Milho é tudo igual? Conheça os tipos de milho utilizados na alimentação animal
Postado em: 11/02/2020 | 5 min de leitura
Escrito por:
Grande parte dos sistemas de produção de leite brasileira trabalha com silagem de milho como volumoso principal ou exclusivo. Além disso, nas dietas típicas brasileiras, a principal fonte de carboidrato dos concentrados é o amido do milho. Com isso, normalmente entre 50% e 90% dos carboidratos não fibrosos dessas dietas vêm do milho.
Dietas de vacas em lactação têm normalmente entre 35% e 40% de carboidratos não fibrosos, sendo esta a principal fonte de energia das dietas. Uma vez que o milho é a principal fonte destes carboidratos, a digestibilidade de seus grãos assume importante papel na definição do valor energético das dietas.
O grão de milho pode ser classificado segundo sua dureza. O endosperma do grão (região em que localizam os grânulos de amido) se divide em duas partes de composição semelhante no que diz respeito ao teor de proteína bruta e amido, mas totalmente distintas sob o ponto de vista de sua estrutura física, podendo ser vítreo ou poroso. Normalmente, o grão de milho tem os dois tipos de endosperma, e sua proporção é o principal fator de definição da dureza do grão de milho.
Baseado no tipo de endosperma do grão, podem-se dividir os híbridos de milho em duas categorias principais: milho dentado ou macio (predomina o endosperma farináceo ou poroso) ou milho duro ou "flint" (predomina o endosperma vítreo ou duro). Seguem abaixo algumas das principais diferenças dos dois tipos de endosperma:
- O principal fator determinante da estrutura física do endosperma é a ligação dos grânulos de amido com as proteínas do endosperma (zeínas). No endosperma vítreo ocorre abundante presença de matriz protéica aderida.
- Os grânulos de amido são poligonais e compactos no endosperma vítreo e esféricos e com espaços entre eles no endosperma farináceo;
- Corpos protéicos são maiores e mais numerosos no endosperma vítreo. Endosperma vítreo tem 3,3 mais #-zeínas que endosperma farináceo;
- As células são maiores e têm parede celular mais fina na porção farinácea;
- A matriz protéica no endosperma farináceo é extremamente resistente à colonização por microorganismos;
- O teor de proteína bruta do grão é independente da textura.
⇒ Quer aprender mais? Acesse o conteúdo completo do curso Silagens de planta de milho: novas perspectivas e tecnologias. O curso pode ser adquirido individualmente ou você pode optar por assinar a plataforma EducaPoint, tendo acesso a todos os cursos oferecidos (cerca de 180!) por um preço único.
Figura 1: Milho dentado com indentação típica no topo do grão e endosperma farináceo (a) e milho duro (flint) com topo do grão arredondado e alta proporção de endosperma vítreo (b).
A tabela abaixo mostra o impacto da textura do grão de milho sobre a degradação ruminal do amido. A redução da degradação ruminal alterou o local de degradação, levando maior quantidade de amido à fermentação no intestino grosso. Vale salientar que, como esse dado foi determinado em um experimento com novilhos, em vacas em lactação provavelmente a maior taxa de passagem agrave o problema, reduzindo ainda mais a degradação ruminal e aumentando a fermentação no intestino grosso.
Tabela - Influência da textura do grão de milho na digestibilidade do amido nos vários segmentos do trato gastro-intestinal de novilhos
A presença de amido é a razão primária para a ensilagem de planta inteira de milho. O amido, um carboidrato não-fibroso de degradação rápida no rúmen, confere valor energético à silagem de milho, reduzindo a necessidade de alimentos concentrados por litro de leite produzido. Uma silagem de milho de baixa energia não justificaria todo o transtorno agronômico de produção do milho silagem.
A planta de milho é uma planta tropical, tendo digestibilidade da fibra semelhante à de outras forrageiras tropicais. Pode-se dizer que milho com baixo amido e/ou com amido indigestível seria nutricionalmente próximo a um capim elefante, um milho sem espigas. A definição do estádio de maturação na colheita e do híbrido para ensilagem deve almejar a redução no teor de FDN, de degradação lenta no rúmen, e a maximização do teor de amido, este último, preferencialmente com a máxima digestibilidade.
A Figura 2 mostra a composição nutricional de uma boa silagem de milho. O que é mais importante, a digestibilidade da Fibra em Detergente Neutro (FDN) ou a digestibilidade dos Carboidratos não-fibrosos (CNF)? Ambos são pontos potenciais para atuar sobre a qualidade da silagem. No entanto, é importante frisar que a digestibilidade dos CNF está em torno de 90% e a digestibilidade da FDN está em torno de 40%. Nunca uma silagem de alta fibra será melhor que uma silagem de alto CNF.
Também tem que ser entendido que uma silagem com alto teor e/ou alta qualidade proteica e com alto teor de óleo, mas com amido indisponível, não faz sentido. Milho não é fonte de óleo ou proteína, milho é fonte de energia na forma de carboidratos. Proteína e gordura só seriam cabíveis como meta na escolha de plantas para ensilagem após a digestibilidade dos carboidratos, prevalentes na planta, estarem maximizados. Além do mais, gordura e proteína são facilmente suplementáveis em dietas de vacas leiteiras.
Figura 2: Carboidratos fibrosos (FDN) e não-fibrosos (CNF) representam cerca de 85% de uma silagem de milho. Quanto maior o conteúdo de CNF (o mesmo que baixo conteúdo de FDN) maior o conteúdo energético da forrageira. Silagem de milho não é fonte de proteína (PB) e gordura (Extrato Etéreo = EE).
Existem evidências de que quanto maior a vitreosidade do grão de milho, menor a degradabilidade ruminal do amido. A vitreosidade parece ser um bom parâmetro para selecionar híbridos de milho com alta digestibilidade ruminal do amido. A grande deficiência das silagens de milho brasileiras parece ser a baixa digestibilidade do amido no rúmen, resultado da dureza excessiva dos grãos. Um caminho para melhorar a qualidade das silagens de milho no Brasil seria o plantio dos poucos híbridos dentados disponíveis comercialmente.
Fontes:
Baseado em dois artigos publicados no site MilkPoint:
A dureza do grão de milho pode influenciar seu aproveitamento pelo animal, de José Roberto Peres (https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/a-dureza-do-grao-de-milho-pode-influenciar-seu-aproveitamento-pelo-animal-15869n.aspx)
Textura do grão define qualidade de híbridos do milho para ensilagem, de Marcos Neves Pereira (https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/textura-do-grao-define-qualidade-de-hibridos-do-milho-para-ensilagem-15945n.aspx)
Dietas de vacas em lactação têm normalmente entre 35% e 40% de carboidratos não fibrosos, sendo esta a principal fonte de energia das dietas. Uma vez que o milho é a principal fonte destes carboidratos, a digestibilidade de seus grãos assume importante papel na definição do valor energético das dietas.
O grão de milho pode ser classificado segundo sua dureza. O endosperma do grão (região em que localizam os grânulos de amido) se divide em duas partes de composição semelhante no que diz respeito ao teor de proteína bruta e amido, mas totalmente distintas sob o ponto de vista de sua estrutura física, podendo ser vítreo ou poroso. Normalmente, o grão de milho tem os dois tipos de endosperma, e sua proporção é o principal fator de definição da dureza do grão de milho.
Baseado no tipo de endosperma do grão, podem-se dividir os híbridos de milho em duas categorias principais: milho dentado ou macio (predomina o endosperma farináceo ou poroso) ou milho duro ou "flint" (predomina o endosperma vítreo ou duro). Seguem abaixo algumas das principais diferenças dos dois tipos de endosperma:
- O principal fator determinante da estrutura física do endosperma é a ligação dos grânulos de amido com as proteínas do endosperma (zeínas). No endosperma vítreo ocorre abundante presença de matriz protéica aderida.
- Os grânulos de amido são poligonais e compactos no endosperma vítreo e esféricos e com espaços entre eles no endosperma farináceo;
- Corpos protéicos são maiores e mais numerosos no endosperma vítreo. Endosperma vítreo tem 3,3 mais #-zeínas que endosperma farináceo;
- As células são maiores e têm parede celular mais fina na porção farinácea;
- A matriz protéica no endosperma farináceo é extremamente resistente à colonização por microorganismos;
- O teor de proteína bruta do grão é independente da textura.
⇒ Quer aprender mais? Acesse o conteúdo completo do curso Silagens de planta de milho: novas perspectivas e tecnologias. O curso pode ser adquirido individualmente ou você pode optar por assinar a plataforma EducaPoint, tendo acesso a todos os cursos oferecidos (cerca de 180!) por um preço único.
Figura 1: Milho dentado com indentação típica no topo do grão e endosperma farináceo (a) e milho duro (flint) com topo do grão arredondado e alta proporção de endosperma vítreo (b).
A tabela abaixo mostra o impacto da textura do grão de milho sobre a degradação ruminal do amido. A redução da degradação ruminal alterou o local de degradação, levando maior quantidade de amido à fermentação no intestino grosso. Vale salientar que, como esse dado foi determinado em um experimento com novilhos, em vacas em lactação provavelmente a maior taxa de passagem agrave o problema, reduzindo ainda mais a degradação ruminal e aumentando a fermentação no intestino grosso.
Tabela - Influência da textura do grão de milho na digestibilidade do amido nos vários segmentos do trato gastro-intestinal de novilhos
A presença de amido é a razão primária para a ensilagem de planta inteira de milho. O amido, um carboidrato não-fibroso de degradação rápida no rúmen, confere valor energético à silagem de milho, reduzindo a necessidade de alimentos concentrados por litro de leite produzido. Uma silagem de milho de baixa energia não justificaria todo o transtorno agronômico de produção do milho silagem.
A planta de milho é uma planta tropical, tendo digestibilidade da fibra semelhante à de outras forrageiras tropicais. Pode-se dizer que milho com baixo amido e/ou com amido indigestível seria nutricionalmente próximo a um capim elefante, um milho sem espigas. A definição do estádio de maturação na colheita e do híbrido para ensilagem deve almejar a redução no teor de FDN, de degradação lenta no rúmen, e a maximização do teor de amido, este último, preferencialmente com a máxima digestibilidade.
A Figura 2 mostra a composição nutricional de uma boa silagem de milho. O que é mais importante, a digestibilidade da Fibra em Detergente Neutro (FDN) ou a digestibilidade dos Carboidratos não-fibrosos (CNF)? Ambos são pontos potenciais para atuar sobre a qualidade da silagem. No entanto, é importante frisar que a digestibilidade dos CNF está em torno de 90% e a digestibilidade da FDN está em torno de 40%. Nunca uma silagem de alta fibra será melhor que uma silagem de alto CNF.
Também tem que ser entendido que uma silagem com alto teor e/ou alta qualidade proteica e com alto teor de óleo, mas com amido indisponível, não faz sentido. Milho não é fonte de óleo ou proteína, milho é fonte de energia na forma de carboidratos. Proteína e gordura só seriam cabíveis como meta na escolha de plantas para ensilagem após a digestibilidade dos carboidratos, prevalentes na planta, estarem maximizados. Além do mais, gordura e proteína são facilmente suplementáveis em dietas de vacas leiteiras.
Figura 2: Carboidratos fibrosos (FDN) e não-fibrosos (CNF) representam cerca de 85% de uma silagem de milho. Quanto maior o conteúdo de CNF (o mesmo que baixo conteúdo de FDN) maior o conteúdo energético da forrageira. Silagem de milho não é fonte de proteína (PB) e gordura (Extrato Etéreo = EE).
Existem evidências de que quanto maior a vitreosidade do grão de milho, menor a degradabilidade ruminal do amido. A vitreosidade parece ser um bom parâmetro para selecionar híbridos de milho com alta digestibilidade ruminal do amido. A grande deficiência das silagens de milho brasileiras parece ser a baixa digestibilidade do amido no rúmen, resultado da dureza excessiva dos grãos. Um caminho para melhorar a qualidade das silagens de milho no Brasil seria o plantio dos poucos híbridos dentados disponíveis comercialmente.
Mais informações:
contato@educapoint.com.br
Telefone: (19) 3432-2199
WhatsApp (19) 99817- 4082
Fontes:
Baseado em dois artigos publicados no site MilkPoint:
A dureza do grão de milho pode influenciar seu aproveitamento pelo animal, de José Roberto Peres (https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/a-dureza-do-grao-de-milho-pode-influenciar-seu-aproveitamento-pelo-animal-15869n.aspx)
Textura do grão define qualidade de híbridos do milho para ensilagem, de Marcos Neves Pereira (https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/textura-do-grao-define-qualidade-de-hibridos-do-milho-para-ensilagem-15945n.aspx)