não podem avaliar adequadamente se o produto está ajudando a minimizar a SIH se eles não souberem com precisão por que as vacas estão morrendo. “Muitas vezes, os produtores podem fazer uma mudança abrupta na ração, retirando um suplemento porque sentem que não está funcionando”, diz Bascom. “No entanto, sem realizar uma necropsia, eles facilmente poderiam estar lidando com uma causa de morte completamente diferente.”

 

Dicas de manejo recomendadas para ajudar a prevenir SIH:

 

- Certifique-se de que o alimento esteja na frente da vaca 22 a 24 horas por dia.

- Empurre a alimentação para cima com frequência.

- Certifique-se de que haja fibra suficiente na ração.

- Use um horário consistente para a alimentação, dia após dia.

- Limite a deterioração com silagem de haylage e milho, garantindo a fermentação adequada, embalagem correta, corte no nível de umidade ideal, usando um inoculante.

- Remova o mofo antes de fornecer aos animais

 

 

Tanto Rowson quanto Bascom incentivam a limitação de estressores que as vacas encontram. Além de monitorar a qualidade da alimentação, certifique-se de avaliar e gerenciar o ambiente da vaca para potenciais estressores. Movimentos excessivos das vacas que perturbam uma ordem social estabelecida podem fazer com que as vacas parem de comer. Minimizar a superlotação, focar no conforto da vaca e manter o estresse térmico sob controle pode levar a uma vaca menos estressada e, portanto, ajudá-la a manter um sistema imunológico mais saudável.

 

Além disso, é essencial minimizar os estressores aos quais as vacas estão sujeitas, especialmente na época do parto e nos estágios iniciais da lactação. Bascom observa que algumas vacas são mais suscetíveis aos efeitos do estresse do que outras, que podem afetar a função imunológica e predispor as vacas a desenvolver SIH, bem como outros distúrbios.

 

Vários aditivos para rações estão no mercado alegando estimular o sistema imunológico. Embora os aditivos alimentares possam ajudar a impulsionar a saúde imunológica, Bascom reitera que identificar e minimizar os estressores é fundamental. “Uma vaca pode viver no melhor ambiente e ainda estar exposta a fatores estressantes durante um ciclo normal de lactação, porque eventos como parto e seca são estressantes”, acrescenta Bascom. “Tente reconhecer e controlar os fatores de estresse, para que quando uma vaca passar por eventos estressantes, como parto, ela esteja melhor posicionada para lidar com esse estresse.”

 

Para entender melhor essa doença intestinal fatal que pode estar afetando seu rebanho, não faça suposições. Aprenda qual é a verdadeira causa por trás da morte de qualquer vaca e, a partir daí, gerencie os sintomas.